A economia chinesa deixou de ser um foco de incerteza?

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epSos .de, Flickr, Creative Commons

Terá a desaceleração da economia chinesa deixado de ser um problema para a recuperação mundial? O PIB da China cresceu a um ritmo interanual de 7,8% no terceiro trimestre do ano, alcançando os 4,64 mil milhões de euros, segundo as informações oficiais do Governo. Este é um dado importante tendo em conta que se trata da primeira recuperação do ano do PIB da segunda maior economia mundial (no segundo trimestre o crescimento foi de 7,5%). Para além disso, é importante também porque para muitos gestores a desaceleração do PIB chinês podia tornar-se um dos maiores riscos para a recuperação da economia global.

Segundo Craig Botham, economista de mercados emergentes da Schroders, “o número está em linha com as expectativas de consenso e reflete o pequeno estímulo e as medidas de ajuste feitas por Pequim em resposta à desaceleração do segundo trimestre”. Esta recuperação deve-se ao aumento de 4,1% para 4,3% na contribuição do investimento, e de 3,4% para 3,5% na contribuição do consumo. “É claro que o investimento continua a ser o principal motor de crescimento por agora, apesar de se falar de uma reforma no modelo de crescimento da China”, afirma o especialista.

Apesar de Botham considerar que está provado que “o dragão chinês recuperou a sua força, o que é uma boa notícia para os investidores inquietos”, reconhece que a empresa “continua cautelosa sobre as perspetivas a partir do quarto trimestre”. A pergunta que o investidor deve fazer é muito clara. Deve esperar-se que a economia chinesa continue a desacelerar? Mark Mobius, presidente da Templeton Emerging Markets, coloca do lado positivo da balança o facto da China se estar a tornar cada vez menos dependente das exportações e o facto de estar a ajustar a sua estrutura para um maior crescimento sustentável.

Há algumas razões que fazem com que eu e a minha equipa acreditemos que a China tenha o potencial de manter um crescimento económico sólido a longo prazo. Por exemplo, à medida que os rendimentos disponíveis aumentem na classe média da China (muitos consumidores chineses têm beneficiado de aumentos anuais de mais de 20% nos salários), mais ativos pessoais poderão ser canalizados em poupanças e investimentos. Além disso, a urbanização continua a crescer a um ritmo acelerado, e o governo atribui mais recursos a infraestruturas e subsídios para habitação, assim como existe uma ampliação dos benefícios da segurança social, educação e saúde para os novos imigrantes que se têm mudado para as cidades”, explica.

Análise sobre o terreno

Desta forma, têm sido muitas as dúvidas que se têm gerado nos investidores sobre a possibilidade de formação de uma bolha no mercado imobiliário chinês. Mobius quis analisar este facto sobre o terreno. “Em setembro, visitei juntamente com a minha equipa um grande complexo de vivendas em Pequim, 70% do qual se vendeu em semanas. Observei a mesma situação noutras cidades que visitei, o que demonstra claramente que a procura de habitações na China se mantém sólida. Seguramente que existirão alguns empreendimentos imobiliários na China que vão fracassar e existirão com certeza problemas com os devedores. Mas no geral, consideramos que a China tem potencial de crescimento a um ritmo forte, especialmente comparando com a maioria dos mercados desenvolvidos”.

Outro factor que o gestor da Franklin Templeton vê como positivo é o facto do governo continuar a reposicionar a economia chinesa para que dependa menos das exportações e do gasto dos investidores, e mais da procura nacional. “Os esforços para desviar a atividade das indústrias de baixo valor agregado e do trabalho intensivo no sentido de maior tecnologia, provavelmente vão continuar à medida que os níveis salariais subam e a mão de obra na China se torne mais capacitada”, indica. Mobius recorda que a China é a segunda maior economia do mundo, e que por isso é provável que o crescimento se reduza um pouco de forma natural em relação aos dois dígitos do passado. “Para uma economia deste tamanho, um crescimento na ordem dos 7% a 8%, previsto por muitos analistas, não deveria ser desconcertante”.