Porque é que os caça dividendos se podem sentir aliviados?

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Dominik Meissner www.Orime.de, Flickr, Creative Commons

O crescimento mundial dos dividendos durante o segundo trimestre de 2016 foi inferior ao do primeiro, devido, em parte, ao menor dinamismo em território norte-americano. No entanto, os investidores à caça de dividendos podem ter motivos para se sentirem aliviados, tal como expõe a Henderson num relatório trimestral onde dá a conhecer a evolução do Henderson Global Dividend Index. Este indicador, que dá conta da distribuição a acionistas de empresas de todo o mundo, recuperou 161 pontos, um nível inédito desde finais de 2014.

Durante o segundo trimestre de 2016, os dividendos mundiais aumentaram cerca de 2,3% em termos gerais, até aos 421.600 milhões de dólares. O seu crescimento subjacente (que tem em conta as diferenças temporais, a taxa de câmbio, a volatilidade dos dividendos extraordinários e as variações do número de cotadas que fazem parte das 1.200 primeiras) foi de 1,2%.

A diferença entre a taxa de crescimento geral e a subjacente durante o segundo trimestre explica-se em primeiro lugar porque várias empresas decidiram transferir os seus pagamentos para este período, o que aumentou em 1% o total mundial. O efeito notou-se especialmente em Hong Kong, onde as empresas costumam modificar as suas datas de distribuição, embora também seja algo muito comum nos mercados emergentes. Foi ainda mais significativo o facto do segundo trimestre costumar ser a temporada na qual um significativo número de empresas decide retribuir aos seus acionistas. Segundo a Henderson, cerca de 66% os dividendos europeus distribuem-se durante este período.

Por outro lado, a quantia dos dividendos foi inferior à registada no mesmo período do ano anterior. Esta variação prejudicou cerca de 0,8% do total mundial. A repercussão líquida das variações no índice também foi baixa, de apenas 0,4%.

Mais interessante tem sido ainda o impacto da taxa de câmbio sobre os dividendos. É especialmente relevante no caso do Reino Unido, visto o histórico colapso da libra como consequência do Brexit. Da Henderson explicam que “os elevados dividendos extraordinários impulsionaram o crescimentos dos dividendos gerais britânicos (7,7%) e isso mais do que compensou a queda da libra esterlina”. No entanto, em termos subjacentes clarificam que “os dividendos britânicos caíram cerca de 3,3% em termos interanuais por causa do menor crescimento dos lucros empresariais”. Da gestora assinalam que “os efeitos derivados da debilidade da libra, do dólar canadiano, das divisas emergentes e do won coreano foram compensados com a forte revalorização do yen japonês e a modesta subida do euro”.

Por regiões e por países

O relatório elaborado detalha que as regiões da América do Norte, Europa e Ásia Pacífico (excluindo Japão) se situaram à cabeça do crescimento dos dividendos, com taxas de crescimento subjacentes estáveis. Nos EUA, o crescimento subjacente dos dividendos foi de 4,6% a um ritmo inferior ao dos últimos trimestres. O crescimento geral foi de 3,1%. “Esta evolução responde a um crescimento menos vigoroso dos lucros empresariais, devido, em parte ao fortalecimento do dólar”,  especificam da gestora. Alex Crooke, diretor da equipa de Global Equity Income da Henderson, afirma que “a desaceleração do crescimento dos dividendos nos EUA não é preocupante. Começou no final do ano passado, mas deverá considerar-se uma normalização até níveis de crescimento dos dividendos mais sustentáveis depois de vários trimestres de subidas de dois dígitos”.

No que toca à região norte-americana, dizem da entidade que “o crescimento subjacente dos dividendos canadianos foi de apenas 0,6% devido aos cortes aplicados pelas empresas mineiras e energéticas”.

Na Europa os dividendos europeus alcançaram os 140.200 milhões de dólares. É apenas cerca de 1,1% mais do que no segundo trimestre de 2015. No entanto, se os investidores descontarem a descida dos dividendos extraordinários então comprovarão que o crescimento subjacente se eleva para uns respeitáveis 4,1%. “O forte crescimento das distribuições registadas na Europa está a ajudar a equilibrar o panorama mundial dos dividendos. Os focos de debilidade que temos detectado devem-se a empresas concretas ou a tendências sectoriais específicas, como o efeito da desvalorização das matérias primas, e não tanto as dificuldades económicas de índole mais geral”, diz Crooke.

No topo de quem mais distribuições executou na Europa destaque para a Holanda, que em termos mundiais se situa no segundo posto ao nível da taxa de crescimento subjacente (+28,3%). O grande incremento foi dado pelos dividendos do ING. Dentro do ranking mundial, o terceiro país classificado foi a França, com um aumento subjacente dos seus dividendos de 11,2%. No seu caso, praticamente todos os sectores contribuíram para o crescimento.

Além da situação extraordinária no Reino Unido, a outra nota discordante no continente vem da parte da Alemanha, pois o seu crescimento dos dividendos ressentiu-se por causa dos grandes cortes aplicados pela Volkswagen e pelo Deutsche Bank. A Áustria, Espanha e Bélgica situaram-se nas últimas posições do Continente.

“O voto do Reino Unido a favor do Brexit provocou uma depreciação da libra. Isto reduzirá a percentagem que este país representa no total de dividendo mundiais, mas o efeito será menos grave do que aquele que poderá sugerir a queda da moeda, já que as principais empresas britânicas têm um carácter marcadamente internacional e muitas delas realizam a sua distribuição de dividendos em dólares”, explica o diretor da equipa de Global Equity Income sobre Brexit.