Análise do FF Iberia: o legado de Firmino Morgado

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A saída de Firmino Morgado da Fidelity Worldwide Investment põe um ponto final a um estilo de gestão muito pessoal, que o especialista tinha imprimido desde setembro de 2006, sobre um dos fundos mais populares da gestora na Península Ibérica: o FF Iberia; da Fidelity consideram que o novo gestor, Fabio Riccelli tem um estilo de gestão comparável. Este fundo que está encerrado a novas subscrições desde 20 janeiro de 2014, é o produto de ações ibéricas de maior tamanho dentro da sua categoria, com um património de 1.671 milhões de euros (com dados da Morningstar no final de agosto).

O FF Iberia investe num cabaz de empresas portuguesas e espanholas -sendo que os títulos portugueses compõem um máximo de 20% dos investimentos – usando  um estilo blend (que mistura valor e crescimento). Ainda que tenha como índice de referência o MSCI Spain, pode dizer-se que a principal caraterística da gestão levada a cabo por Firmino Morgado é precisamente, a sua independência face ao benchmark. Esta estratégia permitiu-lhe brilhar fortemente em 2012, ano em que encerrou com 20 pontos percentuais de vantagem sobre o Ibex 35. Isso foi conseguido com um tracking error de 20%. Apesar de Firmino Morgado contar com uma experiência de 25 anos de investimento, a sua experiência na gestão de carteiras teve início precisamente com o FF Iberia, há oito anos atrás. É por isso o gestor de um fundo-país mais antigo da Fidelity.

Um verão difícil numa trajectória brilhante

O verão de 2014 não foi fácil para este produto. Nesse sentido, em setembro, e, depois da saída de Firmino Morgado, da gestora explicaram as causas do mau comportamento do FF Ibéria, que passou do segundo decil no final de 2013, para o nono decil no final de agosto deste ano, com uma rentabilidade de 2,58% de 2014 (dados da Morningstar a 30 de setembro). “A evolução do fundo foi prejudicada pelas decepções protagonizadas por uma série de empresas e pela procura de segurança”, explicaram naquela altura da gestora, nomeando três responsáveis pelo comportamento: a queda do BES, os maus resultados da Jerónimo Martins e os profit warning das agências de viagens eDreams Odigeo e Bravofly Rumbo Group.

A longo prazo, no entanto, o fundo ofereceu uma rentabilidade acima do índice muito significativa. Segundo dados da Morningstar, nos últimos três anos o FF Iberia ofereceu uma rentabilidade de 18,3%, batendo em 4,8 pontos o índice de referência. A cinco anos, o retorno foi de 5,7%, três pontos mais do que o benchmark. Em 2007, 2009 e 2012 ficou no primeiro decil e em 2013 no segundo decil da sua categoria.

Firmino Morgado geriu o Fidelity Iberia entre setembro de 2006 e julho de 2014. Durante esse tempo, as ações da classe A do fundo ofereceram uma rentabilidade anual média de 6,08% face aos 1,68% do seu índice de referência (80% MSCI Spain e 20% MSCI Portugal), batendo em 97% os productos da categoria. Quando deixou a gestão do fundo no início de julho deste ano, o produto ainda se situava no primeiro percentil de rentabilidade. 

Como é que Firmino Morgado deixou a carteira?

Atualmente a carteira está posicionada em torno de três ideias de investimento: títulos de grande qualidade capazes de gerar rentabilidades constantes e previsíveis (Inditex, por exemplo), histórias de reestruturação (Endesa, Inmobiliaria Colonial) e empresas sensíveis à parte média e final do ciclo com modelos de negócio sólidos, como a Acerinox. Outra das apostas chave foi na banca espanhola e portuguesa (CaixaBank, Banco Popular e Banco Sabadell estão no top 10 de posições em carteira), apoiando a visão de Firmino Morgado quanto a uma recuperação económica forte na Península Ibérica.

A este nível importa realçar as fortes convicções do gestor, que chegou a afirmar em maio deste ano que o FF Iberia encerraria 2014 com um crescimento de dois dígitos, imitando os finais de 2013 e 2012. Tropeções à parte, o certo é que Firmino Morgado tem vindo a defender o cenário de recuperação e revalorização das bolsas ibéricas desde o princípio de 2012.

Em abril deste ano declarava que abandonava o seu posicionamento defensivo, afirmando-se “cada vez mais otimista”, por estar a encontrar um bom número de empresas que não estavam a descontar as perspetivas de recuperação. Posteriormente, em setembro do ano passado, pronunciava-se especificamente sobre a melhoria dos bancos espanhóis “através da consolidação, a separação dos ativos tóxicos e a recapitalização da banca, enquanto que a expansão do valor contabilístico e as iniciativas para cortar custos deveriam ajudar a melhorar as margens”. Naquela altura, o gestor português declarava que o esforço mostrado para reforçar o sector bancário, se estava a refletir numa grande melhoria dos custos de financiamento da banca, “o que poderá criar um ciclo de recuperação vicioso ao empurrar a confiança do investidor, das empresas e do consumidor”.

Os fundos, em quarentena

Até ao momento do anúncio da saída de Firmino Morgado, o fundo contava com um rating de cinco estrelas Morningstar, bem como um rating qualitativo silver. A empresa de análise já anunciou que colocou sob revisão tanto esta estratégia como o Fidelity European Agressive Fund (quatro estrelas e rating qualitativo neutral), também a cargo do gestor português, pelo que os ratings de ambos os veículos podem estar susceptíveis a mudanças no futuro. Da gestora explicam que a saída de Firmino Morgado acontece com total normalidade depois de 8 anos à frente da estratégia. Agradecem o trabalho desempenhado pelo gestor durante este tempo e veem Fabio Riccelli como o sucessor natural devido às similitudes no estilo de investimento que é apreciado em ambos os profissionais.