“Os investidores têm de alargar a sua ‘caixa de ferramentas’ no atual contexto de mercado”

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Foi numa sala repleta de profissionais que a Amundi trouxe a Lisboa alguns do seus especialistas para o mercado de fixed income. O ‘Amundi Rendez-Vous’ contou com a presença de Nicolas Doisy, Senior Economist and Strategist; Adrian Bender, Head of Product Specialist Global Fixed Income, Global Macro & FX  e ainda Céline Vinette, Product Specialist on Rates and Inflation.

“As medidas económicas não convencionais funcionam, mas quando aplicadas em períodos de crise, onde existe alguma tensão. Apesar de estarmos a assistir à atual situação na Grécia, estamos perante tempos mais calmos. Se o objetivo é, de facto, expandir a economia, há que complementar a política monetária com  estímulos fiscais”, começou por dizer Nicolas Doisy, abordando primeiramente aquela que é a questão dominante na mente dos investidores: o Quantitative Easing. Mas o especialista não se ficou por aqui e trouxe “a lume” outros temas, também eles fraturantes. O discurso avançou para a China, que, na opinião do profissional, continua a ser uma “grande fonte de deflação”. “A China acumulou excesso de capacidade. Como é que agora se livra dela?”, lançou a questão. 

O discurso do profissional prosseguiu até aos EUA e até à inevitável dúvida em torno do timing referente à subida das taxas de juro no país. No entanto, para Nicolas Doisy, esta é uma questão de pouca importância, já que “de um ponto de vista puramente económico não é um ponto essencial”, referiu. Na opinião do economista os investidores não devem esperar muito dos EUA. “Devem esperar que a situação se mantenha ou então, em ultima instância, que até possa piorar”, reitera. Por fim, e de “regresso” ao velho continente, Nicolas Doisy indica que é importante ter em mente que “o QE é uma ferramenta que permite que a situação não piore, não sendo um instrumento para melhorar as coisas”. Acrescenta que, em primeira análise, o programa de flexibilização europeu “irá manter as taxas de inflação próximas de zero, pelo menos durante este ano”.

Yields negativas: “o elefante na sala”

Procurar a oportunidade e a flexibilidade. Este foi um dos motes que guiou o restante discurso dos profissionais da Amundi, para quem já não vale a pena ignorar que as yields negativas são um território a desbravar. “Quase 50% das yields das obrigações de governos de países desenvolvidos situam-se entre os 0% e 1%”, referiu Adrian Bender, que aconselha os investidores, por esta altura, “alargarem a sua caixa de ferramentas”, a “serem mais globais” e ainda a “proporem-se a mudar a forma como gerem, colocando mais ênfase no valor relativo”.  Bender considera que atualmente “existem uma série de métricas em jogo”, que estão a ser tidas em conta na altura de gerir um produto. Entende que uma das dinâmicas que vai continuar a sustentar a procura de obrigações, em primeiro lugar, é a rotação que os investidores estão a efetuar dos depósitos para os fundos de investimento. Em contraposição, destaca a grande descida das taxas, que faz com que muitos investidores interessados em aplicar o seu dinheiro se encontrem numa situação mais complexa devido às taxas negativas da dívida. A estes factores acrescenta o facto de muitos investidores se terem tornado mais sensíveis a qualquer risco de queda. “Desapareceu a capacidade de absorver as perdas, as pessoas estão menos dispostas a perder cerca de -1% ou -2%. Na opinião de Bender, a “rentabilidade das obrigações não reflete nem o crescimento global, nem a inflação”.

Risk On!

Céline Vinette, por seu lado, fez uma espécie de “apelo”,  no qual pediu aos investidores para que não “abandonem” a Europa, porque “ainda existe valor nas obrigações europeias”, muito por causa do “suporte do BCE”. “O Banco Central Europeu representa por esta altura um grande comprador de obrigações no mercado, mas existem outros. Atualmente a regulação a este nível é bastante ‘bond friendly’ e, por isso, para compradores como nós – gestoras de ativos – continuam a existir oportunidades no mercado, com as yields em território negativo, mas os spreads a estreitarem-se”, comentou. Desta forma, sublinhou que atualmente veem mais valor na periferia europeia, para além do crédito, mas também em ativos como CoCos, dívida subordinada ou obrigações convertíveis. No entanto, transversal ao investimento em obrigações por esta altura diz ser uma postura de constante ‘risk-on’ na gestão dos portfólios.

Sobre os produtos da casa,  Adrian Bender realçou que o Amundi Funds Bond Global Aggregate é um “produto bastante focado no drawdown”, existindo um grande foco na “qualidade da performance”. O especialista indica que no trajeto do produto se realça a “liquidez e a diversificação do portfólio”, mas também a muito importante “baixa correlação com qualquer mercado”.