As obrigações continuam a aproveitar as oportunidades do contexto macroeconómico

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(TRIBUNA de Andrew Lake, diretor de obrigações da Mirabaud Asset Management. Comentário patrocinado pela Mirabaud Asset Management.)

Como seria de esperar, os mercados desfrutaram de um longo e caloroso verão. Cabe destacar a capacidade de resiliência das obrigações para continuar a subir e manter o seu ritmo de escalada. Um facto que se torna especialmente surpreendente tendo em conta a ausência de um acordo de apoio ao desemprego por parte do Congresso dos EUA. Não obstante, não parece que esta situação tenha impactado no gasto a curto prazo, possivelmente pelas elevadas taxas de aforro nos EUA.

Duration ou risco de crédito?

Do nosso ponto de vista, o crucial foi o maior rendimento da duration face ao crédito. Nos últimos três anos, a duração foi o principal impulsionador dos rendimentos nos mercados de obrigações, já que as taxas de juro nos EUA (e a nível mundial) estão realmente a zero. Esta tendência viu-se impulsionada pelo forte apoio dos bancos centrais ao mercado de obrigações, provocando uma descida da taxa interna de retorno.

No contexto atual, com as taxas de juro em mínimos, existe um risco crescente de que, quando se consolide a recuperação económica e a inflação, aconteça uma subida do preço do dinheiro. O anúncio do presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos, Jerome Powell, sobre uma mudança de política que permitirá que a inflação aumente além do seu objetivo de 2% antes de aumentar as taxas de juro, não parece ter ajudado neste processo de mudança de tendência. Por isso, num contexto de inflação crescente e bons dados económicos, acreditamos que a rentabilidade da duração será inferior à do crédito.

Não obstante, se nos próximos meses acontecer uma desaceleração nos mercados de obrigações, a duration poderá dar melhor resultados do que o previsto, com uma apreciação considerável nos US Treasuries. Além disso, acreditamos que é provável que aconteça um rally no investment grade de melhor qualidade.

A estratégia da nossa equipa de obrigações da Mirabaud Asset Management, baseada num modelo de gestão ativa e flexível, tanto de duration como da exposição creditícia ao longo do ciclo económico, faz mais sentido do que nunca. Com base na situação do momento, decidimos ampliar a duration do nosso fundo Global Strategic Bond I cap. USD para 4,5 anos que normalmente se situa entre os 2 e os 4 anos. Isto deve-se em grande parte à posição em US Treasuries a 10 anos 1 ao 2-3% em dívida corporativa a 30 anos. Temos previsto aproveitar esta oportunidade para reduzir a duration à medida que entramos em 2021 e aumentar o risco creditício segundo se vá desenvolvendo o novo ciclo económico. Apesar das turbulências do mercado, a rentabilidade do fundo em 2020 e a 3 anos situa-se nos 2,6% e nos 8%, respetivamente, com volatilidades de 5,6% (2020) e de 2,9% (3 anos)*.

As nossas perspetivas

A crise do COVID-19 situou a Europa numa posição interessante, com uma tela de fundo macroeconómica inflacionistas no velho continente e, portanto, é provável que as taxas de juro se mantenham baixas. Além disso, o BCE não está a comprar high yield, o que gerou uma cerca discrepância de valores entre os EUA e a Europa, que podemos capitalizar.

Apesar do atual aumento de contágios na Europa, parece que as políticas de confinamento da população ajudaram a mitigar a situação, e não se preveem novos isolamentos tão severos como na primavera. Não obstante, em termos económicos a Europa está claramente atrás dos Estados Unidos. A debilidade do dólar americano traduziu-se em bons fluxos para os mercados emergentes, enquanto aconteceu uma deterioração dos fluxos para o crédito americano. Tudo isso motiva uma procura significativa de obrigações.

Em suma, os próximos meses serão marcados pela recuperação das economias europeias e, sobretudo, pelas eleições presidenciais dos Estados Unidos. O colosso americano deixará de olhar para o exterior para se centrar nos seus assuntos internos. As últimas sondagens confirmam que Donald Trump continua a encurtar distâncias face a Joe Biden, pelo que o resultado pode ser mais difícil de prever do que acreditamos.

*Rentabilidade dos últimos três anos: 5,42% (2017), -2,3% (2018) e 7,10% (2019)