“Os ETF não são uma ameaça à indústria de fundos. Haverá sempre espaço para gestão ativa e passiva"

Paulo Pacheco, Banco Português de Gestão
Cedida

Os ETFs são mais um instrumento que os investidores têm à sua disposição para atingir os objetivos a que se propõem. A importância dos ETFs nas carteiras dos investidores tem-se acentuado desde o início do séc. XXI. Essa importância deve-se ao reconhecimento por parte dos investidores para a relevante temática, gestão ativa versus gestão passiva.

Nas últimas duas décadas, inúmeros estudos têm apresentado conclusões consistentes que apontam no sentido de que apenas um quarto dos fundos de gestão ativa batem o seu benchmark em 3 anos consecutivos. Essa percentagem reduz-se acentuadamente se aumentarmos o horizonte temporal de análise, isto é, torna-se difícil encontrar um gestor ou uma estratégia que crie valor de forma consistente em períodos alargados. Perante tal evidência, os investidores que pretendem exposição a mercados eficientes, procuram alternativas Low cost aos tradicionais fundos, surge então o espaço para os ETFs. Estes não visam a criação de alpha, mas sim minimizar o tracking risk.

Na ordem do dia, em ambas as margens do Atlântico, discute-se a problemática “Closet Indexing”. Mais uma vez, estudos recentes têm demostrado que uma significativa percentagem de fundos que operam em mercados eficientes e que publicitam gestão ativa, não respeitam o mandato a que se propõem, e não “justificam” as comissões cobradas aos investidores por uma atividade (gestão ativa) que na prática não a desempenham. Na Europa, a ESMA (European Securities and Markets Authority) tem analisado as práticas de gestão e alertado os investidores para este fenómeno. Torna-se então imperativo, enquanto investidor/selecionador de fundos um olhar crítico para a conjugação destes três critérios, tracking error, r-squared e active share.

Comissões. Neste ponto, estamos perante um paradoxo. É consensual e uma das premissas da economia de mercado, que os investidores paguem mais pelos melhores gestores de fundos. No entanto, no longo prazo é precisamente a comissão o fator mais penalizador na acumulação de riqueza. Aqui também se assiste a uma tendência generalizada de descida das comissões de gestão, fruto do novo equilíbrio estabelecido entre investidores e gestores de fundos, onde os ETFs foram o mote desse novo equilíbrio. No período que vivemos, com baixos retornos na generalidade dos mercados, as comissões tornaram-se fator determinante na tomada de decisão.

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Também são conhecidos os elevados custos monetários e emocionais (regret aversion) para selecionar/reter os melhores fundos e não selecionar/alienar fundos com pior desempenho.

Concluindo, não considero que os ETFs sejam uma ameaça para a indústria de fundos. Há e haverá sempre espaço para ambos, mas é claramente uma fonte adicional de pressão ao gestor com performance relativa negativa e inconsistente ou com gestão ativa que não justifica o nível de “comissionamento.”