A opinião de Mark Mobius sobre o último escândalo de corrupção no Brasil

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Funds People

Recapitulemos: já passaram duas semanas, os ativos brasileiros (ações, obrigações e dívida) sofreram uma fortíssima correção depois de se ter descoberto que Michel Temer, atual presidente do Brasil, tinha autorizado subornos a políticos num escândalo de corrupção. Posteriormente, Temer declarou em várias ocasiões que não pensa demitir-se, embora tenham existido várias petições que pediam exatamente isso, a sua demissão – a Constituição do Brasil permite que o pedido possa ser feito por qualquer cidadão - para que se inicie um processo de destituição do cargo.  Enquanto isso, congelou-se a agenda reformista do governo atual.

Se Michel Temer for declarado inocente, as seguintes eleições gerais no Brasil celebrar-se-iam em 2018, pelo que permaneceria no cargo mais dois anos e, presumivelmente, continuaria com sua agenda”, comenta Mark Mobius, gestor da Franklin Templeton Investments e conhecido pioneiro dos mercados emergentes. Contrariamente, se Temer for declarado culpado, “provavelmente será destituído e afastado do cargo, como Dilma Rousseff”.

Apesar de toda a gravidade da situação, o investidor olha para os factos de cabeça fria: “Embora tenhamos criado esperanças num governo mais orientado para as reformas de Temer, do nosso ponto de vista este último escândalo não significa que se vá terminar necessariamente o momentum do país". 

Perante isto, Mobius afirma que, na hipótese de Temer ser afastado do cargo, “ainda existirão reformas por fazer, mas que provavelmente irão demorar algum tempo”. O gestor insiste que os investidores deveriam atentar na seguinte mensagem: “O movimento de reformas contra a corrupção está em curso e, de maneira geral, é bastante positivo no Brasil. Mesmo que o próprio Temer não seja capaz  de avançar com as reformas que está a gerir agora, acreditamos que os reformistas possam ter sorte, uma vez que já têm o contexto a seu favor”.

Para o especialista, o importante é que “haja uma percepção de que são necessárias reformas em muitas áreas, mesmo que levem o seu tempo”. Para além disso, considera que estes avanços em matérias reformistas “enfatizam a importância de assumir um ponto de vista de longo prazo em mercados emergentes”, dado que “a mudança não se faz da noite para o dia”.

Um bom trabalho monetário

Por outro lado, o especialista destaca o apoio que foi dado ao Banco do Brasil durante esta crise – conseguiu-se estabilizar o Real, que conseguiu recuperar dos mínimos de 18 de maio – e, de um modo geral, o trabalho que se fez nos últimos meses para controlar a inflação, que em maio registou o seu nível mais baixo dos últimos dez anos, com uma percentagem de 3.77%. Além disso, afirma que “ainda há margem para mais cortes nas taxas de juro”.

Na verdade, Mobius declara que “um corte agressivo das taxas de juro seria muito positivo para a economia”. Segundo o seu ponto de vista: “é uma questão de tempo até que o Brasil tenha um retorno de juros razoáveis, particularmente para as pequenas e médias empresas, que poderiam financiar-se a taxas mais baixas”. “Isto significaria um impulso geral para a economia”, concluiu.

Uma mensagem tranquilizadora

Mobius interpreta a recente correção como uma oportunidade para comprar títulos a um preço mais atrativo: “Atualmente vemos valor em quase todos os sectores do Brasil, simplesmente porque o mercado está deprimido em todas as direções”. Ainda assim, os sectores mais interessantes são o da banca e o das vendas a retalho.

Como sempre afirma o especialista, a Franklin Templeton continuará a acompanhar de perto a evolução do Brasil. Dito isto, insiste que “esta inversão é temporária: vemos o mesmo caso noutros mercados que se recuperaram de escândalos políticos no passado”. E, como sempre, recomenda aos investidores que se fixem no fundamental: “Parece-nos que a recuperação em curso de longo prazo da Bolsa do Brasil e da economia, apesar de tudo está intacta”.