A realidade oculta por detrás dos falsos mitos sobre 'hedge funds'

Em contextos de crise económico-financeira, a procura de culpados constitui uma tradição. Políticos, banqueiros ou legisladores são assinalados com frequência como responsáveis pelos excessos que conduzem, por umas ou outras razões, a bolhas ou crises económicas. No entanto, também, os intervenientes dos mercados estão na linha da frente, principalmente investidores de curto prazo (especuladores) e aqueles que podem beneficiar-se de todo tipo de eventos, incluindo os negativos, através das apostas pela queda ou as posições curtas, algo que podem fazer os 'hedge funds'.

Mas a indústria de 'hedge funds' não está disposta a assumir o papel de bode expiatório porque considera que a percepção que existe em torno do negócio está forjada de mitos, mais do que de realidades. Mitos como a falta de regulação, os grandes riscos que assumem ou o facto de serem causadores da crise são contrapostos por uma realidade muito mais complexa, segundo explicou Dominic Tonner, responsável de comunicação da AIMA, a associação global da indústria de gestão alternativa. Numa conferência sobre fundos alternativos europeus realizada recentemente pela Alfi, a associação da industria de gestão luxemburguesa, Dominic contrapôs os que considera os cinco maiores mitos em torno dos 'hedge funds' com as respectivas realidades.

O primeiro mito que desconstrói é que os 'hedge funds' são produtos com pouca segurança e regulação. Ao contrário, assinalou que “devem registar-se de forma global e ser aprovados pelos reguladores nacionais”. Relativamente ao que se considera como uma liberdade ilimitada de actuação nos mercados, recorda que "estiveram sempre sujeitos a restrições, determinadas por leis sobre o abuso de mercados".

O segundo mito ao qual faz alusão são os vieses das bases de dados dos 'hedge funds' que exageram as rendibilidades da indústria, ao que Tonner responde que "muitos dos principais produtos não dão informação acerca dos retornos e recorda que os vieses positivos e negativos se cancelam mutuamente".

Ao terceiro mito, ideia dos grandes riscos assumidos por este tipo de fundo, o responsável de comunicação da AIMA responde que, em geral, "os 'hedge funds' estão pouco alavancados, para além não fazerem muito 'trading'. Considera-os mais "anjos da guarda" que "abutres" porque fazem coberturas nas carteiras e uma gestão activa do risco".  

Outro mito assinalado é apontarem os 'hedge funds' como causadores da crise. A esta acusação Tonner responde em primeiro lugar que a sua participação nos mercados é minoritária no mundo da gestão. Assim, os activos apenas representam 4% dos totais da indústria global, com 2,1 biliões de dólares, face aos 55,9 biliões de dólares dos outros sectores. Acrescenta, ainda, as vantagens das posições curtas e recorda que esta indústria permite vislumbrar crises futuras do sistema de grande utilidade para os reguladores.

Por último, responde àqueles que dizem que os 'hedge funds' não beneficiam a economia real, com dados que mostram que os impostos de um ano do sector de 'hedge funds' e capital de risco da União Europeia equivalem, por exemplo, aos do subsídio agrícola francês. "Os impostos da indústria alternativa no Reino Unido equivalem a 200.000 enfermeiras, a 45.000 consultores hospitalares, a 165.000 professores ou a metade do custo dos Jogos Olímpicos de Londres", refere.

Alta protecção e institucionalização

De entre outras vantagens os 'hedge funds' salienta a distribuição de lucros entre gestores e investidores, uma vez que, segundo dados do Hedge Funds Research, do retorno anual oferecido entre 1994 e 2011, o investidor captou 71,93% dos lucros e o gestor os 28,07% restantes (ver quadro). Tonner também assinalou a capacidade de recuperação perante a crise, a rendibilidade que oferecem a longo prazo, a protecção face às quedas de mercado, a gestão activa do risco e a institucionalização do mercado. Assim, os investidores deste tipo, como fundos de pensões, companhia de seguros, fundações ou fundos soberanos, têm mais de 60% dos activos, face aos 25% que detinham em 2003. 

 

 

Rendibilidade distribuída

Rendibilidade anualizada bruta dos 'hedge funds' entre 1994 e 2011 (índice HFRI)

12,61%

Retornos líquidos para o investidor

9,07%

Retornos para o gestor

3,54%

Quota sobre o total que recebe o investidor

71,93%

Quota sobre o total que recebe o gestor

28,07%

Fonte: Centro Hedge Funds Research