A nova face da indústria de fundos do Reino Unido

1454382038_e4dbc8c15f
geoffroy.barre, Flickr, Creative Commons

A Fundscape e a Pridham Report publicaram recentemente um estudo intitulado 'Definitive Guide to the UK Fund Industry 2015' que abrange toda a indústria de fundos desde as fábricas até aos canais de distribuição. Dúvidas existiam em torno à implementação da RDR "Retail Distribution Review" no Reino Unido. E eis que, dois anos após a sua implementação, a indústria britânica continua a crescer, sendo expectável que essa expansão se mantenha. Atualmente é o maior mercado doméstico de fundos na Europa com um património superior a 753 mil milhões de libras (aproximadamente 1025 mil milhões de euros), superando os mercados de fundos domésticos da Suíça, Alemanha, França e Itália.

Factores como o enquadramento de baixas taxas de juro, o aumento de baby boomers e a liberdade no sistema de pensões que entra em vigor no próximo mês de abril sustentam este crescimento que segundo as projeções elaboradas neste estudo para os próximos cinco anos podem destacar ainda mais a indústria britânica. Bella Caridade-Ferreira, CEO da Fundscape prevê que "os ativos da indústria de fundos do Reino Unido disparem devido aos factores anteriores, apontando como um cenário realista uma subida dos ativos sob gestão para 1.449 mil milhões de libras (cerca de 1.972 mil milhões de euros) em 2019, o que corresponde a uma taxa de crescimento anual composta de 12,8%. No cenário optimista, nesse mesmo ano os ativos sob gestão seriam de 1.773 mil milhões de libras ou até superiores".

Assim, entende-se que a RDR tem tido consequências conhecidas e outras desconhecidas no mundo da distribuição. Se por um lado, se fazia crer que os consultores financeiros poderiam deixar esta indústria quando até agora a sua quota só aumentou no que toca a fluxo de fundos, por outro verifica-se a consolidação do aconselhamento financeiro. Igualmente, os consultores estão externalizar ou a centralizar as suas decisões de investimento o que condiciona a forma como os gestores de fundos fazem o seu negócio.

A Fundscape estima que cerca de 70-75% dos fluxos de fundos estejam sob algum tipo de influência de distribuição. A marca desempenha um papel, mas a chave para o sucesso no mercado britânico é o bom desempenho do investimento em conjunto com a capacidade. Em resultado, uma grande parte das vendas tende a recair nas grandes gestoras. Porém, Helen Pridham, do Pridham Report reconhece que "ainda há espaço para pequenos grupos do tipo boutique deixarem a sua traço no Reino Unido. Nos últimos anos, reputados gestores de fundos conseguiram criar pequenas entidades que têm obtido performance e alcançado a 'primeira liga' de vendas".

Além disso, os fluxos de fundos observados nos primeiros nove meses do ano passado nos fundos mistos são outro efeito desta indústria mais terceirizada. Nesse período, os fundos mistos tiveram captações líquidas na ordem dos 6 mil milhões de libras, o que compara com os 1,7 mil milhões de libras recebidos pelos fundos de ações. Esta tendência é para continuar no futuro, sendo que grande parte do dinheiro que antes estava destinado a anuidades pode inclusivamente terminar em fundos mistos com uma vocação para a distribuição de rendimentos. Igualmente os fundos de retorno de absoluto estiveram entre os best-sellers. Por último, também os fundos imobiliários voltaram a estar na moda.

Em conclusão, apesar das pressões regulatórias e concorrenciais na indústria do Reino Unido, há muitas razões para se esperar um futuro sólido e de contínuo crescimento na região. No curto e médio prazo, as taxas de juro baixas devem continuar a tornar os fundos mais atrativos face a outros instrumentos de liquidez e a par disso o aumento de baby boombers. Acresce ainda a procura de novas formas de gerir o rendimento e preparar a reforma, especialmente perante o novo sistema livre de pensões que entra em vigor no Reino Unido no próximo mês de abril e que suprime as anuidades obrigatórias e dá aos pensionistas a liberdade de gestão das suas pensões.