Andre Themudo (BlackRock): “Size, value e momentum são os factores que melhor desempenho apresentam no atual momento de recuperação económica”

André Themudo
Cedida

Existente desde os anos 30, o factor investing é algo que não é novo, mas que nos últimos tempos tem vindo a ganhar importância enquanto estratégia de investimento. A BlackRock é uma das entidades que disponibiliza vários produtos focados no investimento em factores, uma aposta que ganhou outra dimensão com a contratação de Andrew Ang, que é considerado o pai do factor investing.

Andre Themudo, Diretor de vendas para Espanha e Portugal, numa conversa com a Funds People destacou que o factor investing é uma tendência de mercado. Por outro lado, ainda que na entidade destaquem a existência de, pelo menos, 2.000 factores, aqueles que maior procura e maior volume apresentam são o factor value e minimum volatility. “O truque é saber que factor melhor se comporta em determinado momento do mercado e, mais que isso, saber em que momento do mercado nos encontramos”, diz o profissional, acrescentando que “atualmente, é consensual que estamos num momento de recuperação económica”. 

Dito isto, embora a maior preponderância dos factores anteriormente referidos, os factores size, momentum e quality têm registado um crescimento importante. Não obstante, na entidade, o factor no qual estão mais positivos neste momento é o factor momentum. “Se compararmos a performance entre o MSCI World e o MSCI World Momentum, vemos que há uma outperformance do segundo oito pontos acima do índice global”, afirma Andre Themudo. Quanto ao mercado português, o profissional destaca que a procura que têm registado, em termos de investimento em factores, tem sido em minimum volatility e value. 

Outra das questões que tem vindo a ganhar importância é o factor investing no segmento de obrigações. Para o especialista, embora existam alguns produtos, “a verdade é que há muito menos factores de risco em obrigações do que em ações. Existe o risco de crédito, de subida de taxas de juro, entre outros, mas são muito mais amplos e abrangentes.

Liquidez

A liquidez do mercado de obrigações é um dos pontos que os clientes da entidade têm vindo a destacar. Mas, para Andre Themudo, não há razão para alarme e destaca que a percentagem existente em ETFs de obrigações não chega a 1%. Como tal, acredita que há espaço para crescer e que no futuro existirão cada vez mais produtos de factor investing de obrigações.

Sendo o factor investing um tema bastante em voga, embora sejam os clientes institucionais os primeiros a virarem atenções para estas estratégias, Andre Themudo acredita que este tipo de ETF são para todos os tipos de clientes. “No futuro, acredito que qualquer cliente de retalho vai deter um ETF smart beta”, adianta. Por outro lado, no que diz respeito aos ETFs em global, a entidade verifica quatro grandes tendências no mercado português: ETF de obrigações, factor investing, posições core e a utilização de ETF como substitutos de futuros ou derivados. “Em Portugal, 45% do que está investido em ETF da BlackRock está em obrigações. Como existe uma liquidez enorme em ETF de obrigações e é muito complicado aceder ao mercado primário, vemos uma transferência de do investimento direto para ETFs muito mais diversificados e abrangentes”, revela o especialista.

De facto, a liquidez no mercado de ETF em geral tem sido uma preocupação que tem vindo em crescendo, embora para o especialista seja necessário ter em conta que “a liquidez de um ETF é sempre, pelo menos, a mesma do mercado subjacente onde se encontra”.

A eterna batalha

Quanto à eterna batalha entre gestão ativa e passiva, Andre Themudo considera que “é uma discussão que a BlackRock tem ajudado a desmistificar”, sendo que a gestão passiva é vista como mais uma ferramenta para os gestores de ativos. Neste sentido, caracterizam o movimento de mercado verificado como um relógio de areia, dividindo aquilo que é alfa e aquilo que é beta.

Do lado do alfa (gestão ativa) observam fluxos de entrada para produtos em que existe um verdadeiro valor acrescentado por parte do gestor, ou seja, “vale a pena pagar uma comissão mais alta por um fundo de gestão ativa que oferece realmente valor”, refere o especialista. Já do lado do beta (gestão passiva), observam um fluxo de entrada para ativos de pura indexação: “é o caso do mercado acionista norte-americano, onde são poucos os gestores que conseguem bater o índice, e onde um fundo de gestão ativa cobra uma comissão bastante mais alta”, revela. Nas extremidades estão, portanto, o alfa e o beta. “Tudo o que está no meio é a chamada gestão de ativos mais tradicional, onde um cliente paga 2% por um fundo e o gestor não consegue gerar mais valias, ou então fundos com um tracking error com diferenças muito reduzidas relativamente ao benchmark”, explica o especialista. Resumidamente, os fluxos são entre a grande componente e as extremidades e “não tanto uma transação de fluxos de um para o outro”, esclarece.