“A Fed está a fazer um exercício de transparência muito importante e o mercado não lhe está a dar a importância devida”

michael
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O Franklin Strategic Income é um fundo de obrigações global cujo objetivo é gerar uma rentabilidade atrativa a médio longo prazo com uma volatilidade controlada. É gerido por uma equipa formada por mais de 100 profissionais que têm presença local em 30 países e, no total, gerem mais de 400.000 milhões de dólares. Este produto da Franklin Templeton tem flexibilidade total (geográfica em duração e classes de ativos), o que permite aos responsáveis da estratégia posicionar-se naqueles ativos que consideram que vão ter um melhor comportamento no médio longo prazo. A rentabilidade anualizada conseguida pelo fundo nos últimos três anos foi de 6,1%, com uma volatilidade anual de entre 5% e 6%.

Michael Reed é um dos responsáveis por monitorizar a estratégia. Conta com 15 anos de experiência na empresa e a sua função é ser a ponte entre o gestor e o cliente. O especialista aproveitou a sua recente visita a Espanha para explicar quais são as oportunidades e os riscos que oferece o mercado de obrigações num contexto macroeconómico global atual. O facto de atualmente 70% da carteira estar investida no mercado de obrigações norte-americanas explica o facto da maior parte da sua argumentação girar em torno da economia americana. “Existem muitos factores que nos fazem ser muito otimistas acerca dos Estados Unidos. A economia norte-americana vai crescer a um ritmo que oscila entre os 2% e os 3%. O que motiva este crescimento é o consumo, já que 70% do PIB do país aparece explicado por este fenómeno”.

E o que motiva o gasto dos consumidores? A resposta é o emprego. “Mais postos de trabalho significa mais consumo. As PMEs geram 85% do trabalho nos EUA. É um indicador líder”. Um dos aspectos a que prestam mais atenção é a evolução do mercado imobiliário. “Seguimo-lo muito de perto, por causa do efeito que tem no consumo. Durante os últimos anos os preços têm subido. A reativação do mercado imobiliário tem uma inflação que se tem mantido estável. “Muitos perguntam porque é que tão baixa. Para nós isto tem a ver com a baixa taxa de desemprego. Quando o desemprego está acima dos 5%, não há pressões inflacionistas. É quando cai abaixo deste nível é que aparece a inflação”.

Mas Reed considera que há outros aspectos que estão a apoiar a economia norte-americana. Entre eles aponta a demografia – que na sua opinião favorece o crescimento económico do país a longo prazo -, o facto de muitas empresas estarem a deslocar as suas instalações de produção para os EUA – perante os menores custos que isso supõe – e a recapitalização do sector financeiro – com bancos muito mais fortes e balanços saneados, cenário que se viu reconhecido reconhecido no mercado de CDS (Credit Default Swaps) – explica o especialista. “Todos eles são factores que vão contribuir para impulsionar o crescimento”. A nível global, não acredita que o menor ritmo de crescimento da China seja um motivo de preocupação. “O abrandamento do crescimento é uma consequência natural à medida que a sua economia se reorienta para o consumo”.

Principais visões contrarian

Um dos aspectos diferenciadores da estratégia do Franklin Strategic Income é a visão dos gestores sobre a evolução das taxas de juro. A Reserva Federal está a fazer um exercício de transparência muito importante e o mercado não está a prestar atenção. Através da Federal Funds Rate estão a dizer-nos que no final de 2015 as taxas de juro vão rondar os 1,25%. O que o mercado está a considerar no seu preço, no entanto, é que por essa altura vão estar nos 0,5%. O que tenho aprendido ao longo dos anos é que se pode estar em desacordo com o que a Fed diz, mas em nenhum caso convém lutar contra ela. A nossa visão sobre a evolução das taxas é que nos diferencia da concorrência”. 

É por esse motivo que a duração atual do fundo é baixa (2,92 anos). “Centramos a nossa atenção em procurar ativos de obrigações que apresentem uma baixa sensibilidade à evolução das taxas de juro. Os empréstimos bancários são um exemplo de onde estamos hoje a encontrar oportunidades. O objectivo passa por analisar empresa a empresa, para localizar aquelas que têm bons fundamentais, nas quais acreditamos e que, caso o crescimento económico seja favorável, sejam beneficiadas. A estratégia de estar em durações negativas não é a mais adequada. Se acontecerem vendas massivas e os spreads alargarem é muito bom para a estratégia, mas tem que se estar muito seguro do que vai acontecer com o mercado porque o preço de estar com durações negativas é muito elevado”.

Na sua opinião, o investidor não deve temer o atual cenário das obrigações. “As rentabilidades podem permanecer baixas por muito tempo e, para além disso, há muita liquidez no mercado. A Fed pode retirar essa liquidez gradualmente sem provocar impacto no mercado. Os investidores parecem estar muito preocupados por causa disto, mas na verdade a história demonstra que, quando as taxas são baixas é geralmente quando o interesse pelos produtos que geram rendimentos aumenta. Existe uma forte procura por crédito”. Em alguns segmentos de mercado, como o high yield, Reed acredita que a liquidez continua a ser muito aceitável. “Durante os últimos meses temos visto saídas de dinheiro e não houve problemas de liquidez. A isto há que acrescentar que, na nossa opinião, o rácio de default vai manter-se durante o próximo ano em níveis muito baixos (1-2%)”.

Historicamente, 70% da carteira tem estado investida em ativos denominados em dólar, apesar dos 30% restantes estarem em ativos de obrigações globais. Para além dos empréstimos alavancados (leveraged loans), as principais apostas na carteira são a dívida corporativa americana, tanto com grau de investimento como high yield (não se colocam limites a investir em ativos sem grau de investimento) e as obrigações emergentes. A qualidade de crédito média da carteira é BBB-. O produto não se mede face a nenhum índice de referência. “É um fundo sem limitações, que representa as opiniões do Comité de investimentos. Desde o seu lançamento em 1994 tem sido assim (em 2007 foi quando se lançou o produto offshore)”.