A ética e a doutrina social nos investimentos

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(TRIBUNA de Christine Clet-Messadi, Gestora de Carteira, da Allianz Global Investors. Comentário patrocinado pela Allianz Global Investors.)

A sustentabilidade é, hoje em dia, decisiva na maioria das decisões de investimento em todo o mundo. Enquanto gestora pioneira no âmbito do investimento sustentável, lançámos a primeira estratégia de Investimento Socialmente Responsável (ISR) no mercado de rendimento variável há já vinte anos e somos, desde 2007, signatários dos PRI (Princípios de Investimento Responsável). Contudo, também a ética, no âmbito da responsabilidade, tem assumido um papel crescente nas decisões de investimento.

Para alguns investidores, porém, a sustentabilidade é inseparável da ética e das suas convicções e valores morais. Neste sentido, existem, por exemplo, opções de investimento que se encontram totalmente alinhadas com a doutrina da Igreja Católica e que, apesar disso, não devem estar confinadas apenas às instituições religiosas – podendo, ao invés, ser disponibilizadas a uma comunidade mais alargada de investidores.

Da encíclica Rerum Novarum, publicada em 1891 pelo Papa Leão XIII, à Laudato Si do Papa Francisco, a Igreja Católica nunca cessou de refletir sobre o papel da ética nas finanças e nos investimentos, tendo, desde sempre e paulatinamente, ajudado a edificar um método doutrinário que pudesse responder a esta questão de forma consequente e estruturada. Relembramos ainda que a Doutrina Social da Igreja assume que apenas o desenvolvimento humano integral e respeitoso com a pessoa e o bem comum são criadores de valor verdadeiro.

Tendo estes princípios doutrinários por guia, atualmente existem estratégias de investimento que dispõem de uma série de filtros específicos aos investimentos, rejeitando, à partida, todos aqueles que possam ser considerados contrários à natureza e missão do próprio fundo. Além das exclusões tradicionais (armas controversas, pornografia, jogo ou tabaco), assegura-se que todas as empresas – sem exceção – incluídas nessas carteiras atuam segundo princípios humanos e societais capitais, como o respeito pelos direitos humanos e a vida, a promoção da paz e o respeito pelos direitos fundamentais do trabalho.

Sem dúvida, é hoje possível conciliar rentabilidade com os valores éticos da Igreja (ou outros valores de natureza social ou societal, consoante a classe de ação e a estratégia de investimento específicas), com os respetivos fundos a exibirem históricos credíveis e sustentáveis de rentabilidade. Sublinha-se aqui o apoio inequívoco de equipas gestoras experimentadas, incluindo analistas em ISR, e a promoção de comités regulares de supervisão – no caso em epígrafe, compostos por gestores de fundos e responsáveis eclesiásticos – que decidem a inclusão e/ou a exclusão de novos referenciais éticos.