Argumentos que justificam a necessidade de aplicar uma estratégia global nas obrigações

ETF_mundo_
Terra Nova Fondation, Flickr, Creative Commons

Os investidores de obrigações continuam a lutar contra as taxas de juro em mínimos históricos, sobretudo na Europa, onde existe o fenómeno das TIRs negativas. Neste contexto ao longo das últimas semanas, ainda antes de ter acontecido a correção no mercado de obrigações, algumas gestoras têm vindo a insistir nas vantagens de passar de um enfoque puramente regional para uma abordagem mais global. Uma dessas entidades é a J.P. Morgan AM, que se centra nas estratégias de curta duração, fazendo especial finca-pé na importância de passar de um enfoque mais europeu para uma estratégia global. “Obtém-se uma diversificação maior já que permite ao investidor manter exposição a diversos ciclos monetários e económicos; está-se investido num mercado de maior liquidez (10 triliões de índice global face aos 2,2 do índice europeu) com uma maior qualidade de crédito (AA/AA –face a A+/A), sendo oferecida uma TIR maior”, explicava Manuel Arroyo, diretor de Estratégia da J.P. Morgan AM para Ibéria.

Também existem as entidades que levam este argumento para estratégias que vão mais além da curta duração, como é o caso da BNY Mellon IM.  Mais quais as vantagens? Raman Srivastava, gestor de obrigações na Standish, apresenta como um dos principais pontos atrativos a divergência das taxas de juro. O especialista explica que enquanto as taxas de juro dos mercados desenvolvidos tendem a ir na mesma direção, a magnitude terá variações e nem sempre se moverá a par e passo. “Historicamente existe um alto grau de variação na correção e na volatilidade temporal das taxas internacionais ao serem feitas comparações entre elas, por exemplo relativamente às taxas de juro norte-americanas. Esta variação desigual na correção e na volatilidade pode causar diferenças importantes na rentabilidade interanual das obrigações de um país, possibilitando assim que os gestores ativos aproveitem a rotação do país para aumentar os lucros”, assegura.

Se no caso das estratégias de curta duração a J.P. Morgan mostrava quais eram as vantagens de diversificar fora da Europa, Srivastava faz a mesma comparação mas ao contrário, ou seja, dá relevo à importância de diversificar fora dos EUA. “Tal como sugerem os lucros de 2014, investir com cobertura na dívida pública da Europa periférica proporcionou o potencial suficiente para que se beneficiasse de mercados com maior rentabilidade, de economias estáveis ou com uma ligeira melhoria, e das novas medidas do BCE. No entanto muitas das vezes também surgem oportunidades mais subtis para gestores globais. Por exemplo, investir com cobertura em obrigações australianas face às obrigações do tesouro dos EUA proporcionou uma rentabilidade de 8,3% face aos 5,1% de 2014”, exemplifica. O mercado de obrigações norte-americano representa cerca de 40% das obrigações globais. Como contraponto o Reino Unido representa 6,4% do universo de obrigações globais. Por outra parte, os quatro maiores países da Europa continental representam 18,8%.

Os sectores externos ao mercado nacional podem ter divergências relevantes no seu rendimento no futuro em comparação com os que estão no mercado doméstico e vice-versa. Segundo Srivastava esta é outra vantagem de ter um conjunto de posições globais. “Por exemplo em 2014 as empresas europeias geraram um spread de rentabilidade de 2,44% face aos títulos soberanos, enquanto que as empresas norte-americanas produziram um spread de rentabilidade de -0,48%. A exposição ao sector não nacional não só implica uma diversificação, como também a capacidade de melhorar os lucros graças a um conjunto maior de oportunidades”, explica.

A isto há que acrescentar que à medida que a Fed comece a normalizar a política, alguns bancos centrais serão mais lentos do que outros na hora de retirar a política acomodatícia, o que na opinião de Standish limita potencialmente a queda nos mercados internacionais de obrigações. “Uma maior divergência na política do banco central pode propiciar, a nível global, um contexto de oportunidades para que os gestores ativos e táticos gerem uma maior rentabilidade ajustada ao risco”. No seu entender, os mercados de divisas também serão afetados, dado que o diferencial de diversificação em taxas governamentais a curto prazo costumam ser um factor importante na yield das divisas.