“Tentamos olhar mais além das crises financeiras”

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Nuno Coimbra

A vinda de Mark Mobius a Portugal constitui sempre uma oportunidade que muitos dos profissionais da gestão de ativos nacional não gostam de perder. O ‘guru’ dos mercados emergentes – como é conhecido - e Executive Chairman  do Templeton Emerging Emerging Markets Group esteve em Lisboa no passado dia 5 de junho, e essa foi mais uma oportunidade para que os convidados presentes no Hotel Intercontinental pudessem ouvir as tão caraterísticas – e originais – histórias de Mobius.

Em conversa com a Funds People Portugal, inevitavelmente a entrevista começou pelas habituais viagens que o profissional faz, que, depois, nos guiam à resposta à pergunta: “Que oportunidades existem nos mercados emergentes atualmente?”.

“Um dos destinos que temos explorado ultimamente é a Roménia. Há cinco ou seis anos atrás o governo romeno pediu-nos que geríssemos um fundo, de forma a compensar a perda de imobiliário que o país registou durante o período comunista. Eles injetaram todas as ações do Estado neste fundo”, refere. Presentemente o produto tem crescido “muito” e tem apresentado “um trajeto bastante favorável”. “Conseguimos agora perceber o valor da presença da Roménia na União Europeia, porque o governo tem de estar atento às regras e às reformas que lhe são exigidas”, comenta. Dentro da União Europeia, para Mark Mobius, a Roménia constitui um país onde se podem encontrar “excelentes oportunidades”.

Oportunidade está além do óbvio

Para o especialista em mercados emergentes as oportunidades estão muitas vezes onde menos se espera e, por isso, entende que o contexto macroeconómico acaba por ser uma “cortina” que esconde determinados pontos atrativos. Recorda a este propósito que quando lançaram o Templeton Asian Growth, tiveram que lidar com vários eventos, como a crise financeira nos EUA, a bolha das dot.com, ou a própria crise asiática ou a do subprime. “Com todas elas aprendemos que os ‘bull markets’ duram mais tempo do que os ‘bear markets’”, razão pela qual tentam sempre a olhar mais além da crise financeira”.

Velha especulação sobre o ‘hard landing’ chinês

Porque a China é sempre um assunto a abordar quando se fala de emergentes, e tratando-se de um país que acaba por não reunir opiniões consensuais, Mark Mobius  deixou o seu ponto de vista positivo. “Em primeiro lugar importa sublinhar que a China continua a crescer”, afirmou. Prosseguiu com os outros pontos fortes: “Em segundo lugar, os consumidores chineses estão a tornar-se ricos. Têm dinheiro para investir em países da periferia como Portugal, em imobiliário, em grandes marcas de luxo, etc”. Segue-se a componente política. “O governo chinês está a levar a cabo reformas estruturais, de forma a alcançar uma economia de mercado, e com o objectivo de eliminar a corrupção”. A vontade que o país tem de se tornar mais “agressivo” a uma escala global é o quarto ponto que Mobius aponta, referindo que isso se denota “em termos económicos, mas também militares e políticos”. Salienta mesmo que em termos económicos é clara a tentativa da China se tornar os novos EUA, embora “na esfera política essa ambição não exista”. Outro ponto salientado na ambição da China se tornar um modelo económico mais aberto tem a ver com a própria moeda. “O governo chinês quer que o Renminbi passe a ser uma moeda de reserva mundial, e acredito que isso possa acontecer no futuro”.

Surpresas continuam a ser uma constante

Em última análise, os Emergentes são vistos como uma região em constante mutação, “nada estática, com empresas novas a aparecer”, muito embora se assinalem quase sempre os mesmos fundamentais enquanto ventos favoráveis. A estrutura demográfica mais jovem, a existência de recursos naturais ou o desenvolvimento tecnológico em expansão continuam a ser pontos incontornáveis de atratividade. Mas será que depois de tantos anos de experiência, Mark Mobius ainda se surpreende com algum destes países? “Todos os dias”, responde.  O Brasil, por exemplo, aparece num leque de países em que as surpresas têm sido negativas, por causa dos “níveis de corrupção observados ultimamente”. A China, por outro lado, tem surpreendido pela positiva, por causa da “muito rápida abertura dos mercados domésticos aos investidores internacionais”. Mobius resume que a maioria dos movimentos que se assiste nestes países são “guiados pelas políticas e pelos requisitos domésticos”.

As últimas palavras de análise foram dedicadas a África. “Estamos bastante otimistas relativamente ao continente africano. A taxa de crescimento dos países é muito alta  e os mercados de capitais têm vindo a desenvolver-se bastante”. As oportunidades de investimento sucedem-se, refere, apontando em específico o potencial de países como a Nigéria, o Gana, o Quénia, o Zimbabué, o Botswana e a África do Sul. Sobre este último diz mesmo que “as empresas se estão a mover acima da média das restantes empresas africanas”.