As duas faces dos resultados trimestrais

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O aspeto importante dos períodos dos resultados empresariais não é se as empresas ganham ou perdem dinheiro. O que é realmente relevante é se as empresas ultrapassam as expectativas dos analistas e dão surpresas positivas ou, se pelo contrário, dececionam, ao não alcançar as estimativas do consenso do mercado. É frequente ver como muitas cotadas caem em bolsa imediatamente depois de prestarem contas por não alcançarem as expectativas dos analistas, apesar de apresentarem alguns lucros elevados. E o mesmo acontece ao contrário. Quando uma empresa ganha mais do que o esperado, geralmente as ações respondem com entusiasmo nas bolsas. É uma das leis que parecem ser cumpridas no mercado.

Todos os anos, na altura de prever o que as empresas vão ganhar no próximo ano fiscal, os analistas elaboram os seus relatórios. Com eles chega-se a um consenso de mercado. O problema é que estas estimativas tendem a ser muito otimistas. Independentemente do momento do ciclo em que estamos. Não importa se estamos num contexto de expansão económica, desaceleração ou recessão. As expectativas para o ano seguinte são grandes. É à medida que o ano decorre, que estas se vão adaptando, sobretudo num cenário como o de hoje em dia no qual a Europa está a viver, uma certa desaceleração do crescimento, devido às grandes dificuldades que a região enfrenta (Itália, Brexit, guerra comercial com os Estados Unidos…).

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“O sentimento arrefeceu. Vínhamos de um período em que tudo apontava para que a bolsa europeia tivesse um bom comportamento, tal como aconteceu. Contudo, agora a tendência não é que seja oposta, mas sim a de estarmos a começar a ver o ponto de inflexão. Também não quer dizer que vamos em direção a um cenário de recessão ou de queda dos lucros empresariais, embora vamos em direção a um cenário em que os resultados empresariais do terceiro trimestre vão dececionar os investidores, pois as expectativas eram muito grandes. A chave está na divergência que vai existir entre as estimativas do mercado e os resultados que serão eventualmente publicados”, explica Michael Browne, gestor da Legg Mason Global AM.

Na sua estratégia de long/short, Browne aproveita para construir posições curtas naquelas empresas que pensa que irão dececionar o mercado. No entanto, os resultados empresariais do terceiro trimestre podem surpreender devido ao facto de as expectativas, tanto dos analistas como dos investidores, estarem a ser rebaixadas de forma substancial, até ao ponto de: o que inicialmente poderiam ser más notícias, agora podem ser boas. A chave encontra-se no índice EuroZone Citi Economic Surprise (CESI), uma medida quantitativa que mede como os dados económicos se estão a portar, em relação às expectativas dos economistas. Quando o índice é elevado, indica que os dados publicados ultrapassaram as expectativas de consenso e vice-versa.

“Dada a quantidade de dados dececionantes que os mercados de ações europeias já absorveram, é provável que os dados não dececionem tanto como o fizeram anteriormente, agora que as expectativas são mais moderadas. Historicamente, uma melhoria no índice de surpresa a partir desses níveis foram boas notícias para as ações”, indicam da J.P. Morgan AM. Ou seja: embora o momentum dos dados económicos na Zona Euro tenha mudado significativamente, desde surpresas positivas no início do ano, a várias deceções nos últimos meses, o que originou uma moderação das expectativas de crescimento para 2018, agora poderão ser notícias não assim tão más no nível empresarial. A questão é saber se isto irá servir para que a bolsa europeia volte a ganhar impulso ou não.