Os empréstimos diretos ao serviço dos investidores institucionais

Ignacio Díez
Vítor Duarte

A Trea AM é uma entidade espanhola especializada na gestão de ativos tradicionais e alternativos para investidores institucionais. É também uma das entidades que participou na terceira edição do evento Funds Talks em Lisboa que contou com Ignacio Díez, managing partner na entidade, como orador. O profissional apresentou a uma audiência de mais de 90 profissionais de investimento uma solução de investimento em dívida privada que procura colmatar a lacuna de yield em instrumentos de rendimento fixo em Portugal, o Trea Direct Lending Fund II. Em entrevista à Funds People, Ignacio Díez comenta precisamente que a equipa de Direct Lending da Trea AM “provou ser uma equipa muito bem sucedida no investimento em crédito, nomeadamente na identificação e investimento em empréstimos de baixo risco durante os últimos três anos. Isto fez com que a Trea AM atraísse uma base de investidores muito forte e de elevada qualidade, que confiou o seu capital à nossa gestão. Este reconhecimento da indústria, relativamente ao trabalho que desenvolvemos, traduziu-se no recebimento do galardão de ‘best SME financer’ nos Private Debt Awards”. O profissional destaca também o desenvolvimento de uma rede de originação profunda que auxilia na criação de negócios que caem fora do radar de outras entidades gestoras e representam uma forte barreira à entrada para novos players no mercado.

Para o partner da entidade espanhola o facto de nos encontrarmos numa fase tardia do ciclo económico faz com que as soluções de direct lending se tornem mais atrativas para os investidores institucionais. Especificamente, as estratégias como as de investimento em dívida senior secured providenciam “uma proteção no downside muito interessante, especialmente em comparação com outras estratégias de rendimento fixo, que costumam ser unsecured”, explica. Acrescenta também que, além da proteção contra quedas, estes instrumentos também oferecem algum grau de proteção contra a inflação. O retorno líquido esperado de emissões com mais liquidez ronda, segundo Ignacio Díez, os 2,5% a 3,5%, enquanto um portefólio devidamente diversificado de dívida privada pode render entre 5 e 6%.

Para Ignacio Díez também o perfil de risco pode aportar características de valor nas carteiras. “Podemos afirmar que fundos unitranche focam em emissões equivalentes a um B/B+, enquanto têm como target um retorno líquido de cerca de 6% para os seus investidores. Nós focamos em estratégias de menor risco do que as unitranche, considerando que apenas focamos em dívida senior secured, mais perto de um nível de risco BB/BB+, mas mantendo os 6% de retornos líquidos esperados. É um alfa muito significativo em relação a outras alternativas líquidas de rendimento fixo”, comenta.

Os negócios

“As empresas a que emprestam são normalmente de capital familiar e operam em sectores estáveis e Ignacio Díezrelativamente previsíveis. Tendem a ser principalmente negócios industriais, com um forte posicionamento de mercado, uma alavancagem moderada e cujas métricas de retorno não flutuam significativamente. Acabamos por investir em todos os sectores à exceção do sector de desenvolvimento imobiliário e nas financeiras”, descreve Ignacio Díez à Funds People.  Contudo, o almoço grátis da diversificação é aqui tão importante como no universo de ativos líquidos. “Temos regras de diversificação no fundo, tanto ao nível dos empréstimos como dos sectores. Esperamos ter cerca de 15 a 17 investimentos no fundo, o que não representa uma diversificação muito minuciosa, mas é vasta o suficiente em transações que são muito bem estudadas e estruturadas. Como já referi, estamos sempre posicionados num nível superior da estrutura de capital, e isso proporciona ma forte proteção e uma minimização das perdas no caso de ocorrer um default”.

Base de investidores

A entidade conta com uma vasta base de investidores institucionais no segmento de direct lending. Esta base assenta principalmente em empresas do sector segurador, mas também em bancos, gestores de ativos,  fundos de pensões e family offices. Procuram agora expandir a distribuição através de bancos privados, nos quais veem “uma muito boa receptividade”. “O fundo é especialmente apreciado pelos investidores conservadores  que estão focados na preservação de capital, mas que querem algum retorno nesse capital. São dois aspetos que não são facilmente reconciliáveis hoje em dia”, expõe. Para Ignacio Díez, a grande desvantagem destas abordagens de investimento é a falta de liquidez. Por isso, como em todos os ativos de investimento e especialmente nestes, em que a liquidez é escassa, “os investidores devem manter uma perspectiva e um horizonte de investimento de médio-longo prazo”.