Quantificação do impacto dos riscos políticos e conselhos para proteger a carteira

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Little_Pan, Flickr, Creative Commons

Não é segredo que o risco político e os seus diferentes prismas – risco de fragmentação, instabilidade, paralisia das reformas, auge de ideologias extremas – têm vindo a ganhar protagonismo nos últimos anos. No entanto, depois de em 2014 se ter demonstrado como é que a política – na sua vertente de catalisador de reformas – foi chave para os mercados emergentes (veja-se o caso da Índia), agora é a vez do mundo desenvolvido ter esses  mesmos problemas. Há duas semanas os EUA celebraram a “Super terça-feira”, jornada na qual doze estados votaram os delegados e candidatos de cada um dos partidos concorrentes, e que serviu para confirmar a popularidade de Hilary Clinton e Donald Trump, como candidatos respectivamente do Partido Democrata e do Partido Republicano. A semana passada também Espanha celebrava a primeira sessão de investidura depois de mais de mais dois meses sem governo. Some e segue: as recentes eleições na Irlanda puseram um ponto final à coligação que guiou o país depois do resgate, e agora o “Tigre Celta” dirige-se a um impasse similar ao espanhol.

No início da semana passada, a libra sofreu como resposta ao anúncio da data para o referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE. “No caso de um eventual voto a favor de abandono da UE., esperaríamos uma maior pressão da queda da divisa com o anúncio do resultado. No entanto, o nosso cenário principal, em linha com as apostas e a sondagem de votos, é que o Reino Unido votará a favor da permanência na UE”, comentam da J.P. Morgan AM. Da gestora consideram que, materializando-se este cenário, “poderá acontecer uma reação em forma de rally à libra, embora atualmente o atual défice por conta corrente no Reino Unido possa limitar a subida”. “Acreditamos que o voto a favor de abandonar a UE seria mau para o crescimento do Reino Unido, e que os eleitores não vão querer arriscar prejudicar a recuperação económica”, concluem da gestora. Tanguy Le Saout, responsável de obrigações europeias da Pioneer Investments, acrescenta uma frase de Churchill para ilustrar o clima político na Europa, atualmente: “Alguns homens mudam de partido pelo bem dos seus princípios; outros mudam os princípios pelo bem dos seus partidos”. Le Saout acredita que a citação é especialmente recorrente para descrever a manobra política do Major de Londres, Boris Johnson, que se posicionou publicamente a favor do Reino Unido abandonar a UE: “Representa a sua melhor oportunidade para se converter no líder do partido conservador do Reino Unido”.

No entanto, o gestor também comenta os acontecimentos na Irlanda e em Espanha e, especialmente, chama a atenção sobre as recentes declarações de Dimitris Avramopoulos, Comissário da Migração da UE. Avramopoulos afirmou que o Acordo de Schengen poderá romper-se no prazo de dez dias se os países da União não alcançarem rapidamente uma solução para travar a crise migratória. “Acrescento a tudo isto o facto de cinco países celebrarem referendos sobre políticas da União ao longo do próximo ano, sendo por isso fácil perceber porque é que o projeto europeu poderá ser travado”, comenta. A sua proposta para enfrentar este contexto complexo: “Tudo isto nos relembra que muitos dos problemas da Europa não desapareceram, e recorda-nos ainda porque é que continuamos a esperar que os mercados de obrigações periféricas se comportem pior do que o mercado de obrigações alemãs”, conclui Le Saout.

Como podem os investidores proteger-se perante tal avalanche de eventos políticos? Eriz Knutzen, diretor de investimentos multiativos da Neuberger Berman, é da opinião de que quando acontecimentos como o posicionamento de Boris Johnson ou a possibilidade de Donald Trump ser candidato republicano da Casa Branca provocam reações nos mercados, “os asset allocators também necessitam de tê-las em conta”. Mas, ao mesmo tempo, Knutzen pede aos investidores que não se esqueçam de uma verdade importante: “A política serve para comentar nos blogs, e para ter conversas nas festas, mas a grande maioria das políticas não afectam a realidade económica no longo prazo. A volatilidade de mercado que gera, costuma ser apenas só ruído”. Por isso afirma que na Neuberger Berman não veem atualmente nenhum dos factores expostos como temas de investimento no longo prazo.

Dito isto, o diretor de investimentos propõe três potenciais alternativas para que os investidores possam proteger-se da volatilidade gerada pela incerteza política. A primeira delas é “fazer cobertura contra os riscos específicos ou transações específicas no mercado, que estejam relacionadas com resultados esperados”. A segunda opção passa por “reduzir toda a exposição ao risco da carteira para ter em conta o aparecimento da volatilidade adicional e generalizada”. Finalmente, a terceira coisa que podem fazer os investidores é “assumir exposições contrarian, mas nas quais acreditem que a depreciação tenha chegado muito longe”.

Para Knutzen, “quando os riscos políticos começam a agitar os mercados, acreditamos que faz sentido fazer pelo menos uma destas coisas, ou possivelmente fazer  as três de cada vez em múltiplos mercados”. No entanto, tendo em conta as múltiplas frentes abertas em múltiplos mercados, o especialista assinala que nestes momentos a primeira das opções seria menos adequada, por causa da dificuldade para detectar coberturas específicas para este conjunto de riscos. Por outro lado, tendo em conta factores como a queda do preço do petróleo, a desaceleração do crescimento da China e as dúvidas sobre os lucros empresariais nos EUA, o representante da Neuberger inclina-se para adoptar a segunda opção até que haja mais clareza nos mercados.