As lições que os investidores podem aprender através do Modelo Yale

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Monique Kooijmans, Flickr, Creative Commons

As universidade norte-americanas (pelo menos 60 das que existem no mapa académico do país) conseguirar poupar, em conjunto, mais de 1.000 milhões de dólares. Estas poupanças foram canalizadas através de fundos de investimento conhecido como endowments, com destaque para as universidades de Yale, Stanford ou Harvard (ver mais aqui). Cameron Ho, membro da Fidelity Personal Investing (parte da Fidelity International) recorda quais foram as origens deste modelo de investimento e reflete sobre a idoneidade de imitar, em pequena escala, as suas estratégias de alocação de ativos.

"Até princípios da década de 1970, os endowments das universidades norte-americanas tiveram problemas para bater a inflação, porque apenas poderiam investir em ativos muito seguros, como as obrigações soberanas", começa Cameron Ho a sua história. Tudo se alterou com a aprovação, em 1972, da Lei de Gestão Uniforme de Fundos Institucionais, que permitiu a estes veículos investir em ativos de maior risco para obter retornos superiores. "Em 1985, David Swensen assumiu o papel de diretor de Investimento do endowment de Yale. Durante os 15 anos seguintes, fez crescer o fundo de 1.000 para mais de 7.000 milhões, superando mais de 96% de rendibilidade nos endowments", detalha Ho.

"Qual foi o segredo desta grande rendibilidade de Swensen? Para o especialista da Fidelity, foi a "sua abordagem radical na alocação de ativos, ao investir até 69% do fundo em alternativos, incluindo hedge funds, capital de risco e ativos imobiliários". Para se ter uma ideia deste resultado, Ho revela um dado sobre a alocação média dos fundos das universidades a alternativos: em 2006, estavam presentes em apenas 22% das carteiras.

"O Modelo Yale de Swensen gerou inúmeros imitadores que estavam ansioso por replicar o seu êxito", continua o especialista. A Grande Crise Financeira de 2008 alterou tudo: depois de anos com rendibilidades anuais de dois dígitos, o endowment de Yale perdeu entre junho de 2008 e junho de 2009, cerca de um quarto do seu valor. "Como resultado desta queda, Yale e o seus seguidores pararam a construção de projetos, houve congelamento dos salários, algumas demissões, dissolveram equipas desportivas e fecharam bibliotecas", indica o representante da Fidelity.

A boa notícia é que muitos dos fundos das universidades conseguiram recuperar terreno perdido durante o bull market pós crise. No entanto, o Modelo Yale voltou a estar sob suspeita, depois do Financial Times ter divulgado uma sondagem efetuada pela Associação Nacional de Diretores Executivos de Universidades, em que revelava que os endowments tinham perdido cerca de 2,9%.

"Não é dificil compreender a atração por alternativos. Seguindo a lógica, estes investimentos - por vezes exotéricos - podem proporcionar melhor diversificação e retornos mais altos em busca de oportunidades exclusivas, em vez de obrigações e ações comuns e correntes", refere Ho. A parte negativa desta estratégia, continua o especialista, é "enfrentar uma correção de mercado com uma carteira de ativos altamente correlacionados". A chave de tudo isto é que, embora se suponha que os ativos alternativos estão pouco correlacionados com as ações e as obrigações, "nem todos os alternativos cumprem estes objetivos".

O representante da Fidelity refere-se a um estudo efetuado por Martin L. Leibowitz e Anthony Bova, em que simularam a rendibilidade de uma carteira inspirada no Modelo Yale e a rendibilidade de uma carteira modelo (60% obrigações e 40% em ações) durante a crise de 2008. "Descubriram que a carteira de Yale se torna muito mais correlacionada com o mercado geral, do que uma carteira tradicional. Por outras palavras, uma carteira baseada no Modelo Yale perde mais dinheiro que uma carteira média de ações e obrigações durante uma correção", explica Ho.

Acrescenta, também, que as perdas durante as descidas de mercado "podem ser aceitáveis para um investidor de longo prazo que está disposto a enfrentar recessões, em nome de uma segunda vantagem dos alternativos, como os retornos mais elevados". No entanto, a experiência de 2008 mostra que "muitos endowments não se podem dar a esse luxo".

Por fim, Ho afirma que "a experiência de Yale é, igualmente, aplicável aos investidores individuais". Portanto, "tendo em conta a própria tolerância ao risco, o horizonte de investimento e a necessidade de gerar retorno é essencial, porque cada investimento alternativo serve propósitos diferentes".