O investimento ISR é bom para a sociedade, mas.. e para a “carteira”?

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kevin dooley, Flickr, Creative Commons

Quase 60 biliões de dólares em ativos – cerca de 50% do total mundial da base de ativos institucionais – estão geridos atualmente pelos signatários dos Princípios para o Investimento Responsável das Nações Unidas (UN-PRI), código no qual as empresas se comprometem a submeter as suas decisões de investimento a critérios ambientais, sociais e de corporate governance (ASG), para além dos critérios puramente financeiros. 

Contudo, os dados demonstram que a adopção de práticas de investimento responsável entre a comunidade investidora é um processo lento. Segundo um relatório elaborado pela EY, menos de um quarto dos profissionais do investimeto consideram, de forma habitual, informação extra-financeira durante os processos de investimento, e apenas 10% dos profissionais de todo o mundo receberam formação regulamentada sobre como aplicar os critérios ASG na análise de investimentos, revela o CFA Institute.

Desta forma, não é de estranhar que muitos investidores acreditem que estes critérios sejam uma “bonita” questão ética ou moral que, no entanto, vai contra os retornos financeiros das empresas que os adoptam. Mas enganam-se. Um novo estudo desenvolvido pelo Deutsche Bank e pela Universidade de Hamburgo constata que as empresas que investem seguindo determinados critérios socialmente responsáveis geram resultados positivos a curto e a longo prazo. Os autores chegaram a esta conclusão depois de analisarem mais de 2.200 estudos publicados desde os anos setenta: “Depois de levar a cabo a revisão mais ampla realizada até à data sobre a relação entre os critérios ASG e o retorno financeiro corporativo, podemos concluir que a tese a favor do investimento responsável conta com um sólido suporte empírico”, explicam. “Investir seguindo critérios ASG é sempre rentável. Para além disso, destacamos que o impacto positivo dos ASG no retorno financeiro é estável no tempo”.

No entanto, os autores avisam que factores como “o efeito conjunto dos riscos sistémicos e idiossincráticos, as limitações impostas na construção da carteira e os custos de implementação podem distorcer a rentabilidade real fornecida pelos critérios ASG”. Contudo consideram que, “como mínimo, os investidores de fundos que apliquem estes critérios  possam esperar obter resultados similares aos dos fundos de investimento convencionais”, sobretudo tendo em conta que 90% dos estudos analisados não encontram uma relação negativa entre estes critérios e o retorno financeiro, ao passo que uma maioria encontra uma relação positiva.

“A nossa principal conclusão é que os investidores racionais deveriam considerar a importância de se orientaram para um investimento responsável a longo prazo para cumprir com as suas responsabilidades fiduciárias, e conseguirem uma melhor alienação entre os interesses dos investidores e os objetivos da sociedade”, concluem.