Um campeão de Reguengos

Não deliro com vinhos alentejanos, mas há (cada vez mais) excepções. Acabo de descobrir uma delas, o Poliphonia Signature 2008 (PS 2008), que me foi oferecido pelo Natal pelo meu bom amigo Paulo Soares Esteves, e a quem foram feitas as devidas honras ainda antes do final do ano a acompanhar um pato assado recheado com os seus próprios fígados e aromatizado com alecrim, tomilho, salva, erva limão e louro – uma delícia.

O Poliphonia Signature é provavelmente o vinho de maior calibre colocado no mercado por Henrique Granadeiro com a ajuda do enólogo Pedro Baptista. É produzido em anos excepcionais e com uvas de talhões seleccionados da herdade do Monte dos Perdigões nas redondezas de Reguengos.  As castas utilizadas variam de ano para ano, sendo o objectivo escolher aquelas que oferecem melhor qualidade. Por exemplo, este 2008 foi feito com Alicante Bouchet e Syrah, mas a versão do ano anterior combinou Aragonês com Petit Verdot. Uma boa ideia, já que permite optimizar o vinho, e que tem como atractivo adicional poder resultar em vinhos potencialmente muito distintos de ano para ano.

Este PS 2008 pode ser justamente apelidado como campeão do mundo, pois acabou por obter a mais alta votação entre os 8397 vinhos provados no concurso mundial de Bruxelas de 2012, conforme foi amplamente noticiado à época. Convém esclarecer que o concurso de Bruxelas não é o único e que não congrega todos os vinhos – os Pétrus deste mundo não precisam de medalhas destas para nada – mas ainda assim é um feito absolutamente notável e que confirma a elevada qualidade de alguns vinhos nacionais.

Quanto ao líquido propriamente dito, é um vinho muito elegante e equilibrado – corpo relativamente magro mas sedoso, nariz relativamente contido e onde também se notam algumas notas cítricas, o que é absolutamente insólito em tintos. Provavelmente, um bebedor mais técnico chamar-lhe-iam notas vegetais … Na boca, a fruta madura e o cacau tipicamente associados ao Syrah são complementados por taninos bem estruturados e uma acidez q.b. que lhe é provavelmente conferida pelo Alicante Bouchet. Há um pouco de tudo neste vinho, e  creio que aquilo que melhor o define é a complexidade, a elegância e o equilíbrio – parabéns ao enólogo.