Quatro considerações que se devem ter em conta para investir em matérias-primas em 2017

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Davide _non so cos'è l'AccaDiErre, Flickr, Creative Commons

Considerando o acidentado ano de 2016 para as matérias-primas, mais a volta radical que deram os mercados após as eleições nos EUA - dólar mais forte, subida das taxas de juro nos EUA e a previsão de reflação - o que devem esperar os investidores no próximo ano?

"O crude contribuiu destacadamente para que a inflação se mantivesse baixa. Acreditamos que, a menos que aconteça uma queda maior no preço do petróleo, agora é um dos principais impulsionadores de uma inflação maior, principalmente através da medida interanual do IPC", detalham os analistas da Goldman Sachs AM. "O chamado efeito base poderá ser substancial, especialmente na primeira metade de 2017", assinalam.

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Os analistas esclarecem que a recuperação da inflação será positiva, para afastar o medo de estagflação a favor de um abiente de "crescimento nominal mais saudável, maior emprego e crescimento salarial, preços mais estáveis das matérias-primas, crescimento potencial dos lucros corporativos e taxas de juro moderadamente mais altas. No entanto, advertem que "a inflação poderá ser uma faca de dois gumes em 2017, se se refletir no preço muito rapidamente".

Da PIMCO têm uma visão mais cautelosa. Andrew Balls, diretor de investimentos em obrigações e Joachim Fels, assessor económico, indicam que a "melhoria do ambiente macro, assim como os sinais de disciplina de alguns produtores da OPEP e os sinais de ajuste avançado entre a oferta e a procura de várias matérias-primas, impulsionaram as previsões em termos gerais". Os especialistas afirmam que, com as valorizações atuais, "as matérias-primas continuam a oferecer valor como diversificadores e como proteção contra a inflação".

Dito isto, e tendo em conta o rally generalizado nesta classe de ativos durante 2016, os especialistas acreditam que "provavelmente a responsabilidade é colocada sobre a OPEP, para que cumpra os seus acordos, e sobre os estímulos fiscais e outros motores macro positivos, para mudar as expetativas para a realidade".

Neil Dwane, estratega global da Allianz Global Investors, espera um aumento gradual do preço do crude para os 55 dólares para o final de 2017, embora afirme que a meta final seriam os 60 dólares o barril": os 60 dólares são o ponto crítico no qual a indústria pode começar a autorizar projectos".

Dwane baseia a sua expetativa de recuperação dos preços em duas variáveis. Por um lado, faz notar que o potencial de recuperação do preço do crude está limitado entre os 65 e os 70 dólares devido "à normalização de uma oferta alta pouco usual através de uma interrupção da produção". Por outro lado, explica que "é provável que se incremente a procura em mais de um milhão de barris por dia, a não ser que aconteça uma recessão global".

Quanto ao recente acordo da OPEP - apoiado pela Rússia e pelo Omán - o estratega afirma que a "organização é disfuncional, mas a Arábia Saudita pode mexer nos preços sozinha, embora esteja financeiramente em stress". A isto acrescenta que a "Rússia irá, provavelmente, manter o seu apoio no acordo".

Sobre o preço do ouro, o especialista alerta que "as previsões dependerão da política monetária da Fed, mas apenas se esperará um aumento abrupto dos preços se o 'dinheiro helicóptero' se tornar realidade".

EFAMA set 2016

Mark Burgess, diretor global de ações na Columbia Threadneedle Investments, explica que "a expansão quantitativa enviou aos produtores um sinal errado para continuar a investir, o que se taduziu numa reação exagerada nos preços e obrigou os produtores a fechar minas e poços de petróleo". Esta reação estimulou a procura e por isso o Mark Burgess declara-se mais otimista em relação às commodities para o próximo ano.

O especialista explica que os preços baixos que as matérias-primas experimentaram nos últimos anos "foram um estímulo para os consumidores devido aos baixos preços de petróleo nos mercados desenvolvidos e dos alimentos a preços mais acessíveis nos emergentes" e adverte que "estes preços podem estar agora prontos para subir".

"Não há dúvida de que os estímulos fiscais, em forma de projetos de contrução de infraestruturas, beneficiam as commodities e mesmo sem o 'famoso muro' não faltarão projetos nos EUA e noutros países que impulsionem o sector", refere.

Duas consequências inesperadas

A evolução do preço das matérias-primas vai trazer consigo pelo menos dois efeitos colaterais. Um deles é detalhado por Steve Drew, responsável de dívida corporativa emergente da Henderson: "É previsível que vejamos emissões contínuas de dívida soberana em 2017, especialmente no Médio Oriente. Os défices orçamentais destas economias dependentes do petróleo, provavelmente, vão ser convertidos em emissões de dívidas frequentes nos mercados de capitais de um modo que não tinha acontecido no passado, já que o preço do petróleo parece fixar-se entre os 40 e os 50 dólares o barril".

O segundo efeito é explicado por Prakriti Sofat, economista de mercados emergentes da Goldman Sachs AM: "O grau de agressividade das medidas protecionistas dos EUA será um importante indicador da possibilidade de que se apliquem tarifas sobre a importação nos EUA", explica Sofat; estas tarifas agravariam o preço de algumas matérias-primas (ver gráfico).

Fundos UCITSO economista indica que a possibilidade da China adoptar este tipo de medidas "será menos eficaz, porque as exportações dos EUA para a China não são tão grandes como as exportações da China para os EUA".

O especialista esclarece que "as tarifas iriam colocar a pressão alta sobre o preço dos bens importantes e poderiam contribuir para aumentar a inflação, dando mais motivos para que a Fed subisse as taxas de juro."

Caso aconteça o cenário de guerra comercial em que os EUA venham a impôr fortes tarifas à China e ao México e se estes países responderem com outras medidas, o "efeito negativo sobre o crescimento e o sentimento do mercado poderia ser um catalizador para um grande ponto de inflexão nos mercados".