“O mercado vai começar a diferenciar os ganhadores dos perdedores”

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Cedida

Como considera a atual evolução dos países da América Latina e quais os países que considera serem o motor da região?

O México está numa trajectória positiva, com uma agenda de reformas agressiva, que deve proporcionar ao país uma melhoria no rating de crédito durante o próximo ano, e também algum crescimento económico.  Esperamos que o crescimento no próximo ano seja de 4%, contrapondo com os 1,9% esperados em 2013. A contribuir para este número pode estar a recuperação industrial norte-americana que tem, naturalmente, repercussões no país. Na verdade, vemos como muito provável um upgrade no rating de crédito (para o nível A), se o México se comportar como o esperado, e se as reformas fiscais e de energia forem aprovadas no próximo ano. Apreciamos estes países que estão a seguir políticas pró-mercado e que têm feito reformas políticas e estruturais. Na nossa perspectiva eles vão ser diferenciando dos demais, e serão recompensados os que terão maiores taxas de crescimento num futuro próximo, como por exemplo o México, a Colômbia, o Peru e o Chile.

Protecionismo ou Liberalismo nos países da América Latina?

Há dois campos dentro da região: o mais pró-mercado/pró-investimento privado (México, Chile, Peru e Colômbia) e um mais protecionista, com políticas mais erráticas e pouco “amigas” dos mercados (no extremo Venezuela, Argentina e Equador, e cada vez mais também o Brasil).

Quais são os sectores para onde se deve olhar mais na América Latina? E no global?

Na América Latina gostamos de sectores mais cíclicos e relacionados com o consumo. Nesta região, que consideramos ter tocado nos mínimos em termos de desaceleração económica, mantém-se contudo uma procura interna forte, com uma classe média robusta. Para além da América Latina, a Bulltick Capital Markets também cobre toda a macroeconomia global que vai desde os EUA à Europa e do Japão à China. A título de exemplo, estamos longos e vemos valor nos mercados de ações japoneses, particularmente nos investimentos cobertos em dólares ou euros. Vemos o iene japonês/dólar americano no fim do ano dentro dos 105. Esperamos que o Japão continue a imprimir moeda de forma muito agressiva (56 mil milhões  de dólares por mês) e que o BCE tente deter a contínua erosão no tamanho de seu balanço patrimonial através da oferta de novas linhas de crédito ao sector bancário. Vemos um risco muito baixo de hard landing na China.  Apesar da falta de informação relativa ao crescimento económico chines no primeiro trimestre deste ano, continuamos a prever 7,8% de crescimento em 2013 o que significa que a China vai adicionar ao PIB mundial cerca de 750 mil milhões de dólaresEsperamos que o euro negoceie a 1,25 dólares em finais de 2013. Prevemos que as moedas da América Latina continuem a valorizar em relação aos níveis atuais até ao final do ano: o dólar/real para 2,1 dólares, o peso colombiano irá valer 1,950 dólares, a moeda mexicana 12,25 dólares e o peso chileno 475 dólares. Mantemos as nossas previsões também para o S&P500, fechando este ano nos 1.775 pontos e em 2014 nos 2.000 pontos.  Os mercados norte-americanos vão continuar a apreciar conduzidos pela múltipla reflexão  (o P/E em 2013 será de 16,1x, enquanto em 2014 14,5x). Achamos que o Japão irá superar todos os mercados em 2013 (FX hedged), apesar da última performance ter sido fraca, continuamos a prever, até ao final do ano, que o mercado de ações mexicano irá atingir os 44.000 pontos e o brasileiro 59.000 pontos.

Considera que o Brasil pode ser um problema num futuro próximo?

No Brasil, notamos uma mistura prejudicial entre as novas políticas nacionais negativas combinadas com as más perspectivas mundiais, que causaram a desaceleração da economia brasileira. Prevemos uma expansão económica no próximo ano de aproximadamente 2,5% com uma elevada possibilidade de descida do rating de crédito, devido a uma elevada inflação e também a uma política fiscal expansionista. Na nossa opinião será um enorme desafio para o Brasil recuperar e manter as taxas de crescimento económico dos anos anteriores (7,5% em 2010 e 4,5% entre 2008 e 2010), apenas com mais estímulos governamentais e sem um acréscimo de reformas estruturais.

O que nos pode dizer sobre o futuro na China?

Como já referido, esperamos que a China cresça 7,8% este ano e no próximo, e depois cresça numa média de 7,5% nos anos seguintes. Isso implicará um aumento importante da procura externa a nível mundial. O país está num processo de mudança na sua fórmula do PIB passando de um foco no investimento e nas exportações para outro que se aproveita mais do crescimento do consumo interno.

Em Portugal os gestores de ativos estão a desinvestir na dívida dos países latino-americanos. O que é que pensa sobre isso? Parece-lhe uma boa decisão?

Esperamos que os títulos do tesouro Americano a 10 anos terminem este ano nos 2,25%, mas que depois se siga uma tendência de crescimento, indo até aos 3,25% no início de 2015, assim que a Fed diminua e finalmente termine as suas compras de ativos mensais. Esperamos que os spreads dos mercados de obrigações emergentes continuem a diminuir, face aos spreads que vemos hoje em dia. Desde o início do ano que temos assistido a um sell-off excessivo neste mercado e que prejudicou estes mercados, embora considere que é uma boa altura para se investir nesses países. O mercado vai começar a diferenciar os “ganhadores” dos “perdedores” entre regiões e vai premiá-los. A América Latina não está em crise e não estamos à espera que uma aconteça, nem vinda da dívida soberana, nem vinda do défice destes países. É no entanto um investimento com algum risco, uma vez que esperamos a subida de taxas de juro do USD em breve. Mas, se se tratar de um investimento bem selecionado e para clientes que gostem de rendimento, parece-nos que existem boas oportunidades nestes mercados.