O roteiro de Mark Mobius para começar a investir em ações emergentes

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Nuno Coimbra

Apesar do início do endurecimento monetário nos EUA, cada vez mais participantes do mercado acreditam que pode ter terminado e não ter começado o castigo para os países emergentes, cujos ativos estão mais baratos de forma generalizada. Essa não é a postura de Mark Mobius, gestor da Franklin Templeton Investments, e amplo especialista em mercados em vias de desenvolvimento: “Acredito que necessitamos de ser cautelosos ao considerar fazer compras durante as quedas nos mercados emergentes, tendo em conta que as coisas mudaram desde os ciclos de bear market de 1998, 2008 e 2011”.

Mobius avisa que a Reserva Federal não é o único ator que contribuiu para a volatilidade, já que também outros tantos bancos centrais também têm contribuído, e avisa sobre os perigos de tomar uma decisão sobre os emergentes baseada em critérios generalizados. “É importante ter uma abordagem mais específica e segmentada, fixando-nos nas empresas de várias indústrias emergentes para assegurarmos que vamos comprar as ações de empresas com as melhores perspetivas de longo prazo”, acrescenta.

Mobius reivindica que a tese de alto crescimento continua a ser válida para os países em vias de desenvolvimento, pois na Franklin Templeton calculam que o PIB do conjunto de países emergentes crescerá o dobro do conjunto de países desenvolvidos. No entanto, avisa aos investidores que aconteceram algumas mudanças que são cada vez mais evidentes: alguns mercados fronteira passaram a ser considerados emergentes e estão a crescer a uma taxa inclusive mais rápida; o impacto da internet e da tecnologia aplicada aos telefones móveis está a aumentar a produtividade mas a reduzir a inflação, e traz consigo o salto para novas tecnologias sofisticadas desde o zero, sem evolução intermédia, que está a tornar-se evidente na população de muitos pontos do mundo emergente. “Estas mudanças abrem grandes oportunidades para os investidores, visto que as empresas podem beneficiar destas tendências e adoptar novas tecnologias e, mais importante ainda, manter a sua rentabilidade”, assinala o gestor.

Em consequência, a equipa especializada em emergentes da Franklin está a procurar oportunidades de forma mais intensa em empresas cujo modelo de negócio está vinculado à tecnologia (internet, robótica, software e hardware) mas de todos os sectores. “Favorecemos as empresas que sejam capazes de adoptar essas tecnologias e usá-las efetivamente nas suas operações tradicionais”, especifica Mobius.

Mobius tem-se mostrado muito coerente com a sua filosofia, visto que já há muito tempo que ressalva o poder destas tendências e as oportunidades que constituem. Entretanto, o comportamento do fundos que supervisiona não têm sido o esperado, pois tiveram que fazer a gestão de resgates que não tem "problemas" em admitir: “Têm existido alguns fluxos de saída nos mercados emergentes, mas agora estamos a começar a ver algum dinheiro  a regressar a determinadas regiões em concreto, que se refletem na recuperação dos mercados. Acreditamos que é sempre um bom momento para investir visto que há sempre algumas pechinchas disponíveis, em particular quando os mercados passaram por um bear market”.

O poder da mudança política

"Olhando para os factores macro, as estatísticas contam uma grande parte da história, mas os factores mais importantes implicam as mudanças políticas que estão a ter lugar em diversos países”, prossegue este investidor veterano. Por este motivo, na Franklin Templeton também se estão a centrar nos países cujos governos têm capacidade para promover a transparência, reduzir a corrupção e adoptar políticas favoráveis para os mercados, como a privatização de empresas públicas ou o desenvolvimento de um sistema legal justo e eficiente. “Por tanto, as mudanças que estão a ter lugar em países como a China e a Índia são particularmente críticas, visto que poderão ter um efeito de ‘imitação’ sobre outros países”, assinala Mobius. Por este motivo, a exposição a ambos os países é significativa nos fundos de ações emergentes da entidade.

Dito isto, o gestor encarrega-se de recordar que “todos os mercados são diferentes e não se movem na mesma direção ao mesmo tempo, apesar de alguns eventos poderem afectar todos os mercados num período de curto prazo”. Assim, o foco do Franklin Templeton vai continuar a aplicar-se em empresas individuais, analisando-se o impacto que vão exercer sobre essas empresas os diversos factores macro. Por exemplo, vão olhar para pormenores como a influência de uma subida de taxas nos EUA nas empresas de países em vias de industrialização. “O impacto irá depender do grau de mudança”, assinala Mobius. Este acrescenta que se a subida é pequena, como foi o caso, “o impacto não deverá ser substancial, visto que este tipo de aumento já foi descontado pelo mercado”.

Por outro lado, se for superior, e, sobretudo se existirem perspetivas de que as taxas vão ser mais elevadas, “então o impacto sobre os mercados emergentes poderá ser substancial”. No entanto, Mobius não vê a subida de taxas como a sua principal preocupação para os próximos meses: “Existe sempre o risco de que aconteça um grande acidente terrorista que implique muita gente e que ameace infraestruturas de algumas das maiores cidades do mundo. É importante saber que há factores de risco evidentes que costumam ser descontados pelo mercado. São os eventos inesperados e surpreendentes os que têm o maior impacto”. Restringindo-se apenas ao plano financeiro, acredita que “uma perda generalizada da confiança e uma crise de liquidez é algo que dever ser considerado se os bancos centrais de repente retirarem as grandes quantidades de liquidez que os mercados bombearam”.