Subida das taxas de juro nos EUA: a visão de José Badalo e Diogo Pimentel

Jos_C3_A9_Badalo_Diogo_Pimentel_PB
Cedida

As conversas em torno da subida das taxas de referência americanas são já um tema, por um lado, antecipado pelos mercados e, por outro, sentido pelos profissionais da gestão como um evento a ter início a partir do próximo mês de setembro, numa lógica de processo de normalização das taxas diretoras na maior economia do mundo.

A Funds People Portugal falou com dois gestores de fundos de ações norte-americanas – Diogo Pimentel (à direita na foto), da Santander Asset Management e José Caras-Altas Badalo (à esquerda na foto), da BPI Gestão de Activos, sobre este contexto de mercado e de que forma olham para as suas carteiras a fim de saírem beneficiados da subida das taxas de juro.

O gestor do fundo vencedor de rendibilidades em 2014BPI América (categoria denominada em euros) começa por dizer que “a subida das taxas de referência americanas, tem vindo a ser antecipada pelo mercado ao longo dos últimos semestres, sendo que já em 2014 se apontava para uma subida que poderia ocorrer mesmo antes de Setembro”. Acrescenta que, a nível interno, a “economia americana tem seguido o trilho relativamente positivo, o que num contexto global mais favorável, já teria resultado numa subida de taxas por parte da reserva federal. No entanto, os factores externos têm vindo a pesar cada vez mais num adiar do ciclo de subida de taxas: o abrandamento global, instabilidade na Zona Euro, abrandamento da China, Brasil e emergentes em geral e queda dos preços da energia”, cujo efeito esperado era de “de um maior impacto no aumento do consumo das famílias mas na realidade, têm redireccionado grande parte da redução da sua despesa para poupanças”, diz o gestor. Por outro lado, menciona ainda, “a redução no preço dos combustíveis que veio camuflar a subida da inflação nos Estados Unidos. Na última leitura, o CPI ex-food and energy atingiu 1.8 yoy, o que não sendo ainda um nível preocupante, poderá pesar na decisão da FED”.

Diogo Pimentel, por seu lado, não faz uma análise macro exaustiva, afirmando mesmo que essa “toma um lugar secundário já que não desenvolvemos estimativas macro para os mercados onde investimos e aceitamos como válidas as estimativas do consensus”. E, precisamente, na análise das estimativas do consensus para os FED funds e a curva forward americana “constatamos que o mercado está a descontar uma elevada probabilidade de até duas subidas da taxa de referência da FED até à reunião de Janeiro de 2016”, refere .

Gestão das carteiras: preferências na alocação

Quando o tema é a gestão dos fundos de investimento, José Badalo assume que “a subida das taxas é uma realidade para a qual o mercado já se tem vindo a preparar há vários meses, (pelo que) procuramos incorporar um equilíbrio que nos permita atravessar sem sobressaltos, uma fase de maior volatilidade que se pode esperar num contexto de subida de taxas”. Nesse sentido, da BPI Gestão de Activos a aposta mantém-se em linha com os últimos meses: “continuamos a apostar numa carteira com empresas capazes de gerar cash-flow, baixa alavancagem e boas perspectivas de crescimento de EPS e receitas para os próximos 12 meses. À semelhança dos últimos semestres, mantemos ainda a aposta em empresas com dividend yield elevado”. A ideia do gestor e respetiva casa de investimento é ter na carteira do BPI América um nível de diversificação “que nos permita conseguir uma volatilidade inferior ao mercado em geral, mantendo no entanto uma aposta no potencial de crescimento de alguns sectores”.

Por seu lado, o responsável pela gestão do Santander Ações América - fundo premiado no passado mês de maio, na primeira edição dos prémios Diário Económico/APFIPP na categoria de melhor fundo de ações americanas - salienta, desde logo, que “a filosofia de gestão da Santander Asset Management baseia-se num modelo bottom-up em que avaliação fundamental de cada empresa que investimos tem um papel central em todas as decisões de investimento”. Por esse motivo, o gestor indica sectorialmente as suas preferências: “acreditamos que o sector financeiro americano será dos mais beneficiados pela trajetória de subida de taxas. Em sentido contrário, vemos telecoms, utilities e consumer Staples, que são sectores que tipicamente têm elevados dividendos e que ao longo dos últimos trimestres beneficiaram do diferencial favorável entre os dividendos que pagavam e as baixas taxas por parte da FED”.