Quatro razões pelas quais a dívida corporativa emergente ainda está subvalorizada

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swgn, Flickr, Creative Commons

As obrigações emergentes estão a converter-se numa classe de ativos para a qual muitos investidores estão a começar a olhar. Trata-se de uma tese de investimento que está a ser suportada pela descida das yields no universo desenvolvido - que se estão a tornar negativas em vencimentos cada vez mais longos – mas também pela melhoria experimentada pelas economias emergentes, países nos quais se têm visto claros sinais de estabilização dos indicadores macro, que apontam para um diferencial de crescimento cada vez mais amplo relativamente ao mundo desenvolvido. E, segundo Rodica Glavan (Insight), os investidores estão a perder esse comboio ao deixaram passar oportunidades significativas devido a ideias falsas, mas enraízadas, sobre esta classe de ativos. Na opinião da BNY Mellon existem quatro razões pelas quais a dívida corporativa emergente ainda está subvalorizada.

Primeira: é uma classe de ativos que irá florescer

Para Rodica os investidores não estão plenamente conscientes da quantidade de oportunidades disponíveis no segmento. “O mercado de dívida corporativa de mercados emergentes tem protagonizado um forte crescimento desde a crise financeira global, e atualmente chega a cerca de 1,7 biliões de dólares. Com isso eclipsa os mercados de crédito high yield europeu e norte-americano, e supera em mais do dobro o mercado de dívida investment grade denominada em libras esterlinas. A classe de ativos abarca mais de 70 países e mais de 970 emissores corporativos num amplo leque de sectores, o que dá relevo à sua natureza global e à sua diversidade”.

Segunda: melhoria da liquidez e do perfil de risco de crédito

Tal como recorda o especialista, uma proporção significativa das obrigações corporativas emergentes (63%) têm a classificação de investment grade, por causa dos medos dos investidores em torno da qualidade creditícia da classe de ativos. “As condições de liquidez deste mercado têm continuado a melhorar, impulsionadas pelo aprofundamento dos fundamentais e por uma base de investidores cada vez mais global: esta maior profundidade da base investidora tem estimulado o volume de emissões das empresas emergentes em múltiplos prazos de dívida, e à medida que os volumes e o tamanho das emissões cotadas têm aumentado, a liquidez no sector corporativo emergente tem melhorado”.

Neste sentido, uma parte considerável das empresas de muitos mercados emergentes tem elevado o seu financiamento em dívida em divisa estrangeira – sobretudo em dólares – ao aumentar a profundidade dos seus mercados de obrigações. Isto tem eliminado o impacto da exposição cambial para muitos investidores em dívida privada emergente, o que teve um importante papel na hora de amortizar a volatilidade.

Terceira: Aprofundamento dos fundamentais e das características técnicas

“Os emitentes corporativos emergentes costumam mostrar menores níveis de alavancagem financeira e oferecer maiores yields do que os seus homólogos desenvolvidos com classificações equivalentes, assim como spreads mais amplos. Estas empresas têm respondido à incerteza macroeconómica global reforçando os seus balanços mediante cortes de custos, reduções de investimento e vendas de ativos para obter liquidez. Estas atividades têm ajudado a evitar subidas significativas dos rácios de alavancagem, e melhorado as características para os investidores em obrigações”, afirma.

Quarta: Valorizações que não refletem necessariamente a realidade

Os spreads a que cota atualmente o crédito emergente figuram no 50º percentil da sua história desde 2002. Dito de outra forma, a classe de ativos já cotou mais caro em metade do tempo nos últimos 14 anos. “Isto é mais reflexo do sentimento do que dos fundamentais. Os riscos idiossincráticos que se foram associando tradicionalmente com os ativos de mercados emergentes estão a converter-se num fenómeno global. Ainda que a recente tentativa de golpe de estado na Turquia tenha servido para relembrar o risco político que paira sobre os mercados, o seu sucesso permaneceu relativamente contido, com poucos efeitos secundários em outras economias emergentes. Do mesmo modo, o ruído político precedente de países como o Brasil, Rússia e África do Sul também se reduziu de forma significativa. Ao mesmo tempo, a decisão histórica do Reino Unido abandonar a União Europeia, o auge dos partidos populistas em toda a Europa e o ruído político em torno das eleições presidenciais nos Estados Unidos, deixam patentes os riscos provenientes do mundo desenvolvido”.