Alina Donets (Allianz GI): “Investir em água em períodos de perspetivas económicas incertas pode ser um investimento muito atrativo”

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De visita a Lisboa, Alina Donets, CFA, Vice-President, Portfolio Manager/Research Analyst da Allianz Global Investors, falou com a Funds People sobre o fundo cujos destinos tem a seu cargo, o Allianz GI Global Water Fund. A gestão deste produto é partilhada com Andreas Fruschki, CFA, diretor de Equity Research - Europe, Senior Portfolio Manager, também ele com uma vasta experiência na indústria.

Na visão da equipa que gere o Allianz GI Global Water Fund há três problemas principais em redor da água: a escassez, a poluição e o acesso – ou a falta dele – à água. Há ainda um quarto problema que está cada vez a ganhar maiores proporções: as alterações climáticas. “Agora o que vemos é uma tensão crescente causada pelas mudanças climáticas. Após analisarmos as questões em torno da sustentabilidade da água e da gestão de recursos hídricos, construímos uma estratégia que ajuda a aliviar essas tensões e a resolver algumas das crises hídricas”, começa por dizer a especialista.

Por conseguinte, o fundo investe em ações de empresas que fornecem tecnologias para melhorar o fornecimento, a eficiência ou a qualidade da água. “Fazemos isto ao investir em empresas que realmente têm uma solução ativa para um dos três principais problemas ou ajudam a atenuar a pressão das mudanças climáticas”, conta Alina Donets, CFA. Além disso, os gestores alinham a filosofia do fundo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (ODS) ao selecionar as metas subjacentes em cada um dos ODS que abordam a sustentabilidade dos recursos na perspectiva da água. “Procuramos maximizar a nossa exposição a empresas que acreditamos que realmente contribuem para alcançar estas metas. Concentramo-nos muito no ângulo da sustentabilidade de uma perspetiva social ou ambiental”, refere a especialista.

No que toca à geografia, o fundo concentra a maior parte do seu investimento (60%) nos Estados Unidos. Os restantes 40% são distribuídos entre a Europa (aproximadamente 35%) e a Ásia. “Dado que temos um elevado grau de exposição aos EUA, o debate e o ambiente político nesse país têm um impacto bastante substancial no nosso desempenho”. Alina Donets, CFA, refere também que nos últimos dois anos notaram uma grande influência das incertezas políticas no sentimento de mercado, o que causou muita volatilidade nas empresas, especialmente no fim de 2018 quando se verificou um sell-off no universo de empresas expostas ao ambiente político e ao mercado dos EUA. “Vimos isso como uma oportunidade para potencialmente investir em empresas interessantes com avaliações muito baixas, mas infelizmente isto afetou o nosso desempenho. 2019 trouxe um ambiente mais estável”.

O universo do investimento em água

Alina Donets explica que investir em água em períodos de perspetivas económicas incertas pode ser um investimento muito atrativo uma vez que, a curto prazo, pode haver alguma volatilidade nas ações das empresas devido às preocupações macroeconómicas. Esta volatilidade traz oportunidades. “A longo prazo empresas relacionadas com este tema são menos cíclicas porque o investimento está relacionado com a infraestrutura ou com a eficiência da água, não com ciclo económico. Está também relacionado com as questões da sustentabilidade e com as preocupações ambientais que vieram para ficar e que são seculares. Portanto, quando vemos uma deterioração das condições económicas, para nós isso significa que estamos perante um período em que os investimentos em água terão um desempenho ainda melhor.

Nas palavras da profissional, o universo da água é relativamente estável e, naturalmente, o número de empresas também. “Vemos um aumento do número de empresas puras no sentido em que cada vez mais empresas tendem a focar-se nos seus negócios relacionados com a água. Em alguns casos também vemos grandes conglomorados a dividirem-se e a criarem negócios mais focados na água. Penso que isto só reflete o potencial do mercado”, sublinha a cogestora do Allianz GI Global Water Fund. “Acho que isso reflete o potencial deste mercado”, acrescenta.

A pureza das ações

Os gestores do Allianz GI Global Water Fund focam-se na pureza dos negócios já que para eles é muito importante saber até que ponto as empresas estão realmente a apoiar os ODS. “No que diz respeito à pureza, observamos a qualidade das operações, o tipo de produtos ou serviços que as empresas fornecem. Em alguns casos, temos empresas com um valor muito alto de receitas ligadas ao negócio da água, mas as suas soluções não melhoram a sustentabilidade da gestão de recursos hídricos”, conta Alina Donets.

A título de exemplo, a especialista fala das empresas que fornecem dispensadores de água para os escritórios. “Não consideramos que seja uma solução sustentável a longo prazo. Investimos em empresas que, por exemplo, melhoram a qualidade da água da torneira e, portanto, reduzem a quantidade de plástico que está a ser distribuído e consumido, o que melhora a eficiência e reduz a poluição”.