O valor das renováveis para a EDP: a visão dos gestores nacionais

Pás eólicas
Festival Eólica, Flickr, Creative Commons

O final do mês de março trouxe mexidas na cotada EDP e vai trazer, caso se confirme, alterações ao principal índice bolsista nacional. De acordo com a elétrica nacional, a cotada vendeu a sua subsidiária para a atividade de distribuição de gás em Espanha – Naturgas – e vai utilizar o valor da venda para fazer uma OPA sobre a percentagem de capital que ainda não detém na sua subsidiária EDP Renováveis e que representa cerca de 22,5% do capital.

Segundo o comunicado oficial, a EDP refere que a oferta pela totalidade da Naturgas Energía Distribuición (NED) “corresponde a um ‘firm value’ de 2.591 milhões de euros, tendo um impacto esperado de cerca de 2,3 mil milhões de euros na redução da dívida líquida da EDP em 2017”. Este ‘firm value’, sublinha, “inclui cerca de 200 milhões de euros a receber após 2017 num período esperado de cinco anos”.

Relativamente à OPA da EDP sobre a EDP Renováveis, o comunicado oficial refere que a EDP oferece 6,80 euros por cada ação da EDP Renováveis, com o valor final a rondar os 1.300 milhões de euros. A oferta representa um prémio de 10% em relação ao valor médio de negociação dos últimos seis meses, com os dados à data da comunicação oficial da EDP na passada segunda-feira. Caso se confirme, será o maior negócio financeiro no mercado nacional depois da oferta da Camargo Corrêa sobre a Cimpor em 2012 e culminará com a saída da EDP Renováveis do principal índice bolsista nacional.

Para Pedro Barata, gestor da GNB Gestão de Ativos e responsável pelo fundo NB Portugal Ações, o negócio anunciado “faz todo em sentido”. “A EDP vendeu um ativo com reduzido potencial de crescimento por um valor muito interessante”, refere o profissional, com a cotada a aproveitar o “interesse despertado por operações realizadas neste sector em Espanha” ao longo dos últimos tempos.

A mesma opinião tem Nuno Marques, que é responsável pelo produto IMGA Ações Portugal: o fundo de ações Portugal que tem maior exposição percentual à EDP Renováveis. Por um lado, a EDP “vende a Naturgas, um ativo regulado e sem crescimento, a um múltiplo oneroso de 15.6x EBITDA”, o que representa um prémio a rondar os 18% para outros negócios semelhantes que aconteceram no passado; por outro lado “propõe-se a comprar o restante capital que não detém da EDP Renováveis, cerca de 22.5%, a um múltiplo implícito reduzido, de cerca de €1.2M/MW e 9.2x EBITDA representando descontos de 20% e 5% para outros negócios semelhantes e aproveitando a incerteza que prevalece no mercado quanto à evolução regulatória das energias renováveis nos EUA”, afirma o profissional da IM Gestão de Ativos.

Além disso, Nuno Marques realça o facto da EDP manter “no seu plano estratégico para 2020, a intenção de ter um contributo de 74% de ativos regulados no EBITDA, sendo apenas revisto em -1 ponto percentual depois da venda da Naturgas”. Assim, a cotada irá manter “o perfil defensivo que a tem caracterizado e que tem sido bem percepcionado pelo mercado”.

Já Pedro Barata acredita que a EDP irá utilizar esse dinheiro (da venda da Naturgas) “não só para reduzir um pouco a sua dívida, mas também investir numa empresa com maior potencial de crescimento a uns múltiplos mais favoráveis”.

Valor da transação pode ser outro

No que diz respeito à reação dos investidores, Nuno Marques afirma que “o mercado parece exigir à EDP uma revisão do preço da oferta, estando a EDP Renováveis a transacionar, desde o anúncio, a valores superiores aos €6.8/ação”. Já Pedro Barata, sobre se o preço será ou não bem aceite pelo mercado, indica os dados reais do mercado, onde se pode ver “pela cotação atual da EDP Renováveis que há alguns investidores que estão a apostar numa revisão em alta do preço”.

“A não aceitação da oferta proposta apenas acarreta um risco adicional de liquidez, numa ação com um nível já reduzido de capital disperso”, refere Nuno Marques. Por outro lado, caso exista a aceitação da oferta, o negócio “irá permitir simplificar a estrutura da EDP, tornando o seu equity story mais atrativo, com níveis de minoritários mais reduzidos no segmento de maior crescimento potencial da atividade”. Além disto, o profissional da IM Gestão de Ativos sublinha que “os negócios anunciados, em conjunto com as sucessivas securitizações do deficit tarifário nacional, estão alinhados com a estratégia delineada pela EDP, e tão desejada pelo mercado, de desalavancagem”.

Percentagem da carteira que estava investida pelos fundos de ações Portugal na EDP Renováveis

Captura_de_ecra__2017-03-30__a_s_16

Fonte: Ficha dos produtos. 28 de fevereiro de 2017.