Taxas de juro: com que rapidez vão subir?

Carlos Bastardo
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Neste artigo número 50 (o tempo passa depressa; parece que foi ontem que o blog Outside-In começou e já passaram 50 meses), é importante refletir sobre um tema de inversão de ciclo e que começa a ganhar força: a subida das taxas de juro e o reflexo na evolução dos preços dos ativos financeiros.

A maior ou menor rapidez da subida das taxas de juro nos EUA vai depender da evolução do PIB e da evolução da inflação. Na reunião de 15/3, a Reserva Federal Americana (FED) subiu as taxas de juro (the overnight funds rate) do intervalo de 0,5% a 0,75% para o intervalo entre 0,75% e 1%, ou seja, uma subida de 0,25%. Este movimento era largamente esperado pelo mercado. Daí que a bolsa americana tenha subido nesse dia e as obrigações do tesouro americano a 10 anos após uma primeira subida para 2,62%, desceram no mesmo dia para 2,53%, continuando essa trajetória nos dias seguintes.

Nos EUA, as expetativas neste momento apontam para que as taxas de juros possam subir este ano mais 2 vezes (0,5%) e três vezes em 2018 (0,75%). Contudo, em 2018, as dúvidas entre os membros do comité do FED são maiores quanto à evolução das taxas de juro.

No final de 2017 já será possível quantificar alguns dos efeitos da política económica do presidente americano, sobretudo da sua política fiscal expansionista. Caso se confirme ao longo do ano uma aceleração no ritmo de crescimento económico, a política monetária terá que acompanhar essa evolução, pois não convém que o FED fique behind the curve.

Por enquanto, as expetativas do FED de crescimento do PIB e da inflação nos EUA não registaram grandes oscilações nos últimos três meses. A principal mensagem dos membros do FED é que a economia americana continua bem, o que deixa margem a novas subidas dos juros este ano.

Horas mais tarde, o Banco do Japão não mexeu na sua política monetária pelo que aumentou a divergência de ciclo face aos EUA.

Na Europa, a situação é diferente. Num ano com múltiplas eleições, nomeadamente na Holanda (já ocorridas), em França (as mais importantes para o futuro da Europa) e na Alemanha, a divergência da política monetária com os EUA está para durar. Antes de começar a subir as taxas de juro, o BCE deverá primeiro abrandar o ritmo do quantitative easing.

O programa de compra de títulos do BCE irá prolongar-se por mais alguns meses (até final do ano), podendo sofrer uma redução em 2018, mas tudo irá depender do ritmo de crescimento económico. A inflação em fevereiro de 2017 ficou nos 2% na zona euro, mas devido à subida do preço dos combustíveis.

E que efeitos terá nos preços dos ativos financeiros uma subida das taxas de juro nos EUA? Se a subida dos juros for mais acentuada do que o esperado pelo mercado, logicamente que os preços das obrigações irão descer com a subida das yields. As ações porque estão em máximos poderão ter um acréscimo de volatilidade, com eventuais períodos de correção.

Os encargos financeiros das empresas vão subir, o que irá afetar negativamente os resultados. No entanto, caso a economia americana seja mais dinâmica que os atuais 2%, haverá um efeito positivo nos resultados das empresas. Situação idêntica para as empresas europeias.

Ou seja, numa fase inicial as obrigações serão mais castigadas que as ações (tal como em ciclos de subida de juros anteriores).

Em conclusão, muitos analistas financeiros consideram que o risco para já está mais no lado das obrigações do que das ações. A inclinação da curva das taxas de juro será maior ou menor em função da confirmação dos dados macroeconómicos estimados.

Os próximos meses vão ser decisivos para se ter uma visão clara da trajetória das taxas de juro nos EUA e mais tarde na Europa.