Três efeitos não intencionados das taxas negativas e uma conclusão da BlackRock

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i_yudai (Flickr Creative Commons)

A decisão do Banco do Japão de introduzir a política de taxas negativas e as fortes vendas posteriores do sector bancário a nível mundial voltaram a colocar no olho do furacão este tipo de medida. Especialmente porque o BCE se reúne na semana que vem, e muitos preveem mais medidas neste sentido para tentar reanimar a taxa de inflação, que voltou a encerrar fevereiro em negativo. Rick Rieder, diretor de investimentos de obrigações globais da BlackRock, considera que este tipo de políticas monetárias não só não são úteis para reactivar o custo de vida – ao obrigar os bancos a aumentar os seus empréstimos a empresas e famílias – como também são contraproducentes e subestimam várias tendências globais das quais fala em seguida.

A primeira dessas tendências é o envelhecimento da população. “É provável que se reduza o caminho potencial de subida do crescimento económico por muitos anos, especialmente nos países desenvolvidos”, observa Rieder. A propósito: o Japão é o país com a população mais envelhecida do mundo. “Em muitos países e regiões, incluindo o Japão, Europa e, cada vez mais, a China, um maior número de pessoas estão a receber das suas economias em vez de contribuir para elas”, aponta o especialista.

Rieder assinala como segundo factor “o facto das métricas económicas tradicionais não estarem a manter o ritmo face à rápida inovação tecnológica, o que significa que é provável que a economia global o esteja a fazer muito melhor na realidade do que aquilo que os números económicos referem”. O especialista dá um exemplo destas métricas que não estão a refletir bem a realidade económica: o impacto da tecnologia sobre as tendências inflacionistas, especialmente as que se conhecem como “má inflação” (alimentação, energia, alugueres).

A terceira consequência – esta não intencional – tem que ver com a tendência para a poupança. “Num contexto de taxas negativas, em vez de serem castigados por poupar, pode ser que os aforradores tentem manter a sua riqueza em ativos tangíveis como as barras de ouro. Essa dinâmica de acumulação e proteção pode criar uma escalada dos mercados opacos e comportamentos ilícitos”, alerta Rieder.

Crítica à política de taxas negativas

O especialista clarifica que no momento em que os bancos centrais adoptaram pela primeira vez a solução pouco ortodoxa das taxas negativas, esta foi justificada pela necessidade de reduzir rapidamente o excesso de alavancagem. “Consequentemente, um subsídio de curto prazo dos aforradores para os credores através  do canal das taxas de juro teria muito mais sentido naquele momento”. No entanto, Rieder acredita que as circunstâncias atuais já não são as apropriadas para insistir por este caminho, porque chegou-se ao efeito contrário: ficar com o dinheiro das entidades aforradoras não é necessariamente um estímulo à concessão de crédito. “Na verdade, pode ser que empresas e consumidores tenham uma propensão marginalmente mais baixa para gastar em tempos de incerteza”, assegura.

Igualmente Rieder descarta que as taxas em território negativo tenham efetividade atualmente sobre a taxa de câmbio, ao debilitar a divisa. Na verdade, considera que nos tempos que correm “é provável que seja menos efetivo, porque todos os países estão a tentar desvalorizar a sua divisa”.

A segunda crítica a este tipo de políticas de Rieder tem a ver com os seus efeitos sobre a parte curta da curva, “num momento em que poucos negócios usam o financimento a curto prazo para as suas necessidades de crédito”. Ou seja, quem poupa volta a ser prejudicado, juntamente com as instituições financeiras, por causa da compressão das margens.

Soluções alternativas

Rieder propõe uma solução alternativa para evitar efeitos muito prejudiciais das taxas de juro negativas: aplicar novas políticas fiscais, “incluindo aquelas que ajudem os trabalhadores a ganhar os conhecimentos necessários num mundo de tecnologias que mudam rapidamente”. Paralelamente, apoia a efetividade dos programas de estímulo quantitativo – o QE  - por causa da sua capacidade para reduzir a volatilidade, melhorar a confiança e incentivar o gasto e o investimento.

Mas, para lá das taxas, ao terem passado sete anos desde a crise financeira, acredito que os mercados, os sistemas financeiros e as economias necessitam de uma oportunidade de se recalibrarem para uma postura sem estímulos”, acrescenta Rieder em último lugar. Este despede-se com um aviso: “Se os bancos centrais continuarem a introduzir políticas que não tenham sido provadas previamente em resposta da debilidade cíclica e de pressões regionais específicas, arriscam-se a fazer mais mal do que bem”.