Porque é tão importante para a OPEP o apoio da Rússia e as implicações para o preço do crude

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photog larry, Flickr, Creative Commons

Quem diria em janeiro que o petróleo iria superar os 50 dólares por barril em menos de um ano. E sim, aconteceu na passada terça feira: as duas principais referências, o Brent e o WTI, marcaram máximos anuais. Este feito produziu-se depois da Rússia se ter aliado à OPEP para travar a produção de petróleo, mesmo que a preferência do país seja mais pelo congelamento do ritmo atual do que de um corte efetivo. Por outro lado, a organização pretende reduzir a produção em 700.000 barris diários, até aos 33 milhões por dia; trata-se do primeiro corte em oito anos, e chega numa altura em que a produção, tanto da Arábia Saudita como da Rússia, estão roçar os máximos históricos.

Segundo Richard Trunill, responsável global de estratégia de investimento da BlackRock, “é perceptível que o plano da OPEP é como que uma mudança estratégica da Arábia Saudita, para se afastar da batalha pela quota de mercado”. O especialista vê atualmente um menor risco que no passado de que o preço do barril volte a afundar; mais ainda, prevê que se vá recuperando de forma gradual até perto de 60 dólares por barril, “onde é provável que a oferta e a procura encontrem um equilíbrio melhor”.

Na Pictet AM, por outro lado, estimam que o preço de equilíbrio – tendo em conta a perspectiva de crescimento económico mundial e o dólar – se situe em torno dos 49 dólares/barril. “O nível atual é suficientemente alto para ser rentável para os produtores, mas não tanto como para pesar no crescimento global. Para que continue a subir, o crescimento mundial terá que ser melhor que o esperado ou o dólar terá que se debilitar significativamente”, comentam da gestora.

Porque decidiu a Rússia apoiar o acordo do cartel do petróleo? “A Rússia, somando gás e petróleo, continua a ser o maior produtor de hidrocarbonetos. A subida dos preços das matérias primas impulsionou o seu crescimento e contribuiu para melhorar o seu nível de vida até ao outono de 2008, quando começou alguma debilidade e as condições de crédito ficaram mais restritivas. De momento, a sua economia real está ainda pouco representada nos seus mercados de capitais, com um sector energético forte e outros mais pequenos. Mas com os preços do petróleo em torno dos 40-50 dólares por barril, podemos considerar que  a economia russa tocou no fundo e é previsível que em 2017 volte ao crescimento económico, com a inflação perto da meta do seu banco central e alguma flexibilização monetária”, detalha Klaus Bockstaller, gestor do fundo Pictet Russia Equities. Bockstaller acredita que “com os preços do petróleo nos níveis atuais e um contexto macroeconómico melhorado, a perspectiva é muito positiva para ações russas nos próximos 12 a 24 meses”.

Porque parece agora mais credível o corte na produção

Mark Tinker, responsável de mercados de ações asiáticos na Axa IM, considera que a incorporação da Rússia acrescenta credibilidade ao acordo do cartel: “A história recente (e não tão recente) pede que sejamos cautelosos sobre as habilidades de estes acordos serem aplicados, já que não só há um incentivo a desviar do acordado, como os outros dois grandes produtores, a par com os sauditas, a Rússia e os EUA, não estão cobertos pela OPEP e estão, portanto isentos do acordo”.

Nitesh Shah, analista da ETF Securities, mostra uma opinião semelhante: “Continuamos a acreditar que a maior parte do grande ajuste necessário para conseguir um equilíbrio do mercado global será executado pelo corte de produção dos países independentes da OPEP”. Shah observa alguns progressos nesta área: “Foram planeados cortes de um bilião de dólares no capex da indústria energética, que terão impacto na oferta. Adicionalmente, a debilidade dos preços deverá apoiar o crescimento da procura”. O cálculo da ETF Securities é que o petróleo se vai mover num intervalo de preços entre 40 e 55 dólares por barril, e que os verdadeiros agentes que determinarão os preços serão os produtores dos EUA para os quais este intervalo é rentável. Em todo o caso, como simplesmente foi anunciado o acordo e ainda não aplicado, o analista recomenda esperar pela reunião formal que a OPEP terá no dia 30 de novembro em Viena para conhecer os detalhes.

O ponto de vista da Fidelity International é que, independentemente dos ajustes que anunciem os países produtores de petróleo, o factor chave tem sido a capacidade de reação das petrolíferas ao longo do ano, ao se adaptarem à mudança de equilíbrio entre a oferta e procura. “Em reação ao bear market das matérias primas, as equipas de administração tomaram medidas para reduzir a oferta, de tal maneira que já não são exclusivamente dependentes de uma recuperação da procura para impulsionar os preços. Em termos relativos, a indústria petrolífera tem mostrado mais êxito, ao mostrar uma reação com maior disciplina, que a indústria do metal”, afirmam os analistas da gestora.

Outro factor importante tem sido a atuação das empresas que exploram os jazigos de petróleo de xisto ou shale oil, pela sua maior flexibilidade para se adaptar á oscilação de preços. A evidência está no número de poços de extração nos EUA: alcançaram um recorde de 1.925 em setembro de 2014, e como consequência da forte competição com a OPEP e Arábia Saudida, em particular, o número de poços reduziu-se para somente 489 em agosto deste ano. “Esta queda ilustra como o produtor que mudou as normas na indústria do petróleo, reagiu aos preços mais baixos com fortes cortes no capex e produção”, indicam os analistas da Fidelity. Estes calculam que os cortes ajudarão diretamente ao equilíbrio entre a oferta e a procura a nível global, e que os preços resultantes estarão mais alinhados com os custos marginais da produção do petróleo de xisto.