Análise sobre a composição, tamanho, valorizações e liquidez do mercado de dívida emergente

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prettykittyo89, Flickr, Creative Commons

A dívida emergente converteu-se numa classe de ativos a que muitos investidores começaram a dirigir a sua atençãor. Foram dois os factores que contribuíram para isso. Em primeiro lugar, refiram-se as rentabilidades com vencimentos mais atrativos do que nos mercados desenvolvidos. Em segundo lugar uma qualidade de crédito dos ativos que – embora agora se tenha estancado – tem vindo a aumentar ao longo dos últimos anos. Mas o investidor deve estar consciente de que a dívida de mercados emergentes está longe de ser monolítica. A disparidade económica, a geopolítica, assim como o impacto da queda dos preços do petróleo e das matérias primas constituem os principais factores influentes que explicam as variações de rentabilidade registadas na dívida dos mercados emergentes.

Países como a Ucrânia, que se viu debilitada pela instabilidade geopolítica e pela desaceleração económica, e como a Venezuela, que conta com uma elevada exposição à descida dos preços do petróleo, obtiveram pobres resultados na segunda metade de 2014, se bem que a Turquia e a Indonésia experimentaram um bom comportamento graças a um contexto mais favorável. “Esta divergência entre países supõe uma oportunidade para a gestão ativa”, afirma a equipa de obrigações da Threadneedle (ver gráfico). Esta divergência traduziu-se numa maior volatilidade.

 

Segundo Urban Larson, especialista em obrigações emergentes da Standish, filial da BNY Mellon, no último ano e meio, esta classe de ativos tornou-se mais volátil, afectando sobretudo a dívida emergente em moeda local. Em momentos de crise e de grande volatilidade, a liquidez no mercado de dívida emergente em moeda local é mais sensível. “Normalmente é muito mais fácil negociar em moeda local, mas em dezembro a liquidez no mercado russo praticamente desapareceu. Não havia maneira de negociar o rublo e as obrigações locais”,  revela Larson. A isto há que acrescentar o mau comportamento das moedas. “As divisas emergentes perderam valor. A pior foi o rublo, cuja depreciação foi especialmente dramática. A tendência mantém-se: continua a ser positiva para o dólar e negativa para as moedas locais”.

Na dívida emergente emitida em dólares destaca o estancamento visto em 2014, na tendência da melhoria da qualidade creditícia dos ativos. Contrariamente ao que aconteceu na local currency, este mercado registou um comportamento positivo em 2014. Na dívida soberana não costumam existir problemas importantes de liquidez, embora se assista a disparidades de comportamento ao nível de países. “Existiu uma grande correlação no mercado e agora  existe muita divergência. Belize subiu cerca de 6% e o Uruguai quase 5,3%, enquanto a Venezuela caiu 16,7% e a Ucrânia quase 12%. Os países mais débeis são os exportadores de petróleo e os que são incapazes de se financiar com investimento estrangeiro. É o caso da Rússia ou da Venezuela. São países que necessitam de um contexto global de grande liquidez. Países importadores como Marrocos e Uruguai têm tido um melhor comportamento”. Por esse motivo, conhecer a composição do mercado de obrigações emergentes (em divisa local) e em hard currency é tão importante.

Na tabela seguinte mostra-se, em primeiro lugar, o peso de todos os países no índice de dívida emergente em moeda local e, em segundo lugar, a ponderação dos principais estados por emissões em hard currency. O índice de emissões em moeda local é constituído por 16 países, enquanto que o índice de dívida emergente em moeda estrangeira é formado por mais de 60. Na tabela pode ver os principais emissores. Fonte: J.P. Morgan

Mecardo de dívida em moeda local

Mercado de dívida em moeda estrangeira

País

Peso aprox. no índice

Rating

País

Peso no índice EMBI Global (%)

 

Brasil

10%

BBB-

México

12,35%

Malásia

10%

A-

Turquia

8,05%

México

10%

BBB+

Rússia

7,58%

África do Sul

10%

BBB-

Indonésia

7,40%

Polónia

10%

A-

Brasil

7,06%

Turquia

10%

BB+

China

5,06%

Indonésia

9,22%

BB+

Filipinas

4,74%

Colômbia

7,68%

BB+

Venezuela

3,82%

Tailândia

7,64%

BBB+

Colômbia

3,19%

Hungria

5%

BB-

Hungria

2,93%

Rússia

3,71%

BB-

Chile

2,73%

Roménia

2,53%

BBB-

África do Sul

2,40%

Perú

1,87%

BBB+

Libano

2,36%

Nigéria

1,77%

BB-

Casaquistão

2,35%

Filipinas

0,48%

BBB

Polónia

2,19%

Chile

0,11%

AA-

Perú

1,96%

Na tabela seguinte mostra-se o tamanho dos diferentes segmentos do mercado de obrigações emergentes com dados do final de 2014. São somas que fazem referência unicamente à dívida negociável nos mercados. Não inclui empréstimos bancários, créditos intergovernamentais nem financiamento de agências multilaterais. 

Classe de ativos

Índice

Valor

Percentagem

Dívida Soberana, moeda local

JPM GBI- EM GD

US$941 mil milhões

37%

Dívida corporativa, moeda local

BAML Local EM Non-Sovereign

US$143 mil milhões

6%

Dívida soberana, USD

JPM EMBI Global

US$651 mil milhões

26%

Dívida corporativa, USD

JPM CEMBI Broad

US$792 mil milhões

31%

Total

 

US$ 2,527 mil milhões

100%

Uma das perguntas que os investidores se fazem é se as valorizações  são atualmente o suficientemente atrativas para se assumir o risco de entrar no mercado. Steve Ellis, gestor de obrigações emergentes da Fidelity Worldwide Investment, considera que em 2015 as condições mudaram substancialmente para melhor. Apoia-se no gráfico abaixo para defender essa teoria. Nesse mesmo gráfico mostra-se que as valorizações são atrativas porque os spreads (linha roxa, em pontos base) aumentaram no segundo semestre do ano passado, acima do que seriam os fundamentais das economias emergentes, representadas neste caso pelo índice de compras do sector da manufactura (linha azul invertida), que ao estar ligeiramente acima de 50 indica um cenário económico ligeiramente expansionista.

O especialista apresenta quatro razões que o fazem ser otimista. “Para começar, o aumento das taxas e a ampliação dos spreads acrescentou alguma atratividade às valorizações de muitos dos segmentos das obrigações de mercados emergentes, como a dívida soberana em moeda estrangeira, divisas e duração em moeda local. Em segundo lugar, dada a escassez de emissões soberanas e a quantidade de vencimentos previstos para a primeira metade do ano, o contexto técnico é agora mais favorável. Em terceiro lugar, as taxas de incumprimento estão em níveis baixos e é provável que continuem assim, muito por causa da repressão financeira. Por último, os investidores continuam imersos num contexto mundial que oferece poucas fontes atrativas de rentabilidade. Neste contexto, a dívida de mercados emergentes, que já era uma classe de ativos relativamente atrativa, voltou a ser mais interessante por causa do recente aumento das taxas”.