Revisão anual do PSI-20: como foi vista pelos gestores de fundos de ações nacionais?

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Kris Sage, Flickr, Creative Commons

Numa entrevista recente a Nuno Marques - gestor do fundo premiado este ano nos Euronext Awards – o profissional “antecipava” um cenário que se veio a realizar muito pouco tempo depois, na mais recente revisão anual do PSI-20. O gestor do IMGA Ações Portugal enumerava quatro pequenas capitalizações de destaque, com forte potencial para se candidatarem ao índice de referência nacional. Nessa lista de quatro nomes constavam a Sonae Capital e a Corticeira Amorim, títulos que esta semana entraram no índice, “trocando” de lugar com a Impresa e a Teixeira Duarte. Novidade (grande) foi ainda a entrada para o PSI-20 das unidades representativas do Fundo de participação da CEMG  (Caixa Económica Montepio Geral).

Factores chave: visibilidade e atenção

Os gestores de ações nacionais que acederam falar à Funds People sobre esta revisão anual do PSI-20, não têm dúvidas que a principal consequência tanto para os títulos que saem como para os que entram, está relacionada com o factor visibilidade. Miguel Moedas, responsável pelo Banif Acções Portugal, diz que numa primeira análise “admitir que a decisão de introdução ou exclusão de empresas no principal índice nacional” tem “consequências ao nível do volume negociado nas mesmas” é algo plausível. A questão da visibilidade entra neste ponto com grande força pois, segundo Nuno Marques, não se pode deixar de inferir que “os títulos que entram ganham maior visibilidade junto do mercado, em contraposição com as saídas, que perdem”. Contudo “não podemos esquecer que estas alterações já são em si a consequência da realidade pois incorporam os diferentes percursos de liquidez dos títulos em causa”, alerta o gestor premiado recentemente.

Num mercado pequeno como o português, Hugo Custódio, da GNB Gestão de Ativos e gestor do NB Portugal Ações, reforça a importância  “das empresas nacionais pertencerem ao principal índice de referência acionista existente”, falando também de outras “vantagens”: “não só automaticamente as empresas veem ampliada a sua visibilidade, como existem vários instrumentos sobre os índices de mercado como ETF´s e derivados, ajudando também eles a aumentar os volumes transacionados das mesmas”. A presença no PSI-20 potencia também “o número de analistas a seguir os títulos”, o que, como recorda o profissional da GNB Gestão de Ativos, leva “a mais notas e relatórios sobre as empresas e, consequentemente, a uma maior volatilidade do título e da sua liquidez”.

A surpresa

A inclusão da Corticeira Amorim e da Sonae Capital no principal índice português não constituiu, como já referido, uma grande novidade para estes profissionais que seguem de perto o mercado nacional. Miguel Moedas diz mesmo que estas companhias “já vinham a apresentar qualidades de transação superiores às empresas que foram excluídas”. Novidade “maior” foi a inclusão das unidades de participação do fundo de participação da CEMG. Nuno Marques mostra-se surpreendido por ser “um instrumento de capital com características diferenciadas das ações”, embora seja “compreensível dada a dimensão atual do emitente no mercado nacional”. Um veículo entendido como diferente, mais que não seja “ao nível do direito de voto nas Assembleias Gerais”, como lembra Miguel Moedas. Da IMGA o profissional indica também que poderão surgir algumas restrições regulamentares  de exposição por se tratarem de unidades de participação de um fundo.

Da Banif GA, Miguel Moedas, faz questão de frisar que esta entrada vem, de certa forma, ocupar uma lacuna existente no que toca à exposição ao sistema financeiro, pois “poderá ocupar parcialmente o espaço deixado pela saída de outras entidades financeiras nos últimos anos”.

Que consequências para as carteiras?

Os gestores ouvidos pela Funds People reiteram que as suas decisões de investimento não se alteram com as mudanças. Hugo Custódio avança, no entanto, que “apesar de uma ação não pertencer ao PSI-20 não ser um fator de exclusão de investimento do fundo NB Portugal Ações, a sua liquidez é um fator crucial na tomada de decisão.”

Miguel Moedas afiança que no produto a seu cargo “as mudanças anunciadas não levarão a alterações materiais na maneira como o fundo é gerido”. A mesma opinião tem Nuno Marques, para querem continua a ser crucial “identificar oportunidades de investimento de médio ou longo prazo, não se alterando a percepção de valor de um ativo pela sua inclusão ou exclusão de um índice”. Ainda assim alerta que, numa análise feita à posteriori, caso “os padrões de liquidez das ações em causa se alterem de forma significativa”, poderia eventualmente aplicar-se “pequenos ajustes às posições já detidas em carteira”.