A reação dos gestores de ações europeias às turbulências de mercado

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PurpleBug Sales and Marketing , Flickr, Creative Commons

A forte agitação vivida nos mercados europeus de ações faz com que seja interessante  analisar como é que se movimentaram as carteiras de gestores de fundos de ações europeias. A Funds People perguntou aos responsáveis de distintas entidades, quais foram as estratégias que seguiram durante este período de volatilidade, e os ajustes que realizaram nas suas respectivas estratégias. Os que responderam ao nosso questionário detalham essas informações:

Uma das principais mudanças introduzidas por Benjamin Stine e Steven Gorham, da MFS Investment Management, no MFS Meridian European Value é que o sector da saúde é agora uma das maiores subponderações da carteira. “Embora  saibamos que as nossas posições neste sector têm possibilidade de gerar lucros sólidos e de maneira diversificada, estamos preocupados com a valorização do sector em geral, a ameaça dos genéricos, e os riscos ao nível dos preços, sobretudo nos EUA. Parte do lucro obtido ao reduzir-se a nossa posição no sector da saúde, foi investido em empresas de bens industriais de qualidade, onde temos encontrado ideias interessantes de investimento durante os últimos meses”. Em geral, subponderam sectores e indústrias que não apresentam as características de qualidade que procuram e que são mais sensíveis ao ciclo económico. Pelo contrário, centram-se no que acreditam ser os modelos de negócio mais fortes para os consumidores, com uma preferência para produtos de consumo, o tabaco e as empresas de alimentos e bebidas.

Na Allianz, Thortsten Winkelmann e Matthias Born também fizeram algumas mudanças no Allianz Europe Equity Growth, nestes primeiros meses do ano. Os gestores acrescentaram posições na BIC, Novo Nordisk, Hugo Boss e Coloplast, ao mesmo tempo que cortaram exposição a Legrand, IMI, Sodexo, e Schneider, empresa que agora acabaram por vender. Em linhas gerais, a subponderação mantida no sector financeiro beneficiou a estratégia, embora no início do ano tenham sido prejudicados realização de mais-valias de alguns títulos, que tinham mostrado um comportamento melhor no ano passado, como é o caso de nomes como Infinenon, Simcorp e Ingenico, todos na carteira do fundo.

Andreas Zoellinger e Alice Gaskell também fizeram ajustes no BGF European. Para os gestores da BlackRock, o recente sell-off criou algumas oportunidades idiossincráticas no sector industrial, onde abriram uma nova posição em especialistas globais de produtos elétricos, mais concretamente numa empresa que - na sua opinião – oferece uma valorização atrativa pelos fluxos de caixa e exposição aos mercados emergentes. Isto fez-se a partir da redução da exposição ao sector do consumo básico, onde algumas empresas se aproximaram do preço objectivo. No final do mês, o fundo estava sobreponderado em empresas de telecomunicação, tecnologia de informação, industriais, consumo cíclico e energia. Pelo contrário, estava subponderado no sector financeiro, empresas da saúde, consumo básico, utilities e materiais.

Materiais é, precisamente, a principal sobreponderação do Pioneer Funds Euroland Equity, fundo da Pioneer Investments, gerido por Fabio Di Giasante e Lorenzo Angelini. O peso deste sector na sua carteira é de 11,7%, face aos 6,7% do índice. Em janeiro o gestor acrescentou uma posição nova correspondente a este sector, concretamente a Akzo Nobel, uma empresa de origem holandesa. Não foi a única mudança introduzida nesta carteira em janeiro. Di Gisante acrescentou ainda mais dois títulos à sua carteira. A primeira foi a Pernod Ricard, fabricante de bebidas de origem francesa. A segunda, Royal Dutch Shell, empresa energética inglesa. Em fevereiro não realizou nenhuma mudança, pelo que, além de materiais, as principais sobreponderações em carteira continuam a ser as telecomunicações (com um peso de 6,7% na carteira) e industriais (14,5%). Pelo contrário, as maiores infraponderações estão no sector financeiro (pondera cerca de 17,6% no fundo) e o consumo básico (9%).

Tim Stevenson, a cargo do Henderson Horizon Pan European Equity, também fez movimentos táticos durante os primeiros meses do ano, embora num sentido muito distinto. O gestor da Henderson GI adoptou uma visão top down, reduzindo a sua exposição ao mercado britânico perante a incerteza que geraram as preocupações em torno da celebração do referendo sobre o Brexit. “Provavelmente continuaremos subponderados  em ações britânicas face ao índice, até que a situação se resolva”, afirma Stevenson.

Da Columbia Threadneedle Investments, Dave Dudding, gestor do Threadneedle European Select Fund, também fez essas mudanças, a partir de uma ótica bottom up. Em janeiro, aproveitou a correção para aumentar a exposição a algumas posições já existentes, sem realizar nenhum tipo de operação de venda directa durante o mês. Em fevereiro, incorporaram uma nova posição na carteira – a Adidas – ao considerar que a entidade se encontrava numa boa posição para explorar a fortaleza da sua marca e conseguir uma maior penetração no mercado.

Max Anderl e Jeremy Leung também não introduziram grandes alterações na estratégia do UBS (Lux) European Opportunity Unconstrained, fundo que se diferencia dos anteriores na possibilidade de construir tanto posições longas como curtas. Os gestores realizaram mais valias em algumas posições curtas sobre algumas entidades financeiras que tinham em carteira, perante os recuos experienciados pelo sector durante o arranque do ano. Perante a a percepção de que as ações não  se estavam a movimentar pelos fundamentais, encararam as correções de mercado, como uma oportunidade para incrementar a convicção de algumas posições existentes, tanto longas como curtas. A exposição bruta aumentou em fevereiro, tanto na parte longa do portefólio, como na curta.