A Fed pausa e muda de tom: as primeiras reações das gestoras internacionais

EUA USA Estados Unidos
Flickr

A primeira intervenção da Reserva Federal em 2019 arranca com uma mudança de tom que reflita o contexto de incerteza no qual se move o crescimento global. Tal e como descontava o mercado, a Fed manteve as taxas entre 2,25-2,5%. A chave está na suavidade do discurso do presidente, Jerome Powell: “Enfrentamos uma imagem um tanto contraditória de uma macroeconomia americana forte em conjunto com mostras crescentes de ventos cruzados. Uma gestão de risco de sentido comum incentiva a esperar pacientemente por uma maior clareza”.

Para Anna Stupnytska, economista global da Fidelity International, o mais notório é que os comentários sobre a evolução prevista das taxas de juro e a normalização do balanço oscilaram completamente e agora mostram uma postura expansiva. Assim, os “aumentos” dos objetivos para os taxas de fundos federais deram lugar aos “ajustes”, o que, na sua perspetiva, volta a colocar sobre a mesa os cortes nas taxas de juro. “E agora também se contempla variar o ritmo de normalização do balanço e o tamanho deste, algo que a Fed optou por expor muito antes do previsto”, analisa.

Isto porque a reunião da passada quarta-feira não se deve ver apenas como uma pausa para apanhar ar. Powell mencionou, inclusive, que a limpeza do balanço da Fed poderá terminar antes do esperado e que o seu nível final poderá ser maior do que o antecipado. Isto é, podemos estar perante os últimos meses do quantitative tightening. “Como argumentámos durante muito tempo, estamos a observar uma desaceleração mais rápida na liquidez global da BlackRock. Os Estados Unidos tiveram de enfrentar um “ajuste triplo”: níveis mais altos de taxas de juro, redução do balanço da Reserva Federal e uma quantidade sem precedentes de emissão do Tesouro. No seu conjunto, isto pode considerar-se como um tipo de endurecimento das condições financeiras.

Boas notícias para os mercados

A leitura entre as gestoras internacionais é positiva. “O facto de a Fed ter emitido um comunicado separado sobre a normalização do seu balanço é extremadamente positivo e indica que este processo já não se leva a cabo em piloto automático”, declara Mondher Bettaieb, diretor de crédito corporativo da Vontobel AM. O especialista estima que o ritmo de normalização baixará este ano já que a renumeração das reservas de liquidez “se tornou muito cara”.

“Isto é muito positivo para os mercados”, assegura Bettaieb. Opinião que também partilha Stupnytska: “Os mercados gostam da put de Powell”. Contudo, tendo em vista a mais aceitável conjuntura económica nos Estados Unidos, esta mudança tão marcada no discurso poderá virar-se contra a Fed dentro de uns meses, segundo a especialista da Fidelity, quando as distorções dos dados se dissipem, o panorama se aclare e a economia exija taxas mais altas.

Assim, volta-se a um momento do mercado onde as más notícias se interpretam como algo bom. Mas a atitude dos investidores pode andar à mesma velocidade. “Uma pausa deste tipo deve ser seguida por uma descida de taxas, normalmente como resposta a uma rápida degradação da economia: um contexto que não é nada favorável para os mercados de ações”, recorda Brendan Mulhern, estrategista global de Newton, parte da BNY Mellon. “Talvez os tubarões das ações devam prestar mais atenção aos mercados de obrigações, que mantêm uma atitude mais cautelosa a respeito das perspetivas económicas”, assegura.

Uma pausa ou o fim das subidas?

Coloca-se agora a questão de quando acontecerá a seguinte subida de taxas. Os especialistas mais otimistas estimam que será no fim do ano. Da Julius Baer, David Kohl, estratega chefe de divisas, aposta em setembro ou dezembro de 2019, mas põe como condição necessária um aumento da atividade económica, incluindo as dinâmicas de inflação na segunda metade do ano.

Nick Maroutsos, gestor da Janus Henderson Investors, é mais radical. Antevê, de facto, que as subidas de taxas nos Estados Unidos chegaram ao fim. “Não para 2019, mas permanentemente”, sentencia. Para o especialista, vão fazer falta números significativamente positivos para que a Fed volte à trajetória das subidas. “A economia não está a render em plena potência e a inflação é inexistente. O risco geopolítico está em máximos históricos à medida que enfrentamos outro bloqueio em Washington”, resume.