A fonte mais promissora de "surpresas positivas" é o desenvolvimento tecnológico

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Escassez, o problema com o qual se deparam os investidores

 

Escassez de ativos seguros. Eis o problema com o qual se deparam os investidores. Depois de seis anos de mercado em rota ascendente tanto nas ações como nas obrigações, o conjunto de oportunidades de investimento atractivas está a reduzir-se. A solvência soberana deteriorou-se – os emitentes triple A são uma espécie em vias de extinção – e uma quantidade equivalente a quase 1,2 biliões de dólares de obrigações soberanas da zona euro chegaram a oferecer rentabilidades a prazo negativas. Também a oferta de ativos baratos não é muita.

Qualquer que seja o método de avaliação das ações de mercados desenvolvidos, estas estão a negociar em níveis superiores à média, enquanto a rentabilidade a prazo da dívida investment grade e high yield se aproxima dos mínimos históricos. O que é pior, no mundo não abundam economias em firme recuperação. O caso é que após a recessão, o rally foi muito forte, mas a recuperação económica global foi mais débil do que o normal, segundo critérios históricos. O Fundo Monetário Internacional considera que a taxa de crescimento económico dos mercados desenvolvidos pode ter sofrido uma redução para metade na última década. Além disso, ultimamente, os mercados emergentes também parecem estar em ‘choque’, afectados pela desaceleração da China e valorização do dólar norte-americano.

O problema da escassez não termina aqui. Nos cinco próximos anos será difícil encontrar um sector não sujeito a uma supervisão regulatória mais estrita. Governos e administrações tentam, com uma firmeza cada vez maior, alterar o comportamento das empresas por meio da tributação e tabelas de remuneração e políticas de protecção do meio ambiente. Este intervencionismo ameaça com uma redução das margens de lucros.

Existem motivos para o optimismo

 

Não obstante, o panorama não é universalmente desolador e existem motivos para o optimismo. Há, por exemplo, cada vez mais provas de que algumas das economias mais afectadas pela crise financeira desde 2008 avançam num ciclo de desalavancagem. Os EUA são o país que mais progrediu. Inclusivamente alguns países fortemente endividados da zona euro, como o caso de Espanha, estão a seguir um novo rumo.

Outro factor positivo é que as taxas de juro do mundo desenvolvido permanecerão baixas por mais tempo e o endurecimento da política monetária pode acontecer de forma lenta. Não é apenas o crescimento económico e a inflação que são insuficientes para justificar um endurecimento agressivo das políticas monetária, mas sim a persistência do excesso de poupança a nível global – uma excessiva acumulação de poupança nos mercados emergentes – deve igualmente auxiliar À manutenção das taxas de juro sob controlo. Outro factor que pode travar as subidas das taxas de juro provém da política macro prudencial dos bancos centrais, que utilizam mais ferramentas de contenção da dívida privada com o fim de atenuar os altos e baixos do ciclo de crédito.

A inovação tecnológica também pode ser uma fonte de crescimento. Microprocessadores mais rápidos, capacidade de armazenamento e processamento de enormes quantidades de dados e a rápida expansão da informática móvel oferecem perspectivas de uma melhoria considerável na produtividade.

Para melhor ou pior cada um destes factores terá influência nas rentabilidades dos próximos cinco anos. No seu conjunto, os investidores podem razoavelmente esperar no que resta desta década uma média de rentabilidades anualizadas de um só algarismo nas ações dos países desenvolvidos, uma vez que as elevadas valorizações iniciais e provável declive das margens de lucros das empresas limitam o potencial. No entanto, as rentabilidades anualizadas podem ser de dois dígitos em ações emergentes. Embora o seu crescimento económico seja mais lento as baixas valorizações iniciais constituem uma vantagem.

Nas obrigações, o final do ‘bull market’ dos últimos 30 anos na divida pública e dívida investment grade dos mercados desenvolvidos; elevadas valorizações e perspectiva de subida progressiva nas taxas de juro norte-americanas são a principal evidência da preocupação. Os instrumentos de obrigações de maior rentabilidade a prazo – dívida soberana, corporativa e de emergentes e ainda high yield devem gerar melhores resultados que os seus homólogos de mercados desenvolvidos ou de melhor qualidade creditícia.

