Portugal volta à lista dos destinos "preferidos" das casas internacionais

lisboa
Kasia_O, Flickr, Creative Commons

Nos últimos tempos Portugal parece estar nitidamente a recuperar a sua atratividade perante o estrangeiro. Com os inúmeros players internacionais a inclinarem-se para compra de títulos portugueses, importa perceber qual o verdadeiro interesse dessas casas. Estará em cima da mesa um aumento de exposição efetiva a periféricos? Ou existe uma mera lógica de aumento da exposição por causa da melhoria dos fundamentais? A Funds People foi saber o que acham os profissionais da indústria portuguesa.

Para Diogo Serras Lopes, do Banco Best, é notório que “os movimentos tanto nos mercados acionista, como nos obrigacionistas dos países periféricos indicam, de facto, um aumento da exposição por parte dos investidores”. Considerando ser difícil especular sobre quais são as reais motivações dos investidores, o especialista acredita que “a procura por yields mais atrativas deverá estar a desempenhar um papel relevante, bem como a fuga de capitais dos países emergentes, verificada desde o anúncio do tapering por parte da Reserva Federal”. Para Diogo Serras Lopes “a reação recente tem mais a ver com uma questão de perceção de menor risco dos periféricos do que com uma efetiva melhoria dos fundamentais”. Para o especialista “os dados de crescimento económico são ainda muito recentes e levantam questões relevantes relativas à melhoria da sustentabilidade da dívida pública portuguesa, nomeadamente a preponderância do consumo interno e a contínua deterioração dos níveis de investimento, que não deixarão de se refletir no crescimento potencial da nossa economia”.

Filipa Teixeira, da Patris Gestão de Activos, começa por explicar que “em termos de fundamentais, Portugal atingiu em 2013, pelo 2º ano consecutivo, um saldo positivo nas balanças corrente e de capital. De acordo com o Banco de Portugal, a economia portuguesa registou uma capacidade líquida de financiamento externo de €4,3 mil milhões, o que corresponde a 2,6% do PIB. As estimativas apontam para que o excedente externo da economia portuguesa atinja 4,7% do PIB em 2015, acima do projectado para 2014 (3,8% do PIB)”. Relembrando os dados divulgados no Boletim Estatístico desta semana, Filipa Teixeira refere que “os dados de 2013 para o excedente externo mostram a continuação da tendência de melhoria que se observa desde 2009 neste indicador, que é medido pelo saldo conjunto das balanças corrente e de capital”. A taxa de desemprego, relembra, “desceu em dezembro para 15,4% da população activa e a diminuição do custo unitário do trabalho, assim como a manutenção de taxas de inflação baixas, que compensaram a perda de rendimento disponível das famílias, também contribuíram de forma positiva para a capacidade competitiva das exportações”. “Se o Governo português aplicar as medidas previstas, o défice poderá ficar abaixo da meta dos 4% do PIB acordados com a troika”, refere.

Filipa Teixeira recorre a gráficos da BCA Research que “comprovam o posicionamento valioso de Portugal numa perspectiva de investimento, tanto num contexto de dívida como de acções”:

Filipa Teixeira refere que “com uma emissão de dívida pública acumulada de €6250 milhões em 2014, e uma comprovada compressão de spreads na curva portuguesa, que passou de yields acima de 6% em Dezembro para abaixo de 5% actualmente (como demonstrado pelo gráfico Bloomberg abaixo), Portugal posiciona-se de facto como uma das regiões mais apetecíveis para investimento internacional

Para a especialista a “forma mais rentável de obter exposição a fundamentais empresariais atractivos e com maior potencial de valorização é, na opinião da Patris GA, através de Acções; comprovadamente, temos visto um crescente interesse por parte de investidores internacionais através do nosso Patris Iberian Fund (rentabilidade de 21,46% em 2013).

Para Rui Bárbara, gestor de ativos do Banco Carregosa, “os ativos Portugueses, a par com os dos restantes países do Sul da Europa, encontravam-se muito atrativos em termos de valorização fundamental, no pressuposto de um regresso das margens e do crescimento das empresas à sua média histórica pré-crise”. Esta é uma leitura que o especialista considera válida em comparação com os ativos do Norte da Europa e especialmente Estados Unidos. Para o especialista “o  discurso do Presidente do BCE de “fazer o que fosse necessário” para garantir a união monetária seguido dos primeiros indicadores no início do verão do ano passado, de que a economia europeia tinha pelo menos estabilizado permitiu o regresso do apetite por risco junto dos investidores e que estes começassem a acreditar numa normalização do ciclo económico, mesmo no Sul da europa, sendo esse um cenário que implicava que as ações Portuguesas estivessem objetivamente baratas”.

Vasco Teles, gestor de obrigações na ESAF, começa por relembrar que “a dívida pública portuguesa atrai hoje, a preços mais caros, um leque de investidores superior do que há um ano e, obviamente, mais ainda do que há dois anos”. Para o especialista a explicação reside no facto de “maiores taxas de juro e maiores spreads “bid-offer”, como em 2012”,  implicarem maior percepção de risco, o que  faz com que a dívida seja elegível para um universo de investidores mais reduzido. “Um factor de assinalar é o ciclo dos níveis de “rating”. Até 2012 o ciclo foi de deterioração, a partir de 2013, por outro lado, de melhoria. Por si só, esta evolução tem implicações, positivas, seduzindo novos investidores, num movimento antagónico àquele de 2010-2012”, refere. Mas para Vasco Teles, factor decisivo “é a noção de rede que o BCE conseguiu transmitir, assumindo que intervirá se os preços da dívida se mantiverem em níveis insustentáveis e promovendo um ambiente de taxas de juro de curto prazo de perto de 0%, o que empurra o dinheiro para maturidades mais longas e, posteriormente, para créditos mais frágeis, que oferecem maior taxa de juro”. O especialista acrescenta que “esta confiança, por um lado, e esta pressão, por outro, geram fluxo de entrada de investidores, fazendo as taxas de juro cair,  fomentando uma dinâmica de mercado menos volátil, atraindo ainda mais fluxo subsequentemente”. A tudo isto, Vasco Teles adiciona a melhoria dos fundamentais da economia portuguesa, para reforçar a confiança naquele processo.

Para Ricardo Arroja, economista da Pedro Arroja SA, “a melhoria dos fundamentais da economia portuguesa, observada nos últimos dados trimestrais do PIB, é neste momento o elemento condutor da redescoberta atractividade dos títulos portugueses”. Relembrando que “em consequência do crescimento registado na economia nacional, mais acentuado que no espaço da zona euro, as condições de financiamento soberano melhoraram significativamente”, o especialista acredita que com estas condições é de esperar “uma regularização do financiamento no sector privado”. Em conclusão, o Economista refere que “este elemento, em conjunto com a melhoria de resultados empresariais associados a um cenário macro económico mais favorável, tem conduzido naturalmente a um maior interesse de investidores por títulos portugueses".