O que fazer quando o gestor do meu fundo começa a apresentar maus resultados

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jonycunha, Flickr, Creative Commons

Muitas vezes, tanto os investidores institucionais como os de retalho, assim como os seus assessores e consultores, cometem o erro de assumir que o comportamento passado de um fundo é uma indicação da habilidade do gestor. Isto faz com que habitualmente os investidores acabem por substituir nas carteiras aqueles fundos que registaram um pobre rendimento por produtos cujos gestores tiveram num passado recente um retorno fantástico. Pois bem: isto é um erro.

É o que evidencia um estudo publicado por Robert Arnott, uma das personalidades mais reputadas e influentes da indústria de gestão de ativos nos EUA. Autor de vários livros, entre eles The Fundamental Index, Active Asset Allocation e Points of Inflection: New Directions for Portfolio Management, Arnott baseou as suas investigações no estudo e na análise dos mercados. Agora o seu trabalho é estar na primeira linha da Research Affiliates, uma empresa que ele mesmo fundou em 2002, que atualmente assessora 160.000 milhões de dólares de dinheiro de investidores institucionais e da qual é CEO.

No seu último estudo, publicado sob o título The Folly of Hiring Winners and Firing Losers, o especialista demonstra que substituir os produtos que pior se comportaram por aqueles que melhor se saíram no passado recente é uma prática equivocada por três motivos:

  1. O passado não é o prólogo: os vencedores passados são muitas vezes perdedores futuros e vice-versa.
  2. A consistência é algo pouco frequente entre os gestores (excepto no caso da consistência negativa em forma de comissões elevadas, elevados custos de transação e implementação pouco eficiente, que acontecem com mais frequência do que deveriam).
  3. Deixando de lado os custos recorrentes, a rentabilidade tende a reverter para a média na maior parte dos casos.

Por tanto, a primeira coisa que um investidor tem de fazer quando o seu fundo não se saiu bem é manter a calma. “Inclusive os gestores e os fundos mais excecionais terão de vez em quando longos períodos em que decepcionarão os investidores, o que pode levar estes a desfazer posições em fundos de gestores excecionais justamente no pior momento possível, muitas vezes para ser substituídos por produtos mais medíocres que estão a disfrutar de um momento muito bom que pode dever-se puramente a questões relacionadas com a sorte”, afirma.

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O fato é que essas "manchas" têm consequências importantes, já que, quando isto ocorre, os investidores tendem a reembolsar o seu dinheiro. “Vincular a informação baseada na valorização com o rendimento passado pode ajudar-nos a não cair neste erro”, explicam na Research Affiliates.

A chave não está na rentabilidade mas sim na valorização

A sua investigação demonstra que a valorização de fatores é um melhor método para prever o comportamento dos fundos. Também sugere que os investidores deverão realizar alterações urgentes na maneira como alocam o dinheiro entre os gestores. “É impossível saber quando um fundo alcançou os máximos. Vender no pico não é fácil. Quando o fazemos, o fundo continua a subir e sentimo-nos estúpidos. Comprar baixo é ainda mais difícil. Qualquer coisa que está barata significa que infligiu dor e perdas aos investidores. É impossível saber onde está o solo, pelo que quando inevitavelmente se registam quedas, muitos investidores ficam-se por observar e não dão o passo para entrar”.

Do seu ponto de vista, tentar comprar em baixa e vender em alta é um caminho difícil para ter êxito na hora de investir. “Há que sair da zona de conforto. Os mercados não compensam o conforto. No investimento, geralmente encontramos as melhores recompensas em sítios que nos fazem sentir desconfortáveis”. O que significa isto? Noutro estudo publicado pela entidade, que complementa este, são determinados em que aspetos concretos é necessário fixar e nos que não nos devemos fixar para alcançar êxito com os investimentos. Para identificá-los, construíram sete modelos de previsão de alfa para antecipar o comportamento futuro com base em tipos de estratégias ou estilos de investimento.

O primeiro modelo de back testing analisou a relação entre a rentabilidade dos últimos cinco anos (1985-1990) com o comportamento registado nos cinco anos seguintes (1991-1996). O mais atrativo é que a correlação entre o comportamento passado e os resultados futuros foi negativa. “Isto demonstra que centrar as atenções no comportamento registado pelos fundos recentemente não só é inadequado, como leva à direção errada”. O outro modelo histórico, baseado numa versão de longo prazo que toma como referência o conjunto completo de dados, proporcionará previsões algo mais precisas do que o estudo a cinco anos, ainda que também possa proporcionar uma correlação negativa entre o comportamento passado e os resultados futuros.

“Um historial de rentabilidade muito longo, que cubra no mínimo sete décadas, poderá proporcionar uma previsão mais aproximada das rentabilidades futuras tomadas como referência num curto período de tempo, mas a análise é, em todo o caso, inútil. Selecionar estratégias ou fatores baseados em rentabilidades passadas, independentemente da maior ou menor extensão da amostra, não ajudará os investidores a obter uma rentabilidade superior. Antes pelo contrário. É mais provável que sejam induzidos em erro”, destaca Arnott. No entanto, descobriram uma correlação que poderá ajudar os investidores no momento de tomar decisões acertadas. Trata-se da relação que existe entre a valorização e a rentabilidade futura dos investimentos. 

“Os modelos que proporcionaram prognósticos mais precisos estavam baseados nas valorizações e não nos retornos. Em vez de convidar os investidores a comprar o que funcionou bem no passado, o que se tornou novamente caro, estes modelos encorajam a comprar o que voltou a ser barato”, revelam. Neste sentido, os quatro modelos vinculados à valorização estudados pelos especialistas proporcionaram previsões que estavam positivamente correlacionadas com as rentabilidades posteriores, melhorando substancialmente os modelos que fazem previsões baseadas no comportamento histórico.

O potencial excesso de rentabilidade desaparece quando os investidores tentam perseguir o fator que está na moda. Alcançam melhores resultados se diversificarem o seu investimento entre distintos estilos e estratégias, dando preferência aquelas que registaram pior comportamento e, consequentemente, estão baratas”. A reversão à média funciona.