A postura dos bancos centrais

Estou cada vez mais céptico em relação à postura dos bancos centrais. O Banco Central Europeu (BCE) surpreendeu ao seguir o caminho do Banco da Suíça e do Banco do Japão, avançando com taxas de juro a zero mas com a hipótese de remunerar os empréstimos.

Esta necessidade de optar por vias menos convencionais confirma o que muitos desconfiam há muito tempo. A necessidade de estimular o crescimento económico está bem presente mas a estagnação parece ser a palavra de ordem.

O que o BCE avançou agora é para a possibilidade de emprestar dinheiro a 0,00% aos bancos para que estes emprestem às empresas. A taxa de juro pode até ser mais atrativa, já que está incluída a possibilidade desses empréstimos serem remunerados.

Depois, o BCE comunicou que também irá comprar dívida das empresas, o que pode ser encarado como um verdadeiro carrossel que irá beneficiar as empresas com melhor rating. Isto implica muito dinheiro a circular, com os bancos a terem acesso a liquidez gratuita e as empresas com acesso a taxas de financiamento cada vez menores.

Mas para que serve esse dinheiro mesmo?
Talvez Draghi tenha aberto um pouco da caixa de pandora ao referir, pela primeira vez, a possibilidade de ser utilizado o helicóptero de dinheiro. Ter abordado esta questão é sintomático com o desespero do BCE face à evolução da inflação mas duvido que esta opção esteja em cima da mesa.

Enquanto não se criar um plano de investimento que se coadune com a quantidade de dinheiro disponível, a situação vai manter-se ou até piorar.

A desigualdade na Europa é chocante. Portugal financia-se no mercado acima dos 2% e os bancos vão buscar fundos a zero... Com o Banco do Japão a preferir aguardar mais tempo para avaliar o impacto da incursão das suas taxas em território negativo, o mercado começa a virar-se para a Fed e para a sua postura perante a situação atual.

Num contexto de clara estagnação e debilidade global, e com o Banco do Japão e o Banco Central Europeu a aumentarem os estímulos económicos, a Reserva Federal não deve mexer nas suas taxas de juro. A próxima subida é esperada na reunião de junho.

 

(imagem: Ute Kluge, Flickr, Creative Commons)