"Portugal prepara-se para brilhar"

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Na nossa opinião, Portugal oferece muito potencial para os investidores. Durante o primeiro trimestre do ano no mercado de dívida soberana europeu, Portugal tem sido, sem dúvida, o país que pior desempenho tem mostrado e os investidores têm tido que engolir em seco.

Enquanto a rentabilidade média na Zona Euro das obrigações a 10 anos, no primeiro trimestre, foi de 3,3%, Portugal esteve em terreno negativo com -1,3%. Mesmo a Grécia conseguiu uma rentabilidade positiva de 0,3%. Como resultado desta evolução negativa, o spread entre as obrigações portuguesas a 10 anos e as obrigações alemãs com a mesma maturidade aumentou consideravelmente, atualmente em redor dos 3%.

Evidentemente, há uma razão que explica os maus resultados. Portugal teve eleições parlamenteares no final de 2015. Desde então, os problemas políticos têm persistido e essa instabilidade está a causar nervosismo entre alguns investidores. Do nosso ponto de vista, não consideramos a política como um autêntico problema, já que a verdadeira razão para os resultados negativos reside na classificação de crédito de Portugal ou, para ser mais exatos, na classificação que outorga uma agência em particular.

A única agência que mantém uma classificação de grau de investimento para Portugal é a DBRS, com uma perspectiva estável para o país, mas esta classificação tem programada uma revisão no final desta semana. Se a classificação de crédito portuguesa se degradar, a dívida soberana deixaria de ser elegível para o programa QE do BCE. Ou seja, yields das obrigações portuguesas disparariam. No entanto, não acreditamos que a DBRS vá baixar a classificação das emissões governamentais portuguesas e portanto Portugal vai beneficiar do programa de flexibilização quantitativa do BCE. Quando esta incerteza em torno da classificação de risco se dissipar, esperamos que os diferenciais se normalizem, aliviando os investidores de obrigações do governo português.

Os fundamentais económicos de Portugal são bastante bons: as exportações aumentaram 30% na última década, empurrando a balança comercial para terreno positivo. Os bancos também estão melhor capitalizados e, atualmente, têm uma base de capital de nível um no sistema bancário, com uma média de 12,4% em 2015, que compara com os 7,4% de 2010. De facto, em matéria de orçamento fiscal, Portugal está em melhor forma que muitos outros países da Europa. Além dos aspectos macroeconómicos notavelmente positivos, o BCE está a comprar obrigações do governo português da mesma forma que um comprador grossita compra vinho da Madeira quando lhe oferecem dois barris pelo preço de um. Depois do anúncio de março, o BCE incrementou as suas previsões de aquisição de obrigações soberanas portuguesas, para um terço do total de cada emissão, a partir de abril.

É por estas razões que prevemos um contexto positivo para a dívida portuguesa e acreditamos que quando a DBRS confirmar a sua perspectiva estável para Portugal, poderemos ver um estreitamento dos spreads. Estamos atentos: Portugal prepara-se para brilhar.

Obrigações soberanas compradas pelo BCE (% to total)

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