A atratividade das ações europeias

Joe Williams, CFA
Cedida

É certo e sabido que os mercados têm passado por um início de ano algo complicado, com períodos de maior incerteza e, consequentemente, com a volatilidade a dar sinais de si. O mercado acionista europeu, por sua vez, parece não ter sido imune a estes factores. Contudo, Joe Williams, CFA, managing director na BlackRock, acredita que o “resultado final” para o mercado acionista europeu em 2018 e 2019 será mais positivo do que o contexto que tem sido verificado desde o início deste ano. Isto porque, para o especialista, ainda existe um elevado potencial de crescimento para as empresas europeias e o contexto dos lucros das empresas europeias é um dos factores que contribui para esta visão: “Durante algum tempo, não vimos os lucros a crescer. Na verdade, as expectativas relativamente aos resultados foram defraudadas nos últimos anos. No entanto, em 2017, verificámos uma trajetória completamente diferente e os lucros estiveram em linha com as expectativas”. Dito isto, acredita que ainda há um longo caminho para percorrer no mercado europeu, uma vez que os lucros “ainda se encontram 25% abaixo do máximo”.

O crescimento global sincronizado tem sido, obviamente, um factor fundamental para o bom momento económico europeu. Para Joe Williams, é necessário ter em conta que “cerca de 58% das receitas do mercado acionista europeu são internacionais e que apenas 42% provém do mercado doméstico”. Como tal, o crescimento dos lucros verificado desde 2017 está relacionado não só com o facto da economia doméstica estar em crescendo, mas também com o facto das economias globais estarem numa expansão sincronizada. A política monetária acomodatícia é, por sua vez, outro dos elementos importantes na manutenção do crescimento no mercado acionista europeu. Quanto a este ponto, o especialista acredita que a normalização da política monetária demorará a acontecer. “Para nós, é bastante provável que o BCE seja obrigado a manter a política atual durante algum tempo. Temos visto um crescimento muito tímido da inflação, mas não acreditamos que chegue tão depressa aos 2%. As próprias expectativas do BCE apontam para uma inflação em torno dos 1,8% em meados de 2020”, explica.

Poderá o crescimento continuar?

Tal como destaca Joe Williams, nos últimos meses registou-se uma desaceleração de alguns dos principais indicadores, o que levou ao surgimento de dúvidas quanto à continuação do crescimento no mercado europeu. No entanto, para o especialista, o momentum atual poderá continuar, e explica porquê: “Se o crescimento dos lucros se mantiver e se a ‘earnings season’ se revelar forte na Europa, isto poderá acalmar o mercado, assegurando que a recuperação ainda continua em curso”.

Posicionamento

A equipa de investimento assume uma abordagem de stock-picking, pelo que não pretendem transacionar volatilidade: “Não queremos negociar volatilidade nos nossos portfólios. Como tal, procuramos que o risco seja ‘stock specific’ e equilibrado, não assumindo demasiado, para estarmos protegidos perante um eventual aumento da volatilidade”, explica Joe Williams.

Por outro lado, a visão da entidade relativamente às ações europeias reflete-se nos sectores a que dão maior e menor preferência. Atualmente, encontram-se sub-ponderado no sector bancário. A razão, de acordo com o especialista, tem que ver com a subida das taxas: “Sabemos que é um posicionamento contrarian, mas não conseguimos encontrar investimentos de qualidade numa perspetiva de longo prazo. A maior parte dos investidores espera uma subida de taxas mais rápida, o que permitirá um crescimento potencial dos lucros no sector, mas estamos mais dovish relativamente a essas subidas”, explica.

O sector no qual se encontram mais positivos é, por outro lado, o sector industrial. “A nossa maior sobreponderação é o sector industrial. Não existe uma área na qual estejamos mais positivos, os nossos portfólios apresentam uma grande diversidade. Temos uma combinação de exposição a ativos de infraestruturas defensivos e cíclicos, bem como aeroespaciais e de defesa”, revela o especialista.

Uma tendência clara

Para o profissional, parece existir uma clara tendência, a nível global, para a entrada em fundos de ações da zona euro e europeias, excluindo o Reino Unido. Quanto às razões, Joe Williams defende que está relacionada não só com a tentativa de evitar o risco do Brexit, mas também com a intenção de obter uma maior exposição ao ambiente do mercado doméstico, “uma vez que o mercado da zona euro é o mais sensível ao ambiente doméstico”, adianta.