Risco de Brexit: em que ponto estamos?

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@Doug88888, Flickr, Creative Commons

A sabedoria popular não costuma falhar na hora de descrever alguns sucessos da atualidade. Não vamos mais longe: o último alerta sobre o risco de Brexit, no atual contexto de mercado, pode trazer à mente de muitos a expressão: “um mal nunca vem só”. Recordemos: entende-se por Brexit o hipotético cenário em que os britânicos expressam via referendo a sua vontade de cortar os laços com a UE. Trata-se de uma promessa lançada por David Cameron, que incluiu, posteriormente, no seu programa eleitoral do ano passado, e que está disposto a levar adiante depois da experiência do referendo sobre a independência da Escócia. Mas quais as verdadeiras novidades sobre este assunto? Paul O’Connor, co-responsável da área de Multi-ativos na Henderson, recordava recentemente aos investidores que “o prazo de três anos estabelecido pelo primeiro ministro britânico, David Cameron, para negociar a relação do Reino Unido com a UE está a chegar ao fim”.

Concretamente, O’Connor explica que foi acordado um “anteprojeto de acordo sobre as reformas com o presidente do Conselho Europeu , Donald Tusk, e se apresentará para a sua aprovação por parte dos representantes dos outros 28 Estados Membros da UE numa cimeira que terá lugar a 18 e 19 de fevereiro”. O responsável lembra que “se for alcançado um acordo, o provável é que o referendo se celebre em junho, mais concretamente no dia 23”. Por outro lado, se da reunião não sair nenhum compromisso, então acredita que haverá a possibilidade de que se convoque uma nova reunião, esta de carácter extraordinário, na primeira semana de março e que, em todo o caso, “a ausência de acordo irá supor que o referendo teria que ser adiado até setembro ou ainda mais adiante”.

Se o tão falado referendo é um assunto que está há cerca de três anos na mente dos britânicos, qual é o perigo que isso pode representar para os mercados? Importa recordar que nos dias prévios ao referendo, a libra se desvalorizou contra o euro e o FTSE 100 registou vendas de investidores que queriam uma 'vacina contra' a incerteza. O representante da Henderson fixa-se nos resultados das principais sondagens efectuadas entre julho de 2015 e o mês atual, para assegurar que “a intenção de voto favorável de permanência na União diminuiu desde o verão passado, sendo que algumas dessas projeções já dão a vitória à saída da UE”. “Embora acreditemos que não existam motivos para descartar essa mensagem geral, a verdade é que nos questionamos em que medida devemos levar a sério as sondagens, visto que, na realidade, a campanha sobre o referendo não começou ainda e a população britânica não está totalmente envolvida no debate”, comenta O’Connor.

Desconstruindo as sondagens

Importa recordar que a última vitória dos tories foi contra todas as expectativas, pois não se previa de forma alguma uma maioria absoluta dos conservadores. Por isso o especialista aborda as metodologias empregues para a elaboração das sondagens sobre o referendo de saída da UE, para detectar uma divergência entre os resultados: os questionários telefónicos situam as posturas de permanência da UE em cerca de 60-40%, respectivamente , enquanto que os questionários online indicam uma proporção de 50-50%, aproximadamente. A interpretação feita por O’Connor é de que “as pessoas mais comprometidas politicamente poderão estar demasiado representadas nas sondagens online, enquanto é provável que os questionários telefónicos sejam mais precisos, tal como aconteceu nas últimas duas eleições gerais e referendos no Reino Unido”.

A visão da gestora britânica é que “a opção de permanência ganhará apoios quando a campanha se inicie a sério”, acreditando também que boa parte do Partido Conservador se unirá em massa ao primeiro ministro, aos outros grandes  partidos políticos e ao sector privado em defesa da permanência do Reino Unido na UE”. Neste contexto, assinalam no entanto que os resultados da votação podem ter uma mudança dramática se acontecer “qualquer acontecimento que abale a estabilidade da UE”, referindo-se em concreto à crise dos refugiados: “É um tema que atrai cada vez mais a atenção da população no país e poderá dominar não só os manchetes dos jornais aquando do período antes do referendo, mas também exercer uma influência sobre o seu resultado”.