 

A fonte mais promissora de ‘surpresas positivas’ é o desenvolvimento tecnológico

 

Assim como é geralmente recomendado que uma pessoa se assegure dos possíveis resultados adversos, é igualmente importante reconhecer que o futuro pode ser melhor do que o esperado. Na nossa opinião o desenvolvimento tecnológico é a fonte mais promissora de ‘surpresas positivas’ nos próximos cinco anos: cloud computing, smartphones, social media e big data, robots e impressoras 3D. De facto, a tecnologia representa a melhor esperança para o aumento da produtividade da economia mundial. A maior automatização e inteligência artificiar mais sofisticada podem aumentar a eficiência das cadeias de fornecimento e os custos de armazenamento e de trabalho diminuem de forma natural. Os dispositivos e processos que unem clientes e fornecedores também podem trazer benefícios económicos. Portanto, a rentabilidade do capital deverá melhorar.

 

É certo que o período posterior à crise financeira de 2008 se caracterizou por um excesso de oferta de trabalho, de maneira que a melhoria da produtividade não começara a surgir até ao final do nosso horizonte de investimento – a cinco anos. Isto deve-se ao facto das empresas terem tido poucos incentivos para aumentar o investimento em tecnologia e poupar em mão-de-obra. Além disso, com a integração do mercado de trabalho dos mercados emergentes na economia mundial tornou-se mais fácil e barato contratar empregados. Contudo, a economia não se expande e a mudança de condições pode tornar as novas tecnologias mais atractivas. O aumento da produtividade pode ser maior no caso dos mercados emergentes.  

Em qualquer caso, a indústria tecnológica vive um período de vigorosa inovação, similar ao da década de 1990. Microprocessadores mais rápidos e baratos de produzir, em consonância com a Lei de Moore (cada dois anos duplica o número de transístores num circuito integrado), enquanto as redes informáticas se desenvolvem a uma velocidade exponencial, seguindo a leu de Metcalfe (Robert Metcalfe descobriu que o valor de uma rede de comunicações aumenta proporcionalmente o quadrado do número de utilizadores do sistema).

Um impulso adicional chega dos sistemas de armazenamento de dados e nova geração de tecnologias disruptivas: cloud computing, smartphones, social media e big data. A sua capacidade para revolucionar os negócios e aumentar a produtividade está na combinação. Uma manifestação disso é a “Internet das coisas”, número crescente de dispositivos de uso diário conectados, desde relógios a câmaras de vigilância a máquinas de café, veículos e dispositivos relacionados com a saúde. Segundo Gartner o número de dispositivos conectados à internet crescerá seis vezes nos próximos cinco anos, até aos 25.000 milhões.

Além disso os robots, antes limitados a linhas de montagem de veículos, realizam agora actividades anteriormente consideradas complexas. Em 2005 quase 70% dos pedidos de robots industriais na América do Norte eram de fabricantes de automóveis. Este valor caiu para 56%, pois o seu uso alargou-se ao sector alimentar e industrias de bens de consumo, inclusivamente ciências da vida e empresas farmacêuticas – que já representam 7 e 6% dos pedidos -

Acrescem ainda as impressoras 3D que, até há bem pouco tempo, podiam apenas utilizar um tipo de plástico ou resina. A nova geração pode utilizar mais de um material e a impressora 3D é usada nas indústrias especializadas como aeronáutica, saúde e outras. IDC espera que para 2020, 10% de todos os bens de consumo sejam passíveis de impressão.

Esta explosão de inovação tecnológica está claramente visível no investimento.

Nos EUA, segundo a Thomson Reuters Datastream, o gasto em R+D cresce 10% ano, mais do triplo da média a longo prazo e um recorde de 1,8% do PIB. As solicitudes de patentes – 1.000 por habitante – já dispararam 50% entre 2002 e 2012 e o número de novas empresas, start-ups, aumentou quase 70% para os 71.000 milhões.