A japonização da economia e a dívida dos mercados emergentes

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s13_eisbaer, Flickr, Creative Commons

No contexto de um almoço de apresentação de três fundos multiativos com a marca Oyster Funds, da SYZ Asset Management, Adrien Pichoud, economista chefe e Fabrizio Quirighetti, CIO na entidade, respondem a duas questões sobre os mercados de fixed income bem presentes na mente dos investidores: os efeitos da eventual japonização da economia e a atratividade da dívida de mercados emergentes.

Num mundo em que as políticas monetárias dos bancos centrais das principais economias desenvolvidas convergem para uma realidade já há muito existente tempo na economia japonesa, importa perceber se efetivamente poderemos ver a história a repetir-se, do oriente para o ocidente. Olhando para a evolução da história económica do Japão ao longo dos últimos 15 anos, observamos o recurso a uma série de medidas orientadas para estimular o crescimento e a inflação. “Todas as medidas, desde as Abenomics, políticas económicas acomodatícias, políticas fiscais expansionistas, mostraram capacidade para gerar alguma aceleração no crescimento e inflação, mas não durou muito”, refere o economista chefe da SYZ AM. Entretanto, o nível de dívida continuou a subir, muito impulsionada pelos deficits orçamentais, cimentando “uma tendência irreversível, em resultado de uma demografia desfavorável e baixa produtividade, factores que estão replicados em grande parte das economias desenvolvidas”.

No entanto, “é comum a ideia de que, como as taxas estão baixas, não rende investir em fixed income. No entanto, apesar da liquidez e das maturidades mais curtas apresentarem retornos próximos de zero, as maturidades mais longas têm apresentado no país retornos marcadamente mais elevados do que a sua yield”.

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No gráfico está patente exatamente o retorno acima da liquidez das obrigações a mais curto prazo em comparação com as de mais longo prazo. A óbvia conclusão é que “sim, vemos mais volatilidade, mas com o tempo, estes ativos geram retornos interessantes, como está refletido nos números”, destaca Adrien Pichoud.

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Já Fabrizio Quirighetti, não acredita que estejamos perante um mercado de obrigações numa bolha prestes a rebentar. “Os investidores olham para o muito curto prazo, e acreditam – como nós queremos acreditar também – que as taxas vão subir, a inflação vai acelerar e a política monetária vai normalizar. Nós não nos vamos posicionar contra o mercado. Temos efetivamente gerido a duration dos nossos fundos, mas mantendo sempre em mente que em algum ponto, teremos que reforçar a duration no portefólio”, esclarece o CIO da entidade.

Para o especialista, um dos principais factores que afetam os movimento nos mercados de obrigações são os fluxos, e estes têm afetado as valutions dos mercados emergentes.

 

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O facto que salta à vista neste gráfico, é que em agosto,  obrigações com um rating de crédito ao mesmo nível, apresentam uma yield to maturity muito diferente, em dólares”, destaca. Com o mesmo rating de Portugal, por exemplo, o profissional destaca o Brasil que, para uma mesma maturidade, proporciona uma YTM de 4%, enquanto as obrigações nacionais em dólares pagam 5%. O profissional realça o absurdo: “Sim, é verdade, Portugal pode ver o seu rating de crédito reduzido pela DBRS e o BCE já não  poderá comprar as suas obrigações, mas... quem está a comprar as obrigações brasileiras? Não é o BCE certamente!”. “Se o racional é que Portugal entrará em incumprimentos nos próximos oito anos, concordo, mas acredito que tem tanta probabilidade de o fazer como o Brasil”, esclarece Fabrizio Quirighetti, acrescentando que “até um país como a Guatemala é visto como menos arriscado que uma média de obrigações corporativas nos EUA”. A conclusão é óbvia: “As valuations estão caras em alguns mercados emergentes”.