Amundi Funds Bond Global Aggregate: Visão macro e posicionamento do fundo

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Uma série de ameaças estão a contribuir para tornar pouco claro o ambiente de mercado, tornando mais difícil fazer um diagnóstico preciso da dinâmica em cena. Myles Bradshaw, co-gestor do Amundi Funds Bond Global Aggregate, analisa alguns dos perigos que considera mais significativos pelo seu impacto global. O primeiro passa pela resistência da OPEP em manter os níveis de produção: “o défice da Arábia Saudita é já de 15% em relação ao PIB e está a obrigar o país a vender ativos, não sendo o único país nesta situação. Nas últimas semanas observaram-se vendas de fundos soberanos de países produtores de petróleo do Médio Oriente. Estas vendas estão a ter um impacto sobre as obrigações de economias emergentes e poderão afetar a dívida corporativa com grau de investimento”. 

A outra leitura negativa da espiral de queda do crude vem dos EUA: o especialista da Amundi não ignora que os investidores de retalho norte-americanos têm estado a desfazer posições em high yield. Esta classe tem registado extraordinários fluxos de saída, reduzindo-se, por sua vez, as condições de liquidez. “As vendas protagonizadas pelos clientes dos EUA e pelos fundos soberanos são os grandes factors que estão a agitar o mercado”, conclui o gestor da Amundi. 

Este descarta que o risco de incumprimento se estenda a todo o universo de dívida corporativa: “vejo esta situação mais como uma história que afeta o sector energético. Está a ser incorporado no preço um incremento dos defaults, mas se se excluir o sector da energia, pode-se observar que o resto da high yield não está barato”. 

Adicionalmente, temos a questão da liquidez: Bradshaw indica que, ao verificar-se uma redução por questões de regulação dos inventários dos brokers, desde 2007, “o mercado é agora menos capaz de transferir os riscos, se há um grande vendedor, havendo menos capacidade de absorção dessa venda”. 

Para o co-gestor, o atual tom do mercado explica-se da seguinte forma: “no final, é tudo uma questão de incerteza”. E dá alguns exemplos: “a desvalorização do renmimbi em agosto, semeou a dúvida sobre se as autoridas chinesas o permitiam para ajustar a sua divisa ao dólar, num passo no seu processo de liberalização, ou para combater uma conjuntura negativa. Adicionalmente, é fácil compreender porque continua a cair o petróleo e porque esta queda já não é positiva para a economia mundial”. A resposta óbvia do mercado, segundo Bradshaw, tem sido voltar a uma fase de risk-off: “o que o mercado está  a fazer é vender ativos arriscados, que em consequência estão a ficar mais baratos. Por outro lado, o mercado está a comprar ativos seguros, que estão caros. Nesta conjuntura, é tão necessário estudar as valorizações como os fatores técnicos”. 

Visão macro e posicionamento do fundo

Bradshaw expõe as principais convicções da equipa de gestão do Amundi Global Aggregate e o posicionamento atual da carteira. Em primeiro lugar, aponta que a equipa tem uma visão macro diferente da mais consensual a respeito da evolução da economia norte-americana. Afirma que é acessível que os EUA apresentem um crescimento de 2% em 2016, grças à descida do desemprego, e também por causa de um tímido crescimento dos salários: “acreditamos que a economia está suficientemente forte para resistir às subidas de taxas de juro, por causa da descida do desemprego, mas o risco é que os salários acelerem e causem um pico de inflação”, esclarece. 

No que se refere à normalizaçãoo da política monetária por parte da Reserva Federal, Bradshaw indica – usando como referência as projeções dos membros do Federal Open Market Comitee (FOMC) – que a Fed prevê quatro subidas de taxas em 2016, até 1,25%, e outras três ou quatro subidas em 2017. “No entanto, o mercado incorpora no preço um ciclo muito distinto”, acrescenta. Por isso, realiza a seguinte reflexão: “O consenso do crescimento económico a nível global baixou ligeiramente em janeiro. Mas ao mesmo tempo os mercados começaram a contemplar de forma muito mais forte a probabilidade de uma recessão, reflectindo nos preços nenhuma subida  de taxas por parte da Fed em 2016 e apenas uma em 2017”. Neste contexto, os especialistas da Amundi são da opinião de que “a Fed subirá as taxas mais do que o mercado espera”.

Bradshaw também descarta o risco de hard landing na China (na Amundi esperam um crescimento de 6% este ano), bem como a possibiliade de que “a desaceleração da China afete os EUA, porque o país é uma fonte de oferta e não de procura. A economia norte-americana dispõe de muitos drivers internos de crescimento”. Adicionalmenre, o gestor comenta que “a Zona Euro entrou numa recuperação cíclica, mas sem se entusiasmar: contudo teremos na Europa muitos anos de taxas negativas e os investidores precisam de se adaptar”.

Neste contexto, a equipa gestora acredita que a diversificação continua a ser chave para proporcionar proteção aos investidores, assim como a ênfase no investimento em ativos muito líquidos. A principal aposta do Amundi Global Aggregate continua a ser a dívida corporativa com grau de investimento (o fundo deve investir pelo menos 80% da sua carteiraem crédito IG). 

Na parte da dívida soberana, a principal aposta do fundo passa pela compressão dos spreads da dívida periférica, com preferência por dívida italiana e portuguesa. São vários os fatores que suportam esta tese de investimento: “as compras de dívida periférica por parte do BCE contribuem para reduzir a volatilidade. Acreditamos que são uma boa fonte de rendimentos e que o único perigo vem do risco político. No caso de Espanha, pensamos que o risco passa pela constituição de um governo que está disposto a reverter o trabalho feito pelo BCE. Tanto para o caso de Espanha como o da Irlanda (que vai a eleições este ano) prevemos um aumento do populismo e a adoção de políticas fiscais mais acomodatícias, mas sem chegar ao extremo da Grécia”. 

Finalmente, no que se refere às divisas, iniciaram o ano de 2016 mostrando a sua visão negativa via posições curtas sobre moedas vinculadas ao abrandamento do crescimento da China e aos preços da matérias primas, como o won coreano, o renmimbi e o dólar tailandês, assim como os dólares canadiano, australiano e neo-zelandês. “Durante o mês de Janeiro, fechámos parte dessas posições curtas em divisas de matérias primas para realizar mais-valias, dado os mínimos que atingiram (o dólar canadiano, por exemplo), mas mantemos a visão estratégica negativa sobre essas moedas”, conclui Bradshaw.