Três gráficos para entender o estancamento da indústria de gestão ativos

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Carbon Arc, Flickr, Creative Commons

Em 2015 a indústria de gestão de ativos registou o seu pior ano desde a crise financeira de 2008. O crescimento dos ativos sob gestão estancou. Os novos fluxos líquidos, as receitas e as margens caíram, enquanto que a pressão sobre as comissões continua a aumentar. A debilidade mostrada pelos mercados financeiros e as turbulências nos mercados de divisas têm sido factores que explicam, em boa medida, o padrão registado no crescimento da indústria. Os dados publicados no 14º relatório anual realizado pelo The Boston Consulting Group sobre a indútria de gestão de ativos a nível mundial evidenciam claramente o padrão registado pelo sector. O volume total de ativos sob gestão registado pela indústria permaneceu praticamente estável em 2015, crescendo apenas cerca de 1% relativamente ao ano anterior, até aos 71,4 biliões de dólares, face aos 70,5 biliões de 2014.

Estes dados estão muito longe do crescimento que a indústria tem vindo a experimentar durante os últimos anos. Basta recordar que em 2014 o aumento tinha sido de 8% e que, em média, a taxa de crescimento anualizada desde 2008 tinha sido de 5%. Segundo explicam da consultora, isto deve-se aos fluxos líquidos de entrada mais tépidos, e ao comportamento negativo dos mercados, que não tem ajudado a impulsionar o património da mesma forma do que em anos anteriores. A agitação registada pelas obrigações durante o primeiro semestre de 2015, a crise chinesa e o nervosismo gerado pela primeira subida de taxas da Fed têm sido elementos que explicam a indefinição dos mercados e a travagem nos novos fluxos de entrada, uma tendência iniciada em 2015 mas que tem continuado em 2016. Ao mesmo tempo, a valorização do dólar também reduziu o valor dos ativos denominados nesta divisa (ver gráfico 1).

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Por outro lado, os lucros do sector cresceram ao mesmo ritmo do que o património gerido, ou seja, cerca de 1%, até alcançar os 100.000 milhões de dólares. Os lucros, como percentagem das receitas, permaneceram em torno dos 37%, ligeiramente abaixo  dos níveis de 2014 devido ao aumento dos custos de gestão aos quais as gestoras de ativos fizeram face. “Dado que os custos da indústria aumentaram cerca de 4% em 2015, um ponto mais do que as receitas líquidas, as entidades terão que tomar medidas de eficiência ainda mais audazes para reduzir o crescimento dos gastos e tornar mais flexíveis as suas estruturas de custos para dar resposta a um contexto em que as fontes que provocam o crescimento das receitas estão sempre em mudança”, indicam da Boston Consulting Group (ver gráfico 2).

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No que diz respeito às margens, estas continuam a cair. Em 2013 estavam nos 28,9 pontos base. Desse nível passaram para os 28,1 pontos um ano depois para se situarem, em 2015, nos 27,7. Isto deve-se fundamentalmente à redução das comissões que a indústria está a levar a cabo. A redução tornou-se visível em todas as tipologias de clientes. Do lado institucional, esta aparece motivada pela intensa concorrência que existe no mercado, e a maior vigilância que existe por parte das autoridades no que diz respeito às comissões que cobram aos seus clientes. No retail, o cada vez maior poder dos distribuidores e o impulso dos reguladores pela transparência e a justiça das comissões são factores que comprimem as margens. Historicamente, a redução das margens tinha acontecido por causa de mudanças no mix de produtos, embora em 2015 não tenha sido assim e se tenha devido à pressão sobre as comissões, o qual se deixou de sentir com especial intensidade sobre as gestoras tradicionais”, assinalam da consultora.  

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