Após uma década de ouro para as obrigações... aproxima-se outra

Os investidores de obrigações desfrutaram de um longo período de retornos positivos despois da queda para níveis extremamente baixos das taxas de juro e rendibilidades das obrigações soberanas. A questão que se coloca, agora, é se existe margem para novos ganhos ou se se trata de algo esgotado. Segundo Nick Gartside, responsável de investimentos em obrigações da J.P. Morgan Asset Management, as obrigações ainda têm margem para dar surpresas positivas. Explorá-las, na sua opinião, é uma questão de seleccionar as melhores ideias a nível global. “Essa é a melhor maneira de aproveitar as oportunidades que oferecerá o mercado durante os próximos anos”, afirma.

Num artigo publicado pelo gestor, Gartside mostra-se convencido que, dentro de cinco e dez anos, quando o investidor olhar para trás uma década, "estará agradavelmente surpreendido com os retornos que alcançou nas obrigações”. Isto – a seu ver – não seria diferente do que se passou na última década, quando as obrigações ofereceram retornos impressionantes que poucos foram capazes de predizer. No entanto, o bom comportante que o gestor espera que o mercado de obrigações registe nos próximos anos produzir-se-á por factores bem diferentes daqueles que impulsionaram até agora esta classe de activos.

“Actualmente,e o tema principal é a dívida. Antes da crise financeira, as famílias, as empresas e os governos tinham acumulado extraordinários níveis de dívida, que nestes momentos se focam em pagar. Acreditamos que combater a dívida será o panorama financeiro dominante durante muitos anos: os ciclos de desalavancagem duram aproximadamente uma década e até ao momento apenas percorremos um terço do caminho”. Para Gartside, “o cenário de desalavancagem no qual se encontra a economia cria um ambiente muito positivo para a classe das obrigações”.

A isto há que acrescentar – indica – o facto dos grandes inimigos da dívida, entre os quais nomeia a inflação e as subidas das taxas de juros, estão, em boa medida, ausentes e vão permanecer assim durante algum tempo. “Como resultado, esperamos que os rendimentos positivos dos mercados obrigacionistas continuem no futuro, apesar dos investidores deverem ser mais selectivos”, assegura o responsável de obrigações da J.P. Morgan AM.

Neste aspecto, Gartside indica que os gestores de obrigações que vão obter bons resultados no futuro são aqueles que forem capazes de explorar todo o espectro global do crédito, desde 'investment grade' a 'high yield'. Segundo explica, os acontecimentos dos últimos anos demonstraram que centrar-se num único país ou sector implica uma alta concentração de risco. “A possibilidade de investir a nível mundial e em todo o espectro de riscos proporciona uma maior diversificação e, em teoria, maiores rendibilidades com menor risco”, afirma.

Para além do investimento tradicional, as obrigações de taxa indexada também permitem aos investidores gerir melhor os riscos inerentes que hoje em dia se encontram nos mercados desta classe de activos. Mas, quais são os riscos? Se um país ou empresa tem problemas financeiros, emite mais dívida. Como resultado, o seu peso no índice sobe. “Os investidores que acompanham o índice ou gerem as suas carteiras de maneira estricta com o mesmo serão obrigados a comprar mais. Quando os níveis de dívida são baixos, o problema é menor, mas em momento como o actual isto pode transformar-se rapidamente num ciclo vicioso, o que, em termos gerais, contribui para reduzir a qualidade da carteira”, assegura este profissional. “Em vez de estar limitado pelo índice, o investidor necessita ter a capacidade de fazer uma alocação dinâmica nos diferentes mercados esectores, os diamantes em bruto”.