Análise pré-eleições: uma retrospeção dos últimos anos no Brasil

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Eleições presidenciais são, no Brasil, a celebração de uma democracia consolidada, com mais de 140 milhões de eleitores. Neste ano, no entanto, as eleições têm uma importância especial, a possibilidade de recolocar o país no rumo do crescimento sustentado e de preservar as conquistas dos últimos 30 anos. Nos anos 80, O Brasil encerrou um período de 25 anos de ditadura militar, reconstruiu sua democracia e escreveu uma nova Constituição. 

Na década seguinte, o então Ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, lançou o Plano Real, que acabou com a hiperinflação e, eleito Presidente da República, em seus dois mandatos saneou o sistema financeiro, criou a Lei de Responsabilidade Fiscal, privatizou dezenas de empresas (entre elas a Telebrás e a Vale do Rio Doce), criou agências reguladoras e estabeleceu o que chamamos de tripé da política macroeconômica: câmbio flutuante, geração de superávit primário e o sistema de metas de inflação. Lula foi eleito presidente em 2002 e, através da “Carta ao Povo Brasileiro”, se comprometeu a seguir a politica macroeconômica de seu antecessor e de respeitar contratos. A alta nos preços das commodities e dos termos de trocas, consequência do forte crescimento chinês, permitiu a Lula estabelecer políticas sociais e de transferência de renda que tiraram mais de 30 milhões de brasileiros da pobreza. Durante o período de 17 anos entre a criação do Plano Real e o final do segundo mandato de Lula, a renda média da população brasileira cresceu nada menos que 4,7% ao ano (6% no período FHC e 4% com Lula)!

A era de Dilma

Quando a Pres. Dilma Rousseff tomou posse em 2011, encontrou um país completamente transformado. A taxa de desemprego havia caído de 12% em 2002 para 6%, o crédito bancário havia dobrado, de 25% para 50% do PIB, e o estímulo externo do passado havia se dissipado após a crise global de 2008. Naquele momento, o Brasil se encontrava em situação clássica de esgotamento de um longo ciclo, baseado no aumento do consumo e na ocupação da capacidade ociosa, sem que reformas estruturais ou estímulos aos investimentos permitissem expandir seu potencial de crescimento. A oferta de mão de obra estava totalmente ocupada, a infraestrutura precária elevava o custo-país, a inadimplência era alta e o país tinha baixa produtividade e competitividade.

Este foi o pecado original do governo Dilma: um erro de diagnóstico que, ao invés de aproveitar um período de bonança, onde o Brasil foi um dos três maiores receptores investimento estrangeiro direto, para investir em infraestrutura e melhorar sua produtividade, preferiu incentivar ainda mais a demanda, através de incentivos fiscais para automóveis e bens de consumo. Nesse sentido, obrigou os bancos públicos a elevar sobremaneira seu market share no crédito ao consumidor, manteve os juros básicos abaixo da taxa de equilíbrio (7,5% em 2012 e agora voltamos a 11%), e estabeleceu controle nos preços de gasolina e das tarifas de energia, que acabou por corroer as finanças da Petrobrás e desestruturar o setor Elétrico.

A lista de problemas

Esta “anabolização” da demanda levou à exacerbação dos desequilíbrios de oferta, gerando estagflação (combinação de crescimento pífio com inflação estruturalmente alta), piora da balança de pagamentos e corrosão das contas públicas. Este quadro se agravou quando o Governo passou a utilizar-se de manobras contábeis para embelezar os resultados fiscais, retirando confiança dos agentes econômicos. O modelo atual dá sinais evidentes de esgotamento: a inflação de 6,5% a.a. corrói a renda da população; a geração de empregos atinge o menor nível em 20 anos; e o PIB deve crescer apenas 0,2% em 2014. As manifestações populares de 2013 são reflexo da insatisfação da sociedade com situação econômica e com a baixa qualidade dos serviços públicos, sinalizando um desejo latente por mudanças.

Apesar da piora de percepção a respeito da solidez da economia brasileira, o Brasil possui elevadas reservas internacionais, uma classe empresarial dinâmica e o quinto maior mercado consumidor do mundo. Em 1993, 63% da população brasileira encontravam-se na economia informal, hoje são 70% os que têm contrato formal de trabalho, previdência social e acesso a credito bancário. O Brasil virou uma sociedade de classe média. Acreditamos que a volta da politica macroeconômica que transformou a nação nas duas décadas anteriores, associada a novas reformas microeconômicas, levarão a uma retomada abrupta de confiança no país e a uma grande onda de investimentos.

Aécio: o preferido dos mercados

O candidato Aécio Neves apresenta uma equipe experiente e que goza da confiança dos mercados, capitaneada pelo ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Seu partido, o PSDB, foi responsável pelas reformas estruturais dos anos 90 e sua eleição traria um impacto muito positivo nos preços dos ativos e uma oportunidade do Brasil a recuperar seu potencial de crescimento de longo prazo.

A presidente Dilma Rousseff, caso reeleita, terá maior dificuldade de reconquistar esta confiança. A equipe econômica atual sofreu um profundo desgaste e sua manutenção indicaria a continuidade das políticas atuais. Seria uma surpresa para o mercado, se o novo mandato viesse acompanhado de uma mudança contundente na direção de uma política econômica mais friendly com o setor privado, que abdicasse do atual modelo de desenvolvimento liderado pelo setor público.

Não acreditamos em guinadas bolivarianas e temos convicção da solidez das instituições no Brasil. O país já deu demonstrações inequívocas de maturidade e de solidez democrática, como no Impeachment de Fernando Collor e na recente condenação de Ministros, políticos e empresários envolvidos no escândalo de corrupção do “Mensalão”.

Seguimos confiantes no país e entendemos que o principal tema de discussão nessas eleições é se o Brasil retomará seu potencial mais cedo, ou mais tarde.