Andrew Formica (Janus Henderson Investors): “Para investir a longo prazo é necessário pensar nos temas de investimento que queremos ter em carteira”

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O culminar da fusão entre a Henderson e a Janus Capital está perto de fazer um ano. Segundo refere Andrew Formica, CEO da nova Janus Henderson, “a fusão deu-nos a oportunidade de termos um maior envolvimento com os clientes a nível global e incorporar talento. Temos uma oportunidade para desenvolver novas estratégias de investimento que combinem a geração de alfa com uma boa relação com os clientes”.

A gestora tem feito um esforço nos últimos meses para compreender quais são as principais tendências que afectam o mundo. Chegaram, assim, à conclusão que não podem ignorar algumas de longo prazo, como é o caso da evolução da tecnologia ou das ciências relacionadas com a saúde e o seu impacto sobre o tratamento de doenças e na longevidade.

“Se vamos viver mais tempo, é necessário uma maior visão de longo prazo. E precisamos de alguém que seja capaz de efetuar pequenos ajustes e que preste mais atenção às fontes de criação de retorno presentes na carteira”, reflete Formica. Simultaneamente, o especialista refere que o contexto atual de taxas em crescimento, o final dos estímulos quantitativos e o risco político é propício para a gestão ativa: “Se nos centrarmos apenas nos custos, a gestão passiva vai ganhar sempre. Elegendo a gestão ativa, o que se procura é a criação de valor numa perspetiva de três a cinco anos”.

Mas só a gestão ativa não é suficiente. O especialista insiste na ideia da proteção de capital: “Os investidores estão a procurar uma maior segurança no investimento de capital. É necessário assegurar que a volatilidade da carteira é baixa, pelo que pode ser conveniente uma abordagem multiativos”.

O CEO acrescenta outra questão importante: “É preciso pensar também em que temas de investimento queremos ter em carteira. Existem algumas partes do mercado que oferecem um enviesamento estrutural de crescimento a longo prazo, como a tecnologia. Estes temas podem requerer ajustes táticos com o passar do tempo, mas mantê-los em carteira a longo prazo contribuirá para a geração de alfa”.

Assim, numa apresentação em Londres, a entidade focou-se em algumas das estratégias que abordam este tipo de temáticas, como é o caso do Janus Henderson Horizon Global Technology Fund – classificado como Blockbuster Funds People. Esta organizou um painel de especialistas para demonstrar a versatilidade destas megatendências, no qual participaram Richard Clode, gestor do fundo, Hamish Chamberlayne, responsável de ISR da entidade, Steve Weeple, gestor de ações globais, e Andy Acker, gestor na entidade.

Uma abordagem holística

Um dos principais temas em debate neste painel de especialistas foi a demografia, mais concretamente, o progressivo envelhecimento da população à medida que a esperança de vida melhora. Como constata Andy Acker, só nos últimos cem anos a esperança de vida aumentou, em média, 66%. “O envelhecimento da população mundial demonstra que as tendências demográficas vão ser um motor-chave do investimento em saúde: mesmo hoje, a população mais velha gasta três vezes mais em saúde e quatro vezes mais em medicamentos do que o resto da população”, explica.

Não obstante, os especialistas reiteram a necessidade de diferenciar as tendências demográficas, apesar de terem o aumento da esperança de vida como denominador comum. Steve Weeple fixa-se no caso africano: para os nascidos em 1955 no continente, a esperança de vida é de 37 anos. Por outro lado, para os recém-nascidos a esperança de vida é de 60 anos. No entanto, o aspeto que diferencia o continente africano dos restantes é a taxa média de natalidade, que se mantém em cinco filhos por mulher. “Portanto, existe uma combinação de população muito jovem com maior esperança de vida, e isto significa que existem muitas oportunidades de investimento”, refere Weeple.

“A demografia é também uma ideia de investimento em tecnologia”, afirma Richard Clode. O gestor dá um exemplo relacionado com o aumento da esperança de vida: “O envelhecimento da população está a provocar o incremento do investimento em novas  tecnologias que ajudem a satisfazer as necessidades da população mais velha, como por exemplo o desenvolvimento de carros autónomos para pessoas que já não se encontram em condições de conduzir”.

Para além das oportunidades, é necessário recordar que o envelhecimento da população mundial coloca uma série de desafios. Hamish Chamberlayne refere, como exemplo, dois temas bastante atuais, como a sustentabilidade dos sistemas de pensões e o aumento da despesa pública em saúde. “A longevidade supõem um desafio económico, uma vez que pode contribuir para aumentar a desigualdade: as pessoas dos estratos sociais mais altos terão acesso a melhores e mais dispendiosas terapias que as pessoas dos estratos sociais mais baixos”, comenta o especialista.

A abordagem ISR nesta tendência que está a ser aplicada pela Janus Henderson foca-se, segundo Chamberlayne, na procura de oportunidades de investimento entre as empresas que são capazes de desenvolver soluções que ajudem a enfrentar estes problemas, como, por exemplo, através da redução de custos ou aliviando o sector público de parte da sua carga.

Uma segunda abordagem em torno da questão do envelhecimento da população são os padrões de saúde da população. Andy Acker explica que a abordagem da seleção de produto se foca em dois grandes grupos de empresas: empresas inovadoras e empresas que possam tornar o sistema de saúde mais eficiente. “As empresas só têm dez anos para vender o seu fármaco antes que a patente termine. Os lucros continuam, mas as empresas têm pouco tempo para aproveitar isto. Às vezes, estas empresas são vistas como parte do problema e não como parte da solução. No entanto, muitas delas estão a desenvolver produtos centrados em reduzir algumas das doenças que são as principais causas de morte, como as doenças cardíacas ou o cancro”, explica o gestor.

“Acreditamos que as tecnologias deverão posicionar-se no lado correto da equação, desenvolvendo, por exemplo, cuidados para pessoas mais velhas a custos mais baixos”, acrescenta Richard Clode. Este destaca que, ainda assim, “não existem muitas aplicações por inventar que tenham um impacto disruptivo”, pelo que conclui expressando a sua esperança em que “a tecnologia ajude a enfrentar os problemas que surgem das tendências demográficas”.