Rui Castro Pacheco: “As taxas de juro baixas foram um empurrão para aumentar o apetite por fundos de investimento”

RCP
Maximo Garcia

Foi à margem da conferência "Robótica, Revolução Digital e Cyber Segurança" organizada pelo Banco Best em parceria com a Pictet Asset Management, que Rui Castro Pacheco, head of asset management da plataforma portuguesa, falou à Funds People sobre o apetite dos investidores pelos fundos de investimento que assentam em ideias mais disruptivas, como os apresentados na referida conferência.

“Os fundos de robótica são sempre apelativos, embora investidores mais conservadores fiquem reticentes sobre estas estratégias. Estamos a falar de fundos de ações, sempre com alguma volatilidade, e em alturas em que embora a performance ajude a vender, há outras em que os mercados corrigem, e os investidores ficam mais apreensivos”, começou por referir o profissional, dando o mote para o assunto da dificuldade da manutenção dos clientes numa estratégia a longo-prazo. Da experiência que o head of asset management tem à frente da plataforma, é o primeiro a lidar com “investidores que não aguentam a volatilidade”, e que sofrendo com ela acabam por “reduzir os seus investimentos” para se manterem descansados.

Ainda assim, o contexto do final de 2016 e início de 2017 foi propício à procura por fundos de investimento. As taxas de juro baixas, aponta o especialista, foram o “empurrão” necessário para alguns clientes mais conservadores, que “só olhavam para depósitos a prazo”, começarem a aproximar-se do espaço dos fundos de investimento.  Este movimento, conta Rui Castro Pacheco, foi desafiante para a entidade, pois  “muitos desses investidores não se apercebiam que todos os investimentos têm risco – mesmo os depósitos a prazo ou obrigações como as alemãs – nem estavam familiarizados com o conceito de volatilidade. Ao dirigirem-se para os fundos de investimento começaram a ver uma cotação diária do seu investimento, o que para alguns foi uma novidade”. Nesse sentido, prossegue, os fundos com maiores captações nos últimos tempos “foram os de obrigações, ou os de obrigações flexíveis, ou até fundos que mostravam uma ligeira componente de ações”. Nesta incursão, o responsável da gestão de ativos sentiu ainda que muitos dos investidores “se aperceberam que faz sentido correr mais risco”, enquanto outros “começaram a olhar para determinadas temáticas e sectores, como por exemplo o da robótica, como complemento das estratégias mais core”.

Não esquecer novas tendências

Com um claro ADN tecnológico, o Banco Best tem tentado manter-se a par do que os clientes exigem no campo da inovação. Rui Castro Pacheco recorda que se há uns anos atrás a grande força tecnológica de vendas era o site, hoje em dia a app do banco já tem muitos seguidores. “Desde há cerca de três anos para cá é possível comprar e vender  fundos de investimento através da aplicação móvel, bem como conhecê-los melhor. Temos tentado ajustar as nossas ferramentas aos ecrãs dos telemóveis, muito embora para determinadas operações seja necessário um ecrã maior”, explica Rui Castro Pacheco.

Neste tema da tecnologia, o profissional acredita que há uma certa dualidade nos tempos que se vivem. “Se por um lado queremos simplificar tudo, e executar todos os conceitos com rapidez, por outro, existe uma grande procura por segurança e informação mais profunda sobre um investimento. Nem sempre é fácil lidar com isso, nomeadamente ao nível da regulação que é exigida aos bancos”, sintetiza. Em resumo, o especialista entende que é “desafiante compatibilizar a simplicidade e a rapidez com as exigências de segurança que se colocam em cima da mesa, hoje em dia”.

Tentativa de serem seletivos

Num crescimento que tem sido robusto ao longo dos últimos anos no que toca à disponibilização de fundos de terceiros no mercado, Rui Castro Pacheco está consciente de que chegou a altura de serem mais seletivos na estratégia. “Não faz sentido adicionar à oferta fundos de uma gestora sem motivo aparente. Aumentar-se-á a complexidade para os nossos clientes na hora de eleger os fundos, e isso não faz sentido”.

Explica que em termos de negócio estão a estudar para algumas sociedades gestoras – e já a implementar -, o modelo de paying agent. “Temos vindo a fazer alguns acordos com certas sociedades gestoras nesse sentido: não fazemos marketing ativo dos fundos, mas essas gestoras continuam com a possibilidade de falar dos seus produtos em Portugal, sem restrição”, explica.