Qual o impacto do resultado eleitoral do Reino Unido nas diferentes classes de ativos?

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Marco Verch, Flickr, Creative Commons

A tentativa de Theresa May de reforçar a sua liderança acabou por se virar contra ela, como refletiram os resultados das eleições gerais celebradas no Reino Unido a semana passada. Ainda que nos dias que antecederam a ida às urnas os prognósticos estivessem a evoluir, o certo é que o mercado ainda está a digerir a possibilidade de um governo do Partido Conservador em minoria. Neste contexto, as equipas de investimento da J.P. Morgan AM analisaram o comportamento das diversas classes de ativos para clarificar o impacto deste último evento político.

#1 Divisas

Os analistas da equipa de obrigações globais, divisas e matérias-primas da gestora explicam que, num contexto de debilidade do dólar, a libra tem sido capaz de recuperar quase 5% desde que a Primeira Ministra Theresa May convocou as eleições em março. No entanto, a divisa perdeu 1% como consequência da recente incerteza em torno do resultado eleitoral, demonstrando mais uma vez que é o principal canal pelo qual os investidores estão a expressar a sua opinião face a eventos de risco político.

Olhando para o futuro, a equipa afirma que as forças que vão condicionar a evolução da libra esterlina são negativas a curto prazo (incerteza política perante o resultado eleitoral e um parlamento em minoria), mas positivas a longo prazo, uma vez que o Brexit poderá ser menos duro do que era inicialmente esperado, pois dois terços da Câmara dos Comuns apoiam essa postura... “ainda que este resultado se possa transformar num processo caótico que acabará por ser negativo”, avisam.

#2 Taxas

A equipa de obrigações globais, divisas e matérias-primas destacam que “o inesperado resultado das eleições poderá conduzir a uma política fiscal mais expansiva do que o previsto, capaz de alterar a postura do Reino Unido perante as negociações do Brexit”. Clarificam, ainda, que as consequências do resultado continuam a ser muito incertas, e foram capazes de identificar que, de momento, “estes fatores compensatórios permitiram que as TIRs dos gilts apenas se tenham movido a semana passada”.

#3 Ações

O resultado destas eleições destaca a importância de, numa primeira instância, analisar os fundamentais das empresas em vez de se deixar influenciar excessivamente pelos aspetos emocionais da política”, afirma a equipa de ações europeias da J.P. Morgan AM. Ainda que os especialistas indiquem que ainda é cedo para perceber qual o impacto sentido pelos mercados acionistas, afirmam que “é provável que a debilidade da libra impulsione, pelo menos no curto prazo, as empresas que geram entradas nos mercados internacionais”. Acrescentam, ainda, que as empresas no exterior também estão a ser beneficiadas pela sua exposição a uma economia mundial em expansão, “o que significa que os seus lucros serão reforçados”.

Por outro lado, a equipa explica que as empresas mais domésticas “provavelmente acusarão a volatilidade a curto prazo, já que as políticas internas são agora opacas”. Já se puderam observar indícios desta tendência, uma vez que nos dias posteriores às eleições os títulos com melhor desempenho dentro do FTSE 100 foram “as ações com uma elevada proporção de lucros no estrangeiro, como é o caso dos sectores mineiro, bebidas e produtos pessoais”, enquanto que “as ações dos sectores de construção habitacional e comércio retalhista, que estão bastante expostas ao Reino Unido” apresentaram quedas.

#4 Investimentos alternativos

A equipa de alternativos realizou uma análise aos ativos imobiliários europeus e outra sobre infraestruturas. No primeiro caso, afirmam que “o impacto no mercado imobiliário britânico dependerá, em grande parte, das consequências económicas do resultado eleitoral”, ainda que antecipem “maior volatilidade a curto prazo e um decréscimo da atividade investidora e do valor dos bens imobiliários”.

De facto, trata-se da continuação de uma tendência iniciada depois do referendo sobre o Brexit em junho de 2016: “os volumes de investimento caíram 30% e o número de transações desceram 50%. Como tal, a tendência atual deverá persistir e é provável que o valor dos imóveis sofra pressões de queda”.

Relativamente às infraestruturas, na gestora destacam o aumento da despesa, que “é um dos poucos pontos nos quais os principais partidos concordam”. Referem a intenção do Partido Trabalhista, que anunciou um aumento de 250 mil milhões de libras de despesa em infraestruturas durante os próximos dez anos, enquanto que o Partido Conservador prometeu um gasto de 170 mil milhões até 2020 em habitações, investigação e desenvolvimento e transportes. “Se a política de austeridade abre caminho à expansão fiscal, a previsão é que o investimento em infraestruturas represente a maior proporção da despesa do novo governo, ainda que o total esteja ainda por determinar”, conclui a equipa de investimentos alternativos. Seguindo a mesma lógica, descartam a possibilidade de que se produzam alterações no segmento energético depois das eleições, “dado o amplo apoio dos partidos à política energética global e do apoio a energias renováveis”.