O que sobreponderaram os gestores portugueses no primeiro trimestre?

balan_C3_A7o_sobreponderar
kizette, Flickr, Creative Commons

Rússia vs Ucrânia, desvalorização cambial nos mercados emergentes, ou a tomada de posse da nova presidente da Fed, foram alguns dos acontecimentos que marcaram o primeiro trimestre do ano. Como se refletiram estes eventos na gestão feita pelos próprios profissionais nacionais? A Funds People foi saber junto dos gestores qual o sector ou geografia que foram sobreponderados no fundo ou carteira que “têm em mãos”.

A reunir consenso entre os profissionais questionados estão os mercados periféricos europeus, que tiveram quase “lugar cativo” nas carteiras pelas quais são responsáveis. Paulo Monteiro, da Invest Gestão de Activos, afirma portanto que “durante o 1º trimestre as carteiras estiveram sobreponderadas nos mercados periféricos europeus, nomeadamente, em Portugal, Espanha e Itália”. Apesar das subidas dos últimos meses, “estes mercados mantêm na nossa opinião, o potencial para novos ganhos suportados por avaliações interessantes, num cenário de recuperação económica”, diz. Paulo Monteiro alerta, no entanto, que “desde março de 2008, estes três mercados registam ainda uma perda média de cerca 27%, quando no mesmo período o mercado alemão acumula uma subida de quase 20% (sem considerar os dividendos)”.

Na Banif Gestão de Activos, a tendência foi semelhante, com Jorge Guimarães a referir que nos fundos multiclasse a principal aposta foi nos “activos periféricos, nomeadamente dívida de emitentes de Portugal, Espanha e Itália (pública e de empresas) e para as acções da Zona Euro, uma vez que estes são os activos mais beneficiados pela normalização dos prémios de risco na Europa”. No que respeita aos fundos de ações, “a preferência foi para o sector financeiro e para as empresas mais beneficiadas pela recuperação do consumo doméstico na Europa periférica, como Media, Retalho e Construção”.

Ações europeias fortes

Também positivo na Europa, Ricardo Silva, da CA Gest, refere “desde o início do ano, estamos construtivos em acções europeias, que poderão beneficiar não só da introdução de novas medidas não convencionais de política monetária (inclusivamente de um programa de “quantitative easing” por parte do BCE) como também do desconto que apresentam relativamente a outros mercados desenvolvidos (por exemplo EUA)”. No ActivoBank a preferência foi semelhante. Guilherme Cardoso, da entidade, explica que nos últimos três meses a entidade sobreponderou as ações europeias. O profissional clarifica que este “overweight” se ficou a dever à “saída da recessão da Europa no segundo trimestre de 2013” mas também “às medidas de liquidez e na crença em novas medidas (se necessário) por parte do BCE”. Motivos de força foram também o “compromisso de manutenção das taxas directoras em níveis baixos por um longo período de tempo”, ou “a mudança da retórica de austeridade europeia, passando no nível político a equacionar também a importância do crescimento económico”. Guilherme Cardoso lembra que também o “facto de existir espaço para uma melhoria dos resultados das empresas europeias, graças à saída da recessão e graças ao crescimento (ainda que moderado) previsível”, foi importante para a sobreponderação das ações do Velho continente.

O que é nacional...

Filipa Teixeira, da Patris Gestão de Activos, reforçou a confiança em Portugal. Os portuguese government bonds foram sobreponderados pela entidade, que suporta esta preferência com o “contexto da confirmação de saída limpa e com as primeiras emissões em primário sem sindicação para 2Q14”. A especialista realça também o peso das ações nacionais nos investimentos, “sustentadas pela previsão de uma recuperação da procura interna em 2014”. Durante os três primeiros meses do ano a entidade fez também um overweight no risco de crédito das financeiras e Corporates Ibéricas, “salientando sempre que a estratégia de name-picking é fundamental”. A especialista acrescenta ainda que mantêm uma visão positiva “para o mercado accionista em 2014, no entanto com cautela na entrada para o 2º trimestre nesta classe de activos, preferindo divida publica e crédito de empresas.”

Finalmente, da Millennium Gestão de Activos, Carlos Pinto Ferreira destaca que “as principais classes de ativos sobreponderadas no 1º trimestre de 2014 foram as ações de mercados desenvolvidos e a dívida high yield europeia e norte-americana”.  O especialista explica que “a razão para sobreponderar ações de mercados desenvolvidos prende-se com a retoma em curso nas economias da OCDE, na expectativa de um menor rigor da política orçamental e a persistência de uma política monetária acomodatícia”. A suportar esta visão o profissional acrescenta também, como outros factores de suporte, “o fácil acesso das empresas a crédito a taxas historicamente reduzidas, o que lhes permite manter políticas generosas de remuneração dos acionistas, o enfoque na otimização de custos e a ausência de pressões para o crescimento dos salários”